Projeções do Fed não são plano a seguir e avaliações se ajustam, diz Powell

Presidente do Fed reforçou que os diretores continuarão a tomar suas nossas decisões reunião a reunião, com base na totalidade dos dados e nas suas implicações para as perspectivas

Roberto de Lira

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell  (Foto: Evelyn Hockstein/Reuters)
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell (Foto: Evelyn Hockstein/Reuters)

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tentou nesta quarta-feira (12) evitar tratar as projeções econômicas feitas pelos diretores da autoridade monetária como um plano a ser seguido nas reuniões, declarando que as estimativas são fotografias da tendência esperada conforme o comportamento da economia num determinado momento.

O sumário SEP de projeções, também chamado de gráfico de pontos, mostrou uma mediana para o nível adequado da taxa dos Fed funds de 5,1% no final deste ano, 4,1% no final de 2025 e de 3,1% no final de 2026.

Isso indicaria que a maior parte dos integrantes do Fomc está prevendo apenas um corte nas taxas neste ano, mas Powell tentou relativizar isso em seu pronunciamento pós-decisão de juros. “Estas projeções são não são um plano econômico, do Comitê ou plano de decisão. À medida que (…) evoluem, as avaliações adequadas da trajetória política serão ajustadas, a fim de melhor promover os nossos objetivos de máximo emprego e estabilidade de preços”, declarou.

Ele detalhou que, se a economia permanecer sólida e a inflação persistir, o Fed estaria preparado para manter o intervalo-alvo para a taxa dos Fed funds enquanto for apropriado. Mas ponderou que se o mercado de trabalho enfraquecer inesperadamente ou se a inflação cair mais rapidamente do que o previsto, o Fomc estaria preparado para responder.

“A política está bem posicionada para lidar com os riscos e incertezas que enfrentamos no prosseguimento de ambos os lados do nosso duplo mandato.”

Powell reforçou ainda que os diretores continuarão a tomar suas nossas decisões reunião a reunião, com base na totalidade dos dados e nas suas implicações para as perspectivas e o equilíbrio de riscos. “Continuamos empenhados em reduzir a inflação para o nosso objetivo de 2% e em manter bem ancoradas as expectativas de inflação a longo prazo. A restauração da estabilidade de preços é essencial para alcançar o emprego máximo e preços estáveis a longo prazo”, comentou.

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Na coletiva de imprensa, um dos jornalistas citou que 15 dos 19 diretores estão antecipando um ou dois cortes este ano, divididos de forma bastante equitativa, e quis saber se isso, somado às boas notícias da inflação CPI mais cedo, tornariam possível um corte nas taxas de juro em setembro.

“Não tomamos decisões sobre reuniões futuras até chegarmos lá. Penso que em termos do que precisamos de ver, (…) queremos ganhar mais confiança. Certamente mais boas leituras de inflação ajudarão nisso”, esquivou-se.

Ele reconheceu que a alta na projeção da taxa básica de longo prazo de 2,6% para 2,8% mostra que as autoridades estão “gradualmente” chegando à conclusão de que o ambiente de juros muito baixos observado antes da pandemia pode não voltar.

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Inflação

Sobre as projeções de inflação, especialmente as do PCE, ele afirmou que elas são “conservadoras” por natureza, ao responder uma pergunta sobre o motivo de as estimativas terem subido no novo sumário do Fed.

O jornalista citou que o núcleo do PCE está agora previsto para 2,8% até o final do ano.

Segundo Powell, a perspectiva de inflação oferecida pelo Fed é “uma previsão bastante conservadora” que pode não ser confirmada pelos dados futuros e está sujeita a revisão.

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Ele disse que os dados do índice de preços ao consumidor norte-americano divulgados nesta quarta-feira, melhores do que o esperado, são bem-vindos.

Sobre o comportamento atual da inflação, Powell disse que a grande mudança foi a previsão da inflação, que subiu vários décimos. “Tivemos dados de inflação realmente bons no segundo semestre do ano passado, depois uma espécie de pausa no progresso no primeiro trimestre. E o que concluímos disso foi que provavelmente levará mais tempo para obtermos a confiança necessária para começar a flexibilizar a política”, reforçou.

“Teremos que ver onde os dados iluminam o caminho. Como sabem, a economia surpreendeu repetidamente os analistas em ambas as direções, e hoje foi certamente um relatório de inflação [CPI] melhor do que quase todos esperavam. E teremos apenas que ver o que o fluxo de dados recebidos traz e como isso afeta as perspectivas e o equilíbrio dos riscos.”

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Mercado de trabalho

Sobre as recentes pesquisa de emprego nos EUA (Jolts e payroll), que mostraram resultados díspares, Powell comentou que muitas vezes não é possível conciliar as diferenças, basta olhar para os dados das pesquisas e tentar entender. “É por isso que sempre faz sentido olhar para uma série, de três, seis e doze meses, em vez de apenas um relatório”, disse

Ele reconheceu que o último relatório mostrou perdas de empregos nas pesquisas domiciliares e grandes ganhos de emprego no levantamento dos estabelecimentos. “Ficamos com resultados ambíguos e temos que lidar com essa incerteza em torno dos dados. No entanto, o quadro geral é de um mercado de trabalho forte, em arrefecimento gradual e em reequilíbrio gradual”, ponderou.

“As vagas de emprego, embora tenham diminuído, ainda são maiores que o número de desempregados. No geral, estamos olhando para um mercado de trabalho ainda muito forte, mas não para o mercado de trabalho superaquecido de há dois anos, ou mesmo de há um ano”, declarou na coletiva.

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(Com Reuters)