Ismail Haniyeh: o que se sabe até agora sobre assassinato de um dos líderes do Hamas

Morte no Irã elevou o risco de uma guerra regional e afeta diretamente as negociações entre Israel e Hamas por um cessar-fogo em Gaza

Equipe InfoMoney

FOTO DE ARQUIVO: Ismail Haniyeh, primeiro-ministro do governo do Hamas em Gaza, fala com seus apoiadores durante um comício do Hamas marcando o aniversário da morte de seus líderes mortos por Israel, na Cidade de Gaza, em 23 de março de 2014. REUTERS/Mohammed Salem/Foto de Arquivo
FOTO DE ARQUIVO: Ismail Haniyeh, primeiro-ministro do governo do Hamas em Gaza, fala com seus apoiadores durante um comício do Hamas marcando o aniversário da morte de seus líderes mortos por Israel, na Cidade de Gaza, em 23 de março de 2014. REUTERS/Mohammed Salem/Foto de Arquivo

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O chefe do departamento político do Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto por um ataque aéreo realizado em Teerã, capital do Irã, disse o grupo em um comunicado nesta quarta-feira (31).

O assassinato acirrou ainda mais as tensões no Oriente Médio, aumentando os riscos de uma guerra regional, além de afetar diretamente as negociações entre Israel e Hamas por um cessar-fogo no conflito na Faixa de Gaza.

Confira o que se sabe até agora sobre a morte de Ismail Haniyeh:

O que aconteceu?

Haniyeh foi morto enquanto estava em Teerã com outros membros seniores do “eixo de resistência” do Irã, que inclui o Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen, para participar da posse do recém-eleito presidente iraniano. Ele estava hospedado em uma residência no norte da capital do país.

Durante a terça-feira, Haniyeh esteve na cerimônia de posse Masud Pezeshkian. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que também participou da cerimônia em Teerã representando o governo brasileiro, ficou a poucos metros do líder do Hamas:

(Reprodução/X)

Por volta das 2h da manhã, horário local, um “projétil guiado aéreo” atingiu o local onde Haniyeh estava hospedado, de acordo com a agência estatal iraniana IRNA, que informou que seu guarda-costas também foi morto.

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Um palestino carrega uma foto do falecido líder do Hamas, Ismail Haniyeh, que foi morto no Irã, durante uma marcha para condenar seu assassinato, no campo de refugiados palestinos de Burj al-Barajneh em Beirute, Líbano, em 31 de julho de 2024. REUTERS/Mohamed Azakir

Quem é o responsável pelo ataque?

O Hamas condenou o que chamou de “ataque sionista” e uma “grave escalada” em seu conflito de décadas com Israel.

Uma autoridade do Hamas disse que o grupo está “pronto para pagar vários preços” e que o “momento da verdade chegou”, acrescentando: “Este assassinato não atingirá os objetivos da ocupação e não levará o Hamas a se render”.

Questionado sobre a morte de Haniyeh, o exército israelense disse que “não responde a relatos na mídia estrangeira”.

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Apesar de Israel não ter se pronunciado, analistas internacionais dizem que esse ataque pode ter seguido o mesmo padrão de uma operação israelense que teve como alvo as defesas aéreas iranianas ao redor da instalação nuclear em Natanz, em 19 de abril.

O principal líder do grupo palestino Hamas, Ismail Haniyeh, participa da cerimônia de posse do novo presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, no parlamento em Teerã, Irã, em 30 de julho de 2024. Majid Asgaripour/WANA (West Asia News Agency) via REUTERS ATENÇÃO EDITORES – ESTA IMAGEM FOI FORNECIDA POR UM TERCEIRO. IMAGENS TPX DO DIA

Quem era Ismail Haniyeh?

Nascido em um campo de refugiados de Gaza, em 1963, Ismail Haniyeh foi um membro chave do Hamas desde o início do grupo.

Em 2003, juntamente com o fundador do Hamas, ele sobreviveu a uma tentativa de assassinato por Israel. Três anos depois, ele foi primeiro-ministro palestino depois que o Hamas venceu as eleições — mas uma violenta divisão entre o Hamas e a outra facção palestina principal, Fatah, ocorreu um ano depois.

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Considerado um pragmático, Haniyeh era conhecido por manter boas relações com outros grupos palestinos rivais. Ele foi eleito chefe do escritório político do Hamas em 2017.

Nos últimos anos, ele viveu no exílio, se deslocando entre a Turquia e o Catar. Ele desempenhou um papel fundamental nas negociações de um acordo de cessar-fogo em Gaza.

Apoiadores do partido religioso e político Jamaat-e-Islami (JI) se reúnem para participar das orações fúnebres em ausência após o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, no Irã, em Karachi, Paquistão, em 31 de julho de 2024. REUTERS/Akhtar Soomro

Qual foi a repercussão?

Uma das principiais autoridades do Hamas, Mousa Abu Marzouq, disse que o assassinato “é um ato covarde e não ficará sem resposta.”

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O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse que Israel “preparou o terreno para uma punição severa para si mesmo” e que o Irã tinha o “dever de buscar vingança por seu sangue”, já que ele foi morto em solo iraniano.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que os EUA “não estavam cientes ou envolvidos” no assassinato, e que era “muito difícil especular” como isso impactaria a guerra de Israel contra o Hamas.

O primeiro-ministro Mohammed bin Abdulrahman al-Thani do Catar, que está mediando as negociações de cessar-fogo, escreveu no X: “Como a mediação pode ter sucesso quando uma das partes assassina o negociador do outro lado?”

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O gabinete do primeiro-ministro israelense não comentou o assassinato.

Como fica a situação da guerra em Gaza?

Até a semana passada, autoridades diziam que as negociações entre Israel e Hamas por uma trégua estavam progredindo. Mas a morte de Haniyeh deixa a perspectiva de um acordo completamente incerta.

O Catar, que desempenhou um papel central na mediação das negociações entre Israel e Hamas, condenou o assassinato de Haniyeh, chamando-o de “um crime horrível e uma escalada perigosa.”

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que o governo americano, que também tem mediado as negociações junto com o Catar e o Egito, “trabalharia arduamente para garantir que estamos fazendo coisas para ajudar a diminuir a temperatura e resolver questões por meios diplomáticos”.