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Os juros brasileiros e norte-americanos usualmente têm uma relação de proporcionalidade direta. Quando os rendimentos pagos pelos treasuries aumentam, as taxas pagas pelos títulos brasileiros ou contratos privados tendem a acompanhar e quando lá fora os juros caem, a mesma coisa acontece nos papéis locais. Mas o recuo recente dos yields não foi sentido por aqui.
Os treasuries yields para dez anos, um dos títulos mais importantes do governo americano, saíram do patamar de cerca de 4,70% no começo de maio para, agora, estarem negociando a 4,29%. Enquanto isso, no mesmo período, os DIs para 2031 subiram de um nível próximo a 11,40% para 11,80%.
Nos meses que antecedem maio, os rendimentos dos DIs brasileiros já vinham em alta, impulsionados pela perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) iria demorar mais para cortar os juros nos Estados Unidos.
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Dados macroeconômicos ainda fortes nos EUA, portanto, alimentavam a crença de que a política de restrição monetária norte-americana duraria mais.
“Entre os fatores externos que influenciam nos DIs estão o câmbio, os juros e os rendimentos do tesouro dos EUA, que por ser a maior economia do mundo influencia todo o cenário global e ainda mais os países emergentes, como o Brasil”, explica Daniel Sabino, CRO do Grupo Nano.
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CME: mercado consolida aposta em corte de juros do Fed este ano, após dados nos EUA
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Foram abertos 152.000 empregos no mês passado, depois de 188.000 em abril, segundo o relatório da ADP; economistas previam 175.000 vagas novas no mês passado
Em um cenário como esse, de juros mais altos nos EUA, é esperado que os DIs no Brasil fiquem também mais elevados. Como os papéis do tesouro norte-americano são considerados os ativos “mais seguros do mundo”, autoridades e o mercado privado brasileiro têm de jogar os rendimentos pagos pelas suas emissões para cima para mantê-las atrativas.
No entanto, nos Estados Unidos, no fim de maio, houve uma série de publicações de dados macro mais fracos do que o esperado, o que voltou a alimentar a crença de que a autoridade monetária dos EUA poderá ser mais branda em 2024 — o que levou as taxas, por lá, a recuarem.
É o caso, por exemplo, da publicação do PCE (índice de preços de gastos com consumo, na sigla em inglês), na semana passada, e dos dados de emprego nesta.
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Cenário interno explica alta dos juros futuros
“O que tem movimentado bastante a curva de juros é principalmente o ruído político”, diz João Ferreira, sócio da One Investimentos. Ele menciona, por exemplo, a votação do plano Mover (Mobilidade Verde e Inovação) e as mudanças nos ressarcimentos ligados ao PIS/Cofins.
“O governo segue naquela toada de aumentar a arrecadação, mas enfrentando resistência. Esse ruído político, de aprova ou não aprova, tem feito um pouco de preço aqui no mercado de juros futuros”, acrescenta.
O Governo Federal, com esses projetos, vem tentando compor a sua receita para cumprir as metas fiscais estabelecidas no arcabouço. No entanto, vale lembrar que em abril já houve mudanças, com o superávit antes proposto para 2025 ficando para 2026 (o que ajudou a impulsionar as taxas).
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Outro fator apontado por especialistas que ajuda a explicar a alta dos juros brasileiros é a saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras para a entrada de Magda Chambriard. A mudança levantou o temor do mercado de que o Governo pode voltar a adotar medidas desenvolvimentistas na companhia, usando o seu caixa para realizar investimentos pouco produtivos.
Há a leitura de que, com isso, os dividendos podem minguar, o que impactaria a saúde fiscal do Governo. A Petrobras nos últimos anos ajudou bastante do lado da arrecadação da União, que é a sua maior acionista e que fica com boa fatia dos proventos.
Pesa, por fim, ainda do lado fiscal a revisão das metas, com o superávit ficando para 2026. Já a proximidade do fim do mandato do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, preocupa o mercado pela possibilidade de a instituição monetária seguir por um caminho menos ortodoxo.
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Tudo isso explica o fato de os juros mais longos estarem abrindo mais. Com o aumento das incertezas, investidores passam a evitar os contratos mais demorados, pedindo prêmios maiores. O DI para 2031 sobe 15% no ano.