Qual é o impacto da alta do dólar na inflação brasileira?

Em uma cenário base, a cada 5% de alta do dólar, a partir dos cinco reais, há potencial de incremento de 20 pontos-base na inflação anual

Vitor Azevedo

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A disparada do dólar, que chegou nesta semana aos R$ 5,70, acendeu o alerta do governo em relação aos impactos do aumento do valor da moeda norte-americana nos preços internos, medidos pelo IPCA, indicador oficial da inflação, usado, por exemplo, pelo Banco Central, para definição da taxa de juros.

Tanto que circularam informações de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria alertado diretamente o presidente Lula de que, caso não parasse com os ataques à autoridade monetária, especialmente o presidente do BC, Roberto Campos Neto, o dólar seguiria subindo e, em breve, começaria a causar impacto na inflação.

Junto com o compromisso de cortes de gastos, anunciado por Haddad, o presidente Lula, na reta final dessa semana, também poupou o BC e Campos Neto de novas críticas.

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Como resultado, o dólar passou a cair e hoje vale R$ 5,47 – 4% a menos em relação ao pico desta semana. No começo do ano, porém, a moeda valia R$ 4,80.

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Impacto do dólar na inflação

Analistas mencionam que usam como cenário base que a cada 5% de desvalorização do real a partir dos R$ 5 (dólar 10 centavos mais caro) teria um potencial de alta de 20 pontos-base na inflação anual. Saindo de R$ 5,20 em abril para R$ 5,70, por exemplo, seria uma alta de 100 pontos-base no IPCA (saindo de uma projeção de 4% para 5%, por exemplo).

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“Uma alta do dólar teria um impacto no combustível, alimentos, indústria e importados. Tudo é negociado em dólar. Mas o impacto atual é de difícil mensuração, dado a tentativa do governo de ‘apagar o fogo’. A continuidade do dólar em patamares altos certamente impactaria não só na desancoragem das expectativas de inflação, como na própria inflação e as curvas de juros”, fala Jason Vieira, economista da MoneYou.

O dólar impacta a inflação de um país devido à sua influência nos preços das importações e exportações. Quando o valor do dólar aumenta em relação à moeda local, os produtos importados tornam-se mais caros, contribuindo para o aumento geral dos preços.

IPCA no Focus

O último boletim Focus, apesar da forte alta do dólar, no entanto, continuou apontando o IPCA de 2024 em 4%, com uma alta de cerca de 25 pontos-base (mas as projeções vêm em uma sequência de nove cálculos para cima). Parte disso se dá pelo fato, justamente, de economistas estarem esperando para ver por onde o preço do dólar se consolidará antes de alterarem suas projeções para a variação de preços. 

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“O impacto, no final das contas, pode ser mais limitado, por conta do período mais curto em patamares elevados. Essa foi a preocupação do Haddad”, diz Jason. 

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, lembra que o avanço da moeda americana, que se deu principalmente por conta de falas do presidente da República (sinalizando aumento de gastos e atacando o mercado financeiro), chegou a criar a visão de que a Selic poderia voltar a aumentar ainda em 2024, o que foi precificado pela curva de juros.

“Agora, nos últimos dias, o Lula cessou as críticas ao Banco Central e fez vários comentários dizendo da importância de se cumprir o arcabouço fiscal. Fora que autorizou o Haddad a anunciar um corte de gastos de R$ 26 bilhões”, contextualiza o economista. 

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Para ele, se o câmbio voltar a operar mais próximo dos R$ 5,00, o que o economista acha “perfeitamente possível”, o cenário de alta da inflação deve arrefecer — bem como o de alta dos juros. No entanto, a alta momentânea, contudo, deve trazer algum leve impacto.