Risco de recessão nos EUA eleva apostas de corte de juros mais agressivo

Pela ferramenta de monitoramento do CME Group, a probabilidade de redução dos juros em 50 pontos-base em setembro aumentou de 30,5% logo antes do payroll para 73,5%

Roberto de Lira

O prédio do Federal Reserve em Washington, EUA (Foto: Leah Millis/Reuters)
O prédio do Federal Reserve em Washington, EUA (Foto: Leah Millis/Reuters)

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O rápido esfriamento do mercado de trabalho nos Estados Unidos, comprovado nesta sexta-feira no relatório da folha de pagamentos dos setores não-agrícolas, o famoso “payroll“, elevou a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não só iniciar o ciclo de corte de juros em setembro, mas também de praticar uma redução maior que a prevista anteriormente. Economistas e analistas de mercado já começam a acionar alertas de uma possível recessão nos EUA.

Segundo ferramenta de monitoramento do CME Group, a probabilidade de redução dos juros em 50 pontos-base (pb) – ao nível de 4,75% a 5,00% – em setembro aumentou de 30,5% logo antes do dado para 73,5% por volta das 12 horas (de Brasília), se tornando majoritária. Isso colocou em segundo lugar a chance de corte de 25 pb (26,5%).

Segundo Andressa Durão, economista do ASA, a surpresa nos dados de emprego de julho acendem uma luz amarela em relação a uma possível recessão nos EUA. Ela diz que a variável mais importante hoje foi a taxa de desemprego, que subiu 0,2 ponto percentual em relação a junho, para 4,3%, nível que aumentou muito as preocupações do mercado com uma recessão.

Ela pondera que, por enquanto, a totalidade dos dados não sugere que a economia americana esteja em recessão. “Se os dados de emprego e atividade corroborarem um cenário de maior fraqueza da economia até a reunião do Fomc de setembro, no sentido de uma recessão e não de uma normalização, o Fed agirá rapidamente com o ciclo de flexibilização”, comenta, destacando que, até a reunião de setembro, que acontece no dia 18, havreá apenas mais um dado de emprego, no dia 6 de setembro.

Já Danilo Igliori economista chefe da Nomad, opina que o resultado de reforçar a percepção de um enfraquecimento mais evidente no mercado de trabalho. Isso após a sequência das divulgações ontem de números fracos nas encomendas da indústria e de maiores pedidos de seguro desemprego.

“O relatório do payroll destaca que os empregos continuaram a crescer nos setores de serviços de saúde, construção, transportes e armazenamento. Houve, no entanto, redução de posições no setor de informação”, detalha.

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Igliori comenta ainda que, desde ontem, os mercados reagem negativamente, amplificando o clamor daqueles que defendem que o Fomc já deveria ter iniciado o ciclo de cortes nas taxas de juros. “A ansiedade até a próxima reunião promete ser alta e divergências serão formadas nas apostas sobre intensidade e velocidade nos ajustes futuros de política monetária. A única certeza é que a volatilidade continuará a comandar o jogo”, antecipa.

Na opinião, de Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o temor de uma recessão dos Estados Unidos, ou de uma desaceleração muito intensa, se intensificaram ontem, depois que os pedidos semanais de auxílio-desemprego bateram o maior nível em praticamente um ano e que o PMI industrial dos Estados Unidos também veio mais fraco que o esperado.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também vê nos dados do payroll uma indicação de que a tendência de desaceleração do mercado de trabalho apontada nos últimos meses está se confirmando.

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“Na nossa visão, os números mais fracos do mercado de trabalho e a desaceleração da inflação nos EUA aumentam as chances de o Fed iniciar o ciclo de cortes de juros já na reunião de setembro.”

(Com Estadão Conteúdo)