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Futuro de Bitcoin (BITFUT) já movimenta mais que mercado à vista em reais da cripto

Em um mês, contrato já superou mais de R$ 10 bilhões negociados; B3 já estuda futuro de ether e opções

Rodrigo Petry

Marcos Skistymas, diretor de Produtos Listados da B3. Divulgação B3
Marcos Skistymas, diretor de Produtos Listados da B3. Divulgação B3

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Nova opção do mercado financeiro brasileiro, os contratos futuros de bitcoin (BITFUT) romperam a marca dos R$ 10 bilhões negociados na B3 em seu primeiro mês de funcionamento. Na prática, esse derivativo é semelhante ao mini-índice ou ao monidólar – com a diferença, essencial, de estar atrelado ao preço global do bitcoin e não ao Ibovespa ou ao dólar frente ao real.

Especialmente no dia 15 de maio passado, foram mais de R$ 1 bilhão transacionados, em uma única sessão, com um total de mais de 33 mil contratos, quintuplicando suas negociações em relação ao dia de estreia. Conforme dados da B3, na última semana, na média, foram mais de 20 mil contratos diários. E a tendência é de crescimento. Enquanto isso, na média até agora, deste primeiro mês, o volume financeiro médio diário está em R$ 510 milhões.

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Como comparação, essas cifras superam financeiramente o mercado spot (à vista) de bitcoin em reais. Segundo dados do site Coin Trader Monitor, as exchanges em reais transacionaram menos de R$ 100 milhões diariamente na última semana. Os dados, aqui, referem-se exclusivamente ao mercado brasileiro, inclusive de corretoras estrangeiras, com operação local.

Futuro de Bitcoin (BITFUT)

“O bit (BITFUT) já tem negociado mais do que o mercado spot de bitcoin”, destaca Marcos Skistymas, diretor de Produtos Listados da B3, que conversou com o InfoMoney sobre o primeiro mês de negociação do contrato futuro.

Claro, ainda comparado aos minicontratos de dólar e de índice, que estão consolidados há anos e movimentaram, por exemplo, na sexta-feira (18), respectivamente, 490 mil e 3,8 milhões de operações, o bit ainda é inferior.

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Entretanto, ele avalia que a liquidez do produto vem surpreendendo, não só a B3, mas o mercado como um todo. “Temos visto interesse cada vez maior de clientes se inteirando e mais corretoras interessadas em saber como funciona”, diz.

Ele ressalta que o bitcoin por si só atrai muito o interesse do brasileiro. Isso acontece, sobretudo, pelos saltos de preços, que de tempos em tempos a criptomoeda experimenta. Tanto que a B3 já lançou mais de 14 ETFs criptos, que contam com mais de 200 mil investidores.

“Já começamos a estudar como vamos complementar a nossa prateleira de ativos relacionados a criptos, como com um futuro de ether ou com opões de futuros de bitcoin”, antecipa.

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Quem opera BITFUT?

Entre o público que opera, segundo ele, há um perfil bem específico, que é o day trader. 

“É difícil a gente saber se o trader de bit está vindo dos minicontratos (de índice ou dólar) ou do mercado spot (à vista) de bitcoin, das exchances de bitcoin ou não, porque a gente não tem essa comparação.”

Para Skistymas, contudo, se espera uma migração de traders do mercado spot para o futuro. “Não só migração, saindo da operação spot, mas para fazer hedge”, diz.

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Conforme ele, quem compra bitcoin no mercado à vista não consegue ficar “vendido”, em ocasiões de queda do preço da cripto. “Nesses momentos, ao invés de vender, pode fazer um hedge”, explica.

Skistymas afirma, porém, que não é só a pessoa física que vem sendo atraída pelo contrato. 

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“Temos visto, de fato, outros investidores entrando. São grandes players internacionais, traders de alta frequência (os high-frequency trading, HFT, na sigla em inglês), grandes formadores globais, que estão dando liquidez ao produto, além de gestores de fundos e bancos locais”, diz ele.

Esses outros investidores têm ganhado espaço, além da própria pessoa física, acrescenta. 

O diretor ressalta que, em conversa com corretoras, já se relata interesse de investidores institucionais, assets, buscando informações, querendo entender o funcionamento do produto. 

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Formadores de mercado

Conforme ele, desde o início das operações, há presença de formadores de mercado, mantendo liquidez para quem entra e sai das operações. “Já temos formadores desde o primeiro dia, que vêm ajustando seus algoritmos cada vez mais.”

Segundo Skistymas, do volume, esses outros investidores já representam entre 35% e 40%. “Ainda tem muita pessoa física, mas outros investidores têm ganhado espaço, na liquidez e nos volumes, por isso vemos essa crescente de negociação”, conclui.

Destes outros investidores, a maioria concentra-se, contudo, nos formadores de mercado, que desempenham o papel de prover a liquidez, ajudando o investidor a entrar e sair das posições.

Conforme o diretor, estes formadores são internacionais e vêm trazendo a expertise da negociação de futuros de bitcoin, como na CME.

“Eles já conhecem a dinâmica do produto e já sabem fazer o hedge de suas posições. Isso facilita para eles serem bastante representativos no mercado.”

BITFUT: spread

Sobre os spreads “mais largos” observados nas primeiras semanas de negociação dos contratos, ele avalia ser por conta da compreensão, ainda, da dinâmica do produto.

O spread é a diferença entre o preço de compra e de venda no book de oferta, em relação ao preço de tela. Quando está “largo” significa que a variação é maior entre o preço que o comprador está disposto a pagar e o vendedor disposto a se desfazer do ativo. No sentido inverso, se diz que o spread está “estreito”.

“Ao longo do tempo, conforme os traders, inclusive os formadores de mercado, entendam a dinâmica do bit, fazendo os ajustes finos nos algoritmos, com o mercado ganhando liquidez e confiança, esses spreads devem ir se fechando automaticamente”, acrescenta.

De acordo com Skistymas, até mesmo a concorrência entre os formadores de mercado, deve levar à melhora nos preços de tela aos investidores.

“Neste primeiro mês, os spreads começaram um pouco mais largos”, diz, acrescentando, porém, que os spreads “já estão tão competitivos quanto os dos futuros de bitcoin na CME”.

Portanto, conforme ocorra a evolução do contrato, ele entende que, nas próximas semanas e meses, o spread fique mais apertado. 

Dólar

Outro aspecto observado por traders e investidores neste começo de operação se refere à variação do contrato, conforme a valorização da taxa de câmbio. 

Assim, em sessões que possa ocorrer uma estabilidade no preço do bitcoin no exterior – já que o futuro da B3 acompanha as oscilações do criptoativo no mercado internacional – o valor em reais sofre flutuações e volatilidade.

“Priorizamos a simplicidade e a experiência para o cliente do bitfut. Operar em reais é mais fácil para o investidor pessoa física, exatamente para não se preocupar com hedge cambial”, explica.

Conforme ele, com o contrato em moeda local, não se precisa fazer conversão. Porém, explica, essa tarefa de hedge cambial acaba ficando por conta dos formadores de mercado e arbitradores.

“Estamos atentos a melhorias, mas ainda não vemos grande problema em relação ao dólar. Para o day trader isso é até bom, pois gera volatilidade”, conclui Skistymas.

Rodrigo Petry

Coordenador de Projetos Editoriais. Atuou como editor de mercados e investimentos no InfoMoney, liderando o Ao Vivo da Bolsa e o IM Trader. Antes, foi editor-chefe do portal euqueroinvestir, repórter do Broadcast (Grupo Estado) e revista Capital Aberto. Também foi Gestor de Relações com a Mídia do ex-Grupo Máquina e assessor parlamentar.