Mercado passou a enxergar aceleração da recessão, diz Megale, sobre queda das bolsas

Economista-chefe da XP diz que dado o cenário econômico global, é improvável que o Banco Central aumente a taxa Selic

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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A queda das bolsas na Ásia nesta segunda-feira (5), liderada pelo índice japonês Nikkei, que desabou 12,4%, cria novas expectativas no mercado lá fora e aqui no Brasil.

Caio Megale, economista-chefe da XP, que comandou hoje o Morning Call da XP, disse que dois dados da economia dos Estados Unidos divulgados no final da semana passada foram decisivos para estabelecer um novo cenário global.

Um, foi o resultado do Payroll de julho, que veio bem abaixo do esperado. O outro foi o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria dos Estados Unidos, medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), que também ficou abaixo das expectativas do mercado.

Economia já pode estar em recessão

“Pelo histórico, o mercado de trabalho americano é muito flexível e a recessão quando começa a acontecer, ela acelera muito rapidamente. É isso que o mercado está colocando na conta”, diz Megale.

“Os números correntes ainda não são tão feios (nos EUA), mas a dinâmica antecipa recessão. Tem uma regra de mercado que calcula basicamente quanto é a taxa de desemprego hoje vis a vis à taxa média dos últimos 12 meses. Se ela subiu mais de 0,5 p.p., significa que a economia entrou numa recessão, com tendência de alta mais acelerada do desemprego”, explica ele, sobre o que pode estar acontecendo nos Estados Unidos.

“Quando a gente olha no passado, quando essa regra indica recessão, a economia pode já estar em recessão. Essa é a dúvida que está sobre os analistas de mercado hoje”, complementa.

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Fed errou a mão?

O economista avalia se o Federal Reserve (Fed; banco central americano) não “ficou para trás” e se não deveria ter cortado os juros na reunião da semana passada.

“Aquela visão de que a economia está firme e o Fed não precisava antecipar o movimento, será que não estava errado”, questiona Megale.

“Teve um outro indicador na semana passada que também assustou. Foi o ISM. Esse indicador caiu fortemente para baixo de 50, que é nível de recessão. Ele mostra uma dinâmica que o mercado de manufatura nos Estados Unidos pode estar em recessão”, aponta.

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Caio Megale avalia, no entanto, que quando se olha para os resultados econômicos atuais, ainda não aparece uma economia em recessão. “Não se vê uma economia tão fraca, mas os mercados estão em parte antecipando este movimento”, afirma.

Movimento no Japão não é só dados dos EUA

Para ele, o movimento da bolsa japonesa, que caiu mais de 12%, dificilmente pode ser explicado apenas pelo risco de recessão nos EUA.

O economista ressalta que, na semana passada, o Banco Central do Japão subiu a taxa de juros e isso provocou movimento de venda de títulos japoneses e compra de ativos de mais risco. “Mudanças da postura da política monetária do Japão podem também estar por trás desse movimento lá”, crê.

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Influência no Brasil

Ele destaca que o indicador mais importante no momento é a taxa de juros de 10 anos nos Estados Unidos. “A gente sempre diz aqui que é a taxa básica dos mercados. É a ‘mãe’ de todas as curvas de juros. Ela já tinha caído na sexta, e agora está caindo fortemente. Isso, para um país emergente, seria bom, mas não numa dinâmica de recessão. Precisa ver como vai evoluir”, diz.

Megale também aponta preocupação com as commodities, que também estão caindo de forma significativa nesta segunda.

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Commodities afetam contas públicas

“O petróleo está a US$ 75 o Brent, que é o que importa para nós, mas chegou a bater US$ 90 pouco tempo atrás. Nós exportamos muito petróleo. E intensificou muito (a exportação) nos últimos tempos e boa parte da arrecadação pública é fiada em alta de preço de commodities. Se o petróleo continuar caindo, isso pode afetar tanto a balança comercial como as contas públicas brasileiras”, ressalta.

“Com os juros para baixo nos Estados Unidos, o real poderia se apreciar, mas com movimento de aversão a risco e queda das commodities, isso tende a ir para outro lado, tende a continuar a ir para a dinâmica de depreciação que vimos nas últimas semanas. As moedas emergentes estão caindo”, acrescenta.

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Ele acha que nesse cenário difícil, de ambiente de recessão global, queda de preço de commodities e queda de juros nos Estados Unidos, o Banco Central do Brasil não deve elevar a taxa de juros, como alguns economistas chegaram a apostar, mas lembrou que é preciso avaliar a dinâmica da taxa de câmbio nos próximos dias.