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A pesquisa Genial/Quaest para as eleições municipais em São Paulo, divulgada nesta terça-feira (30), mostra um cenário completamente aberto para a disputa pelo Poder Executivo na capital mais populosa do País. A cerca de dois meses para a corrida às urnas, um dos poucos sinais que ficam para o pontapé inicial do pleito com o “empate triplo” apontado é a probabilidade elevada de segundo turno.
Segundo o levantamento, realizado entre os dias 25 e 28 de julho, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que deve disputar a reeleição, aparece tecnicamente empatado com o apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) em praticamente todas as simulações de primeiro turno feitas, com uma vantagem numérica que varia de 1 a 3 pontos percentuais.
A única situação em que Nunes aparece com saldo superior a 6,2 pontos percentuais (ou seja, acima do dobro da margem máxima de erro) é quando são excluídas as possíveis candidaturas de Datena, do coach e influenciador Pablo Marçal (PRTB) e do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil). Neste caso, ele avança de 20% (registrado na simulação com mais candidaturas testadas) para 33%. Salto muito superior ao de Boulos no mesmo comparativo: de 19% para 24%.
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“A pesquisa mostrou que a eleição de São Paulo está ficando mais imprevisível”, observa Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores. “Até a consolidação e crescimento da candidatura de Datena, parecia bastante provável que Nunes e Boulos se enfrentariam no segundo turno. Neste momento é difícil prever o que ocorrerá. A eleição paulistana, a que costuma ter maior repercussão e onde [o presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] e [Jair] Bolsonaro estão investindo seus capitais políticos, está aberta.”
A comparação dos cenários testados pela pesquisa e olhar mais atento para os dados segmentados confirmam hipóteses sobre os efeitos da possível fragmentação no campo da direita, levantadas por analistas políticos desde o início da disputa: com mais opções no cardápio, cresce o risco para os planos de Ricardo Nunes − que segue apontado como candidato bastante competitivo (ou até favorito).
A título de exemplo, quando todos os principais nomes são testados juntos, Nunes tem 21% dos votos masculinos, apenas 11% entre os mais jovens (16 a 34 anos), 18% entre os menos escolarizados (até o Ensino Fundamental) e 21% entre aqueles com renda mais baixa (até 2 salários mínimos). Agora, sem Datena e Kataguiri, ele cresce para 26% (+5 p.p.) no mesmo recorte de gênero, 17% (+6 p.p.) por idade, 27% (+9 p.p.) por nível de educação, e 29% (+8 p.p.) por renda.
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Os dois únicos candidatos que oscilaram positivamente no levantamento foram justamente Datena (de 17% em junho para 19% agora) e Marçal (de 10% para 12%). O primeiro apresentou saltos expressivos entre os mais jovens (+6 p.p.), com menor escolaridade (+12 p.p.) e entre eleitores que declararam voto em Lula em 2022 (+4 p.p.). Já o segundo cresceu sobretudo entre as mulheres (+3 p.p.), jovens (+4 p.p.), com Ensino Médio completo ou incompleto (+3 p.p.) e renda familiar mensal entre 2 e 4 salários mínimos (+8 p.p.).
Como comparação, parte importante da oscilação negativa de Nunes capturada pela pesquisa se deve ao recuo entre homens (-2 p.p.), jovens (-3 p.p.), com baixa (-6 p.p.) e média escolaridade (-5 p.p.) e renda familiar mensal de até 2 salários mínimos (-3 p.p.) ou entre 2 e 4 salários (-7 p.p.). O que explicita o cenário de possível migração de votos.
“O crescimento de Datena está muito ligado à exposição que ele teve”, pondera o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice. Corroboram com a tese o destaque recebido pelo jornalista na imprensa, com entrevistas e a conturbada confirmação de sua candidatura em convenção nacional tucana.
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“Por outro lado, Datena aparentemente tem fôlego curto, porque tem 48% de rejeição. É o candidato mais rejeitado”, lembra o especialista.
Segundo a pesquisa Genial/Quaest, Datena é o candidato mais conhecido pelos eleitores paulistanos − 90%, contra 77% de Nunes e 76% de Boulos. Mas também o mais rejeitado, com 48% das indicações nesse sentido − 12 p.p. acima do atual prefeito e 8 p.p. a mais do que o parlamentar de esquerda.
Na prática, é o famoso “piso alto e teto elevado”, que pode minar a viabilidade de uma candidatura. “Ele tem números bons para a largada, mas a rejeição é um obstáculo”, explica Borenstein.
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Outra notícia ruim para Datena consiste no fato de 70% dos eleitores que hoje dizem que votariam nele para prefeito admitem que podem mudar de ideia. É o percentual mais elevado entre os nomes testados − nos casos de Nunes, Boulos e Marçal, são 51%, 48% e 57%, respectivamente.
Tais fatores, em tese, poderiam pressionar Datena a, mais uma vez, desistir da candidatura − hipótese que se tornou objeto de disputa no ninho tucano e já foi admitida pelo próprio apresentador. Mas este não é o cenário base de Borenstein, em razão da elevada pressão da cúpula do partido por uma candidatura própria.
Do lado de Ricardo Nunes, as dificuldades enfrentadas pelo principal adversário em outro campo ideológico, Guilherme Boulos, são as boas notícias da pesquisa. No cenário com mais candidatos, o parlamentar perdeu terreno entre as mulheres (de 23% para 19%), entre eleitores com idade de 35 a 59 anos (de 23% para 19%) e com renda familiar de 4 a 7 salários mínimos (de 27% para 23%), além dos católicos (de 21% para 17%).
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Além disso, a elevada participação de eleitores que declaram voto em Bolsonaro nas eleições de 2022 reforça o potencial para transferências de apoio ao atual prefeito em possível segundo turno. Segundo o levantamento, 15% deste grupo votaria em Datena se a eleição fosse hoje. Outros 27%, em Pablo Marçal. O que indicaria grandes dificuldades para Boulos crescer em eventual votação de 27 de outubro.