E se Petrobras comprar bloco na Namíbia: oportunidade ou só pressão para dividendos?

Estatal fez uma oferta não vinculante para comprar uma participação significante no bloco PEL-83 da Galp na Namíbia

Felipe Moreira

Foto: Reuters
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A Petrobras (PETR4) fez uma oferta não vinculante para adquirir uma participação significante no bloco PEL-83 da Galp na Namíbia, segundo afirmou Sylvia dos Anjos, diretora de Exploração e Produção da estatal, em entrevista para a Reuters na última sexta-feira (26). Se aceita, a oferta tornaria a estatal a operadora do campo de petróleo e gás de Mopane, que possui uma estimativa de 10 bilhões de barris equivalentes. O artigo menciona que o campo poderia valer US$ 10 bilhões.

Apesar de reconhecer o investimento no segmento de Exploração & Produção como positivo, a Genial Investimentos considera o evento como neutro para petrolífera, uma vez que a precificação de US$ 4 por barril não desenvolvido “não parece uma barganha”.

A Genial também comenta que US$ 4 bilhões é um valor relevante e pode pressionar o pagamento de dividendos da estatal.

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A XP Investimentos avalia a notícia como neutra, devido a incerteza se a oferta da Petrobras prevalecerá, uma vez que várias outras empresas fizeram ofertas pelo ativo.

Por outro lado, a XP disse receber com satisfação a alocação de capital da petrolífera para o upstream (exploração e produção) e reconhece que a companhia é uma das melhores operadoras de águas profundas do mundo e que a Namíbia offshore é uma nova e prolífica fronteira exploratória. No entanto, analistas disseram ser menos construtivos em relação à diversificação da Petrobras para fora de seus principais ativos no Brasil. A Galp possui uma participação de 80% no campo e, segundo informações, está procurando vender uma participação de 40% no ativo.

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Na opinião da XP, o valor de US$ 10 bilhões parece um valuation relativamente bem precificado, na extremidade superior da faixa de US$ 3 a US$ 4 por barril não desenvolvido, que os ativos offshore de alta qualidade normalmente garantem, assumindo um fator de recuperação de 20% a 25%.

O BTG Pactual apontou análises de sensibilidade sobre quanto o campo poderia custar com base em diferentes múltiplos de entrada e fatores de recuperação. “Assumindo um fator de recuperação de 25% e um múltiplo de entrada de 4,0 dólares EV [valor da empresa]/boe (1P), uma participação de 40% na Mopane poderia custar cerca de US$ 4 billhões. A Petrobras atualmente é negociada a US$ 14/1P, portanto, este cenário muito simplista sugere uma oportunidade significativa de criação de valor para a empresa”, pondera o banco.

Já o Bradesco BBI acredita que a reação do mercado seria negativa ao investimento na Namíbia, pois o movimento obviamente removeria dividendos de curto prazo da tese de investimento.

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O BBI ainda comenta que aumentar a produção fora do Brasil não ajuda as contas fiscais brasileiras, o que é difícil justificar. Segundo o relatório, o que poderia justificar seria a Petrobras conhecer melhor a Bacia da Namíbia para explorar melhor a Bacia de Pelotas no Brasil (que era contígua à Namíbia nos tempos da Pangeia). No entanto, o banco acredita que a Petrobras não precisa comprar uma grande posição de operadora e comprometer capital futuro significativo para entender melhor a Bacia de Pelotas.

Embora a reportagem mencione US$ 10 bilhões em potencial, neste estágio, o BBI acredita que a avaliação seria muito abaixo disso, pois a descoberta foi muito recente e não tem reservas declaradas. Os recursos contingentes tendem a ser negociados não mais do que US$ 1 a US$ 3 barril de óleo equivalente (boe).

Embora a descoberta tenha o potencial de 10 bilhões de boe de petróleo no local, os fatores de recuperação no offshore brasileiro tendem a não ser mais do que 20% a 30%; portanto, isso significa que Mopane poderia acumular, após vários anos, não mais do que 2 a 3 bilhões de barris em reservas.

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De acordo com cáluclos do BBI, se a Petrobras vencer a oferta de 40%, isso significa que a empresa precisaria desembolsar cerca de US$ 1,65 bilhão nessa aquisição (possivelmente em parcelas diferentes).

O BBI acrescenta que já removeu US$ 2,5 bilhões em acordos e aquisições do CARF do fluxo de caixa ao acionista em 2024, para representar os US$ 11 bilhões de capex “em avaliação” aprovados no último Plano Estratégico da empresa. Mesmo fazendo isso, o banco espera que a Petrobras poderia entregar um dividend yield de 7% a 8% até o final deste ano e outros 12% em 2025. Portanto, a tese de investimento de retorno total positivo ainda estaria em vigor mesmo se a estatal fosse declarada vencedora na Namíbia. O BBI mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de R$ 47.