IPCA+6,5% ou “dólar+5%”: qual paga mais?

Títulos públicos brasileiros têm taxas mais altas, mas disparada do dólar em 2024 embaralhou a conta para o investidor brasileiro

Paulo Barros

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Os títulos do Tesouro Direto passam por disparada nas taxas nos últimos dias, e um dos mais recomendados por especialistas não para de melhorar a remuneração: o Tesouro IPCA+ já oferece 6,50% além da inflação, alimentado pela turbulência política e o receio do mercado a respeito das contas públicas. Mas os papéis brasileiros não estão aparecendo sozinhos nessa potencial janela de oportunidade.

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Atualmente, em meio a um momento delicado na economia dos Estados Unidos, a renda fixa em dólar também está atrativa, com títulos do Tesouro dos EUA, considerados os mais seguros do mundo, oferecendo cerca de 4,5% de juros anuais, e bonds corporativos indo além, na casa dos 5%.

A renda fixa americana vem sendo indicada para investidores de variados perfis de risco este ano, e a alta recente do dólar, que passou de R$ 5,60, pode ser mais um chamariz. Mas, como ela se compara com o investimento preferido dos alocadores na renda fixa local? A aplicação em dólar está pagando mais que o Tesouro IPCA+? Para começar a responder, é preciso olhar para o retrovisor.

Em 2024, dólar ganha de lavada

Os títulos brasileiros sempre oferecem taxas maiores: 12% ao ano aqui contra 4,5% lá nos prefixados, e 6,5% contra 2% de juro real nos papéis atrelados à inflação, chamados de TIPs nos EUA. No entanto, a coisa muda de figura quando a conta do câmbio entra na equação.

Segundo cálculos de Guilherme Morais, analista da VG Research, quatro ETFs (fundos de índice) que investem em títulos de renda fixa americana de diversos prazos registram queda neste ano, com exceção dos que aplicam em papéis de curtíssimo prazo. No entanto, isso considera apenas o desempenho em dólar.

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Quem aportou em reais embolsou ganhos de até 16% (líquidos, já descontando Imposto de Renda, IOF e spread sobre a conversão) ao fazer a conversão de volta. Enquanto isso, quem aplicou no Tesouro IPCA+ 2035 no começo do ano teve perdas de 7,41% no período. No caso do Tesouro IPCA+ 2045, a situação é ainda pior: queda de 13,74% no ano.

Compare a seguir os desempenhos dos seguintes ativos em 2024:

Para renda fixa americana, considera IR de 15%, IOF de 0,38% e spread de 1% (Fonte: Guilherme Morais, da VG Research, e Tesouro Direto)

Mas um alerta é importante: só embolsou esses ganhos ou prejuízos quem resgatou o investimento. Portanto, quem comprou IPCA+ no começo de 2024 e não vendeu pode ainda levar o papel até o vencimento e ter a garantia de obter a remuneração prometida na contratação. Os títulos do Tesouro Direto ficam negativos no aplicativo da corretora por uma questão de transparência, para mostrar quanto estariam valendo se fossem vendidos hoje (marcação a mercado).

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E daqui para frente?

Analistas afirmam que a decisão não deve levar em conta o câmbio neste momento, e que os dois investimentos devem ter espaço na carteira. Para evitar dor de cabeça, o melhor caminho seria topar esperar o vencimento.

“Apesar de você abrir a tela do seu homebroker e eventualmente ver uma variação negativa nesses ativos do Tesouro Direto, faz muito sentido sim continuar comprando”, observa Marcos Moreira, sócio da WMS Capital. “Estamos em níveis historicamente elevados, então o carrego, que é essa taxa que você pode levar até o vencimento, é muito interessante”.

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Apesar de perder neste ano, o Tesouro IPCA+ está com taxa em nível historicamente alto. Segundo levantamento feito pela Quantum Finance esses papéis pagaram juro real de 6% ou mais em apenas 24,3% das sessões nos últimos dez anos.

No dólar, os juros de quase 5% ao ano são ainda mais raros. A última vez que houve tanto prêmio foi em 2007, e depois por volta de 2001, segundo dados do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Em relatório, a corretora Avenue mostra que, nos últimos 15 anos, o retorno dos títulos de 10 anos dos EUA esteve 95% do tempo abaixo de 4% ao ano, e 98,5% do tempo esteve abaixo de 4,5%.

Se as perspectivas no Brasil e lá fora ficarem mais benignas, os papéis tendem a se valorizar no mercado secundário, oferecendo também a chance de saída antecipada (marcação na curva). Mas o investidor não deve considerar o cenário como garantido, mas sim uma espécie de “bônus”. “Com os juros altos nos Estados Unidos e o atual patamar de rentabilidade do Tesouro IPCA+, o investidor tem boas opções para compor sua carteira de investimentos, sendo mais indicada a manutenção até o vencimento”, pontua Morais, da VG.

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Maçãs com maçãs

É importante lembrar que a oportunidade para os títulos americanos equivalentes ao Tesouro IPCA+, chamados de TIPs, já foi melhor. Segundo observou Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, os papéis brasileiros de inflação pagaram, nos últimos 10 anos, cerca de 4,5 pontos percentuais a mais de juro real do que os americanos. Em maio, o prêmio do IPCA+ havia reduzido para 4 pontos, o que foi visto como oportunidade. Desde então, no entanto, a diferença já voltou ao mesmo patamar da última década.

Como investir?

Segundo Moreira, da WMS, o aporte na renda fixa americana deve ser gradual. “Se você tem o objetivo de ter 25% da sua carteira dolarizada, compre de pouco a pouco todos os meses até atingir esse alvo de alocação internacional”, recomenda.

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Já os títulos do Tesouro IPCA+ reinam nas carteiras recomendadas por especialistas, com peso superior ao dos investimentos estrangeiros. Para a XP, os papéis brasileiros indexados à inflação devem ocupar, no mínimo, 15% da carteira. Já a renda fixa dos EUA não deve passar de 5% do portfólio.

Aplicações de renda fixa local estão disponíveis na plataforma do Tesouro Direto. Já os investimentos americanos são oferecidos por bancos e corretoras com conta internacional.

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Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas