O que está acontecendo com o investimento em capital fixo no Brasil?

A resposta é relativamente simples: temos um conjunto de fatores que não geram conforto para o investimento em capital fixo – a não ser aqueles com maior retorno

Luiz Fernando Figueiredo

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O nosso país tem mantido o volume de investimentos em capital fixo abaixo da taxa de depreciação de nossos ativos.

Isso quer dizer que, gradualmente, os ativos estão envelhecendo – ou seja, a renovação de ativos através do investimento não é suficiente para mantê-los atualizados.

A outra consequência do baixo investimento é conseguir crescer menos de maneira sustentável. No final, menor investimento resulta em um PIB potencial mais baixo, que é uma medida de crescimento estrutural de longo prazo.

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Mas o que precisamos nos perguntar é: “por que o investimento no Brasil é baixo?”.

A resposta é relativamente simples: temos um conjunto de fatores que não geram conforto para o investimento em capital fixo – a não ser aqueles com maior retorno.

E por que os investidores requerem tanto receber mais retorno do que outros países emergentes semelhantes ao Brasil?

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O primeiro fator é que o risco no Brasil tem se mostrado maior – e tem crescido recentemente. Esses riscos a que estamos nos referindo têm, principalmente a ver, com a ampliação da incerteza jurídica.

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) reformou um entendimento tributário e incluiu na decisão retroagir vários anos. Ou seja: um entendimento da Suprema Corte pode mudar e, junto com ele, o passado pode ser reformado.

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Diante deste tipo de risco, os investidores não conseguem avaliar os investimentos ou, pelo menos, não conseguem planejar fluxos de caixa com segurança. Assim, é necessária uma taxa de retorno elevada para cobrir esse tipo de risco.

Outro risco difícil de mensurar é o de deterioração do ambiente macroeconômico, em que a dívida pública cresce de maneira preocupante. O Brasil tem a maior dívida pública bruta com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) dentre seus pares e, com o rápido crescimento que estamos testemunhando, ela pode chegar a um montante que gera muito receio de sua sustentabilidade.

Além dos riscos acima, temos também o aumento da interferência do governo nas estatais e até em empresas privadas, como o evento que aconteceu recentemente na Vale (VALE3). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, há algumas semanas, que “as empresas privadas devem estar alinhadas as visões do governo federal”.

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Do outro lado vemos uma taxa de juros muito elevada. O Banco Central teve de parar a queda da Selic em 10,5% ao ano, taxa muito alta para ser compatível com a maior parte dos investimentos em capital fixo.

Além de todo esse cenário, somos um país que cresce pouco, em comparação aos emergentes. O nosso crescimento potencial/estrutural não é superior a 1,5%/2%.

Se não melhorarmos muitos riscos e custos Brasil, logo teremos uma economia sucateada e sem a menor chance de melhorar a renda e a vida de nossos cidadãos ao longo do tempo.

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Luiz Fernando Figueiredo é presidente do Conselho de Administração da JiveMauá

Este artigo tem a co-autoria de Italo Faviano, economista da Buysidebrasil

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Luiz Fernando Figueiredo

Presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.