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Ibovespa: O que monitorar no segundo semestre?

Segunda metade do ano vai contar com expectativa de corte ou não de juros e eleições nos EUA; por aqui, atenção se volta ao fiscal e troca de comando no BC

Vitor Azevedo

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Para o Ibovespa, o primeiro semestre de 2024 ficou marcado de forma negativa: o principal índice da Bolsa brasileira recuou 7,7% em reais, 19,5% em dólares e teve um dos piores desempenhos do mundo. E no segundo semestre, os fatores que explicam a queda do benchmark nos primeiros seis meses do ano devem continuar nos holofotes, podendo trazer gatilhos positivos ou negativos. 

Mais para o começo de 2024, o principal fator que empurrou a Bolsa brasileira para baixo era o que acontecia nos Estados Unidos. Já nos últimos dois meses do primeiro semestre, porém, foi mais o noticiário interno, que prejudicou o desempenho do Ibovespa.

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Dados macroeconômicos nos Estados Unidos

Se no final de 2023 houve um rali motivado pela visão de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortaria os juros nos Estados Unidos de forma mais acelerada, com as projeções chegando a até sete cortes neste ano, os três primeiros meses de 2024 trataram de acabar com essa crença. 

Nesses meses, os dados de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) e do mercado de trabalho nos Estados Unidos vieram acima do esperado e passaram a alimentar a visão de que, com a economia mais aquecida, o Federal Reserve demoraria mais para cortar juros.

“A gente vinha no início do ano com a expectativa de corte de juros ainda em março, nos Estados Unidos. Isso foi frustrado e foi sendo postergado e chegamos em um momento que alguns membros do Fed passaram a considerar nenhum corte ou ainda uma alta”, diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

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Federal Reserve

No final do primeiro semestre, contudo, alguns dados nos EUA, como o CPI e o Payroll de maio já passaram a mostrar um desaceleramento da economia. Os treasuries yields para dez anos, para ilustrar, saíram de 3,86% do começo do ano, tocou um pico de 4,70%, em abril, e fecharam o semestre em 4,382%.

Lourenço menciona que do ponto de vista da expectativa de juros nos Estados Unidos, a visão hoje é de um corte no final do ano, “caso os dados econômicos continuem vindo no sentido de demonstrar uma certa fraqueza na economia”. ‘Mas a tese precisa ganhar força”, completa. 

Por isso, dados macroeconômicos norte-americanos continuarão sendo monitorados de perto, bem como as falas dos diretores do Fed.

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Se eles virem mais fortes do que o esperado, fechando a possibilidade de queda dos juros, é possível que o fluxo de investimentos continue pequeno (ou até mesmo negativo). Entretanto, caso mostrem fraqueza da economia americana, a tese de mais corte ganhar força, porém, a tendência tende ser a contrária.

Além dos dados, a eleição norte-americana também deve ser acompanhada de perto quando o assunto é juros. A situação das contas públicas nos EUA, com o aumento da dívida, vem se tornando algo monitorado de perto pelo mercado e pode impulsionar as taxas, dependendo de falas dos candidatos ou de quem liderar a corrida.

No Brasil…

A recente melhora no cenário americano, porém, não foi vista no Ibovespa e no Brasil. Quando os juros caem nos EUA, os rendimentos brasileiros tendem a acompanhar, abrindo espaço para baixo quando o assunto é diferencial das taxas. Mas isso não aconteceu nos últimos meses do primeiro semestre.

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Apesar de a curva de juros, por lá, ter recuado após o pico, a brasileira continuou avançando com investidores de olho nas questões políticas e fiscais. E ai entram os problemas locais.

“Tivemos o cenário local impactando muito”, fala Enrico Cozzolino, head de análise da Levante. “No fim do semestre até teve um arrefecimento, com a manutenção da meta de inflação e um discurso mais amistoso do presidente Lula, mas continua sendo algo monitorado de perto.”

Os seis primeiros meses do ano foram marcados, por exemplo, pela revisão das metas de superávit para os próximos anos, o que colocou em xeque o compromisso do executivo com o arcabouço fiscal (estipulado há menos de um ano) e com as contas públicas. 

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Fora isso, ao mesmo tempo em que tenta compor suas receitas, o governo mudou a presidência da Petrobras (PETR4), prometendo mais investimentos e ameaçando os dividendos.

Além do mais, o governo vem enfrentando dificuldades em aprovar medidas para aumentar suas receitas, caso da MP das compensações. 

Risco fiscal e BC

O risco fiscal brasileiro entrou no radar do mercado. Com ele, apesar das taxas caírem nos Estados Unidos, os rendimentos locais não conseguem recuar, com as taxas tendo de manter a “atratividade” frente ao maior perigo.

“O Ibovespa iniciará mais um semestre sob a narrativa de que “está barato”, sob o argumento de que o P/L do índice é negociado com desconto de quase 40% em relação à média dos últimos 20 anos. Mas o fato de ‘estar barato’ não quer dizer que ficará caro”, fala Alexsandro Nishimura, head de conteúdo da Nomos.

“Acredito que o mercado seguirá atento às discussões sobre o cenário fiscal.”

Ele expõe ainda que, mais ao final do ano, deve se intensificar as discussões sobre a definição do novo presidente do BC. Um nome mais heterodoxo, que ameace cortar a Selic de forma mais rápida, pode repercutir mal entre investidores, fazendo a curva de juros brasileira subir na ponta longa (apesar de uma possível queda da ponta curta).