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A forte presença de pessoas físicas entre os investidores de fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagros) impulsionou movimentos mais expressivos nas cotas quando parte dos produtos sofreu com inadimplências ou renegociações de dívidas, diante de um cenário de maior estresse no agronegócio.
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Na contramão de parte da indústria, que acumula retornos negativos no ano, um grupo de Fiagros-FIIs conseguiu remar contra a corrente e registrar ganhos de até 27% de janeiro até última quinta-feira (6). Os dados foram compilados pelo InfoMoney com base em números da Economatica e levam em conta apenas produtos negociados em Bolsa.
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Guilherme Sharovsky, investment banker da Bloxs Capital Partners, afirma que os fundos com valorização no ano foram capazes de manter um fluxo adimplente de pagamentos, ainda que alguns tenham renegociado dívidas. O bom resultado fez com que o mercado tivesse uma percepção de risco menor, o que ajudou a fazer com que o retorno das cotas ficasse no campo positivo.
Confira a lista de Fiagros-FIIs com valorizações nas cotas até 6 de junho deste ano:
Nome do Fiagro | Código | Retorno no ano (%)* |
Inter Amerra Fiagro Imob-Unica | IAAG11 | 26,83 |
Sparta Fiagro Imobiliario-Unica | CRAA11 | 11,64 |
Nex Crd Agr Nas Cad Pro do Agr FIA FII Uni | NEXG11 | 9,94 |
Suno Agro – Fiagro-Imobiliario-Unica | SNAG11 | 4,73 |
051 Agro Fazendas III Fiagro-Unica | FZDB11 | 4,13 |
Az Quest Sole Fiagro FII-Unica | AAZQ11 | 2,10 |
051 Agro Fiagro Imobiliario-Unica | FZDA11 | 1,66 |
BB FI de Cr-Unica | BBGO11 | 1,19 |
Greenwich Agro Fiagro – Imobil-Unica | GRWA11 | 1,09 |
Kinea Credito Agro Fiagro-Imob-Unica | KNCA11 | 1,06 |
Capitania Agro Strategies Fiag-Unica | CPTR11 | 1,02 |
*Os dados vão até o dia 6 de junho. O levantamento leva em conta apenas fundos negociados em Bolsa.
Priorizar ativos mais high grade (menor risco e retorno)
Um dos setores que mais foram afetados pelas inadimplências foi o de produção de grãos, que responde por menos de 5% da carteira do CRAA11, Fiagro da Sparta, que apresentou um retorno de 11,64% no acumulado de 2024 até 6 de junho. “Temos alguns produtores de grãos, mas nunca investimos na pessoa física e nem em ativos de companhias muito alavancadas [com endividamento elevado]”, diz Marcio Takaya, analista responsável pelo Agro da Sparta.
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O foco em ativos mais high grade (menor risco e retorno) emitidos por empresas grandes é outro aspecto que pode ter ajudado a Sparta a manter o bom desempenho de seu Fiagro nos últimos meses, juntamente com uma gestão mais ativa. “Não gostamos de tomar muito risco. Para ter o melhor retorno acumulado, é bom ter consistência”, acrescenta Ulisses Nehmi, CEO da gestora. A casa não teve problemas de inadimplência no produto.
Entre as alocações que trouxeram mais frutos estão exposições a papéis de companhias como Minerva (BEEF3) e Integrada Cooperativa, onde a gestora ganhou com o fechamento (recuo) dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco).
Apesar de deter posições em títulos de empresas com exposição ao Rio Grande do Sul, como JBS (JBSS3), Minerva e Unidas, Nehmi explica que a alocação do CRAA11 em tais companhias é pouco representativa no portfólio (menos de 10%) e que a operação que as três possuem no Estado representa apenas uma pequena fração do portfólio global delas, o que diminui eventuais efeitos negativos das enchentes.
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Originação própria e apostas acertadas
A estruturação da dívida feita pela gestora junto às empresas também é citada como um dos fatores que podem ter impulsionado os ganhos do AZ Quest Sole Fiagro (AAZQ11), que apresenta retornos de 2,10% de janeiro até a última quinta-feira (6).
“A originação própria nos aproximou muito do empresário. É como se tivéssemos um termômetro na água para ver se ela ferveu ou não. Conseguimos atuar para ajudar o empresário”, observa Idalicio Silva, gestor da estratégia agro na AZ Quest.
Alocações em empresas com crescimento e margens mais altas, como ativos do setor de biodefensivos e genética animal, além de uma exposição a uma carteira pulverizada de recebíveis e à vitivinicultura, que trata dos processos envolvidos na elaboração de um vinho, também trouxeram bons frutos para o produto.
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A casa, porém, não conseguiu escapar totalmente de problemas com inadimplência: em abril deste ano, a AZ Quest informou que a North Agro entrou com pedido de recuperação judicial, devido às condições do mercado de grãos. Apesar do cenário mais delicado para a companhia, o executivo afirma que o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) apresenta a garantia real de uma fazenda e que a exposição detida pelo fundo no título representa em torno de 2% do portfólio, o que não afetou a distribuição de dividendos.
Vale a pena alocar em Fiagros neste momento?
Ainda que alguns Fiagros estejam com retornos no campo positivo, Silva, da AZ Quest, acredita ainda que a classe terá alguns meses de volatilidade nas cotas. “Estamos num momento de ajuste, que está no final, mas que não foi concluído. Lá na frente, quando esse ruído baixar, queremos mostrar que fomos consistentes”.
O momento de maior estresse, porém, pode ser uma oportunidade para quem aceitar investir em ativos de maior risco e estiver disposto a entrar em Fiagros que estão com as cotas depreciadas, afirma Sharovsky, da Bloxs.
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“Eu priorizaria os Fiagros com maior desconto do preço da cota no secundário em relação ao valor patrimonial. Também olharia fundos que alocam em ativos mais high grade e em nomes mais consolidados na carteira e sem inadimplência”, acrescenta o profissional da Bloxs. Por outro lado, o especialista afirma que evitaria produtos mais concentrados em subsetores que não estão indo muito bem, como revendas de insumos e proteína animal.