Ricardo Nunes: quem é o prefeito que tentará o segundo mandato em São Paulo

Obras emergenciais e contratos polêmicos tornaram Nunes alvo frequente da oposição

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição (Foto: Reprodução/ Instagram)
Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo (SP) e candidato à reeleição (Foto: Reprodução/ Instagram)
Nome completo:Ricardo Luis Reis Nunes 
Data de nascimento:13 de novembro de 1967
Local de nascimento:São Paulo, capital
Ocupação:Empresário e atual prefeito de São Paulo

Em maio de 2021, quando assumiu a Prefeitura de São Paulo por ocasião da morte de Bruno Covas, o então vice-prefeito Ricardo Nunes tinha menos de dez anos de vida pública.

O empresário e líder comunitário da zona sul da capital paulista começou a se tornar conhecido na política com o apoio do MDB e de setores da Igreja Católica. Com a desistência de Datena na eleição de novembro de 2020, Nunes, que era vereador e presidente municipal do MDB, foi o nome escolhido para substituí-lo na chapa como vice de Covas.

Discreto, virou alvo da oposição quando vieram à tona uma denúncia de violência doméstica contra ele e um possível favorecimento de sua empresa em contrato junto à Prefeitura da capital. Embora tenha negado as acusações, passou a acompanhar cada vez menos Bruno Covas nos eventos da campanha eleitoral de 2020.

Ricardo Nunes concorrerá ao segundo mandato como prefeito da capital paulista nas eleições de outubro de 2024.

Quem é Ricardo Nunes

Ricardo Luis Reis Nunes é um empresário e político nascido em 13 de novembro de 1967 em São Paulo, capital. É casado com Regina Carnovale Nunes, com quem tem três filhos.

Nunes começou a estudar Direito na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) mas não concluiu o curso. Começou sua vida de empresário com a criação do jornal Hora de Ação, voltado à notícias sobre a zona sul da capital, local que viria a ser o seu principal reduto eleitoral.

Mas a construção do patrimônio pessoal veio do controle de pragas e saúde ambiental. Em 1997, fundou a empresa Nikkey, especializada no setor, especialmente na desinfecção de navios brasileiros nos portos.Com expertise no setor, o empresário fundou a Associação de Empresas de Controle de Pragas de São Paulo (Adesp), e a Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário e Quarentenário (Abrafit). 

Como líder empresarial, Nunes também presidiu a Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo (Aesul).

Atuação política

Aos 18 anos, Ricardo Nunes filiou-se ao MDB, mas só viria a ser eleito vereador anos depois, em 2012. Na ocasião, fez parte da base governista do então prefeito Fernando Haddad (PT).

Conservador e membro da bancada religiosa da Câmara, Ricardo Nunes foi um dos principais defensores da anistia aos templos religiosos irregulares. Além disso, sempre se posicionou contra o que conservadores classificam como “ideologia de gênero”, termo utilizado para criticar a abordagem de diversidade de gênero e sexualidade nas escolas. 

Em 2015, foi um dos principais articuladores da modificação do Plano de Educação de São Paulo, que excluiu menções à diversidade sexual e à igualdade de gêneros. Naquele ano, em uma sessão da Câmara, afirmou exaltado: “Eu sou pela família, gênero não”.

Nunes também foi coautor do projeto de lei que pretendia implementar o “Escola sem Partido”. O PL, criado em 2014 e que acabou vetado na Câmara, proibia que se falasse em sala de aula sobre temas ligados à ideologia política e partidária, e propunha que valores familiares e religiosos fossem incluídos nas diretrizes da educação básica.

Como vereador, participou das comissões parlamentares de inquérito da Sonegação Tributária e do Theatro Municipal. A primeira aplicou multas bilionárias a bancos e ajudou a recuperar R$ 1,2 bilhão em tributos não pagos. A segunda, identificou um rombo de R$ 15 milhões nos cofres públicos relativos a desvios de dinheiro.

Em 2016, foi reeleito vereador e passou a apoiar João Dória (PSDB), que venceu a disputa com Haddad pela Prefeitura da capital. Bruno Covas era o vice da chapa, e assumiu como prefeito quando Dória deixou o cargo para se candidatar ao Governo do Estado.

Em 2020, foi a vez de Bruno Covas disputar a eleição para o Executivo Municipal, e Nunes contou com o apoio de Dória como vice do tucano.

Família 

Em fevereiro de 2011, Regina Carnovale denunciou Nunes na 6ª Delegacia de Defesa da  Mulher de São Paulo, acusando-o de violência doméstica, injúria e ameaça.

O político afirmou à Folha e ao UOL que o boletim de ocorrência foi “forjado”. No entanto, em nota do dia 15 de julho deste ano, a Secretaria de Segurança do estado (SSP) confirmou a veracidade do documento à Folha.

Segundo a Polícia Civil, era preciso que Regina (ou sua defesa) tivessem autorizado a instauração de um inquérito policial na ocasião. Como isso não aconteceu, o caso não foi adiante.

O casal chegou a ficar separado por algum tempo, mas reatou, e hoje Regina também nega que tenha ocorrido a agressão. “Não sei se apagou da minha memória porque eu estava muito nervosa”, disse ela ao Estadão.

Acusações de irregularidades

Em 2019, a Nikkey recebeu R$ 50 mil de creches conveniadas com a prefeitura para prestar serviços de dedetização. Quem controlava os estabelecimentos era a Associação Amigos da Criança e do Adolescente (Acria), contratada pelo município.

Na época, o serviço foi realizado a um preço muito inferior ao que o mercado praticava. Questionado, Nunes disse que a Nikkey cobrou preço de custo para “ajudar as creches”.

Outro caso de suspeita de irregularidades envolvendo creches foi revelado pela Folha em março deste ano. A Prefeitura de São Paulo pagou ìndenização de R$ 7,1 milhões para a Sociedade Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), entidade que administra 15 creches na capital e da qual Ricardo Nunes já foi voluntário.

Segundo apuração da Folha, o acordo foi firmado em agosto de 2023, quando a Justiça já havia isentado a prefeitura de ressarcir à entidade a diferença de aluguéis entre 2019 e 2023.

Em 5 de junho, o Ministério Público instaurou inquérito para apurar possíveis irregularidades nos pagamentos feitos à Sobei pela Prefeitura de São Paulo. Em nota enviada à Folha um dia depois, a Prefeitura afirmou não ter sido acionada pelo MP.

A polêmica das obras emergenciais

Uma apuração feita pelo portal UOL em março deste ano mostrou que a prefeitura de São Paulo contratou mais de 300 obras emergenciais de 2021 a 2023. Segundo a mesma reportagem, ao menos 223 contratos têm indícios de irregularidades, como superfaturamento e combinação de preços entre empresas e concorrentes.

A lei permite a contratação de obras sem licitação nos casos em situações de risco para a população, como contenção de encostas, recuperação de pontes e viadutos, intervenções nas margens de rios, e assim por diante. Mas o que chama atenção no caso da atual gestão da capital paulista é o descolamento dos números em relação às prefeituras anteriores. 

Outro levantamento do portal UOL – esse, de novembro de 2023 – mostrou que Ricardo Nunes havia gastado quase 300% a mais em obras emergenciais do que o somatório dos quatro prefeitos anteriores. Em 2020, ainda na gestão de Bruno Covas, os gastos com essas obras somaram R$ 80 milhões, e saltaram para R$ 2,87 bilhões em dois anos, depois de Nunes ter assumido como prefeito.

A disparada dos gastos acendeu um alerta no Tribunal de Contas do Município (TCM). Segundo parecer da auditoria do órgão, ao qual o UOL teve acesso, a situação foi classificada pelos técnicos como “emergência fabricada”, e não real. O parecer afirma ainda que a prefeitura não agiu com planejamento suficiente para resolver problemas históricos da cidade em cerca de 90% das obras analisadas.

Tudo isso levou o Ministério Público de São Paulo a abrir investigações em janeiro de 2023. Até maio deste ano, havia 57 processos abertos, mas nenhuma ação tinha sido protocolada Em 18 obras vistoriadas pessoalmente, o TCM apontou superfaturamento de R$ 80 milhões. Outras irregularidades também foram verificadas, como o descumprimento do prazo de 180 dias para conclusão em mais da metade das obras e contratadas com vínculos societários entre si.