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Após sucesso da “bolsa da Oprah”, brasileira Misci monta plano ambicioso para crescer

Grife brasileira de moda autoral caiu no gosto de celebridades estrangeiras e ganhou projeção global

Mitchel Diniz

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Airon Martin, designer da bolsa bambolê adquirida por Oprah Winfrey no mês passado, já está acostumado a ver celebridades estrangeiras utilizando suas peças. Em março de 2023, a cantora espanhola Rosalía foi fotografada com o boné “Mátria Brasil”, quando veio ao Brasil para se apresentar no festival Lollapalooza. O cantor Sam Smith e a DJ sul-coreana Peggy Gou são outros “gringos” ilustres que já compraram itens da brasileira Misci — marca fundada por Airon há menos de quatro anos.  

Dentre os clientes brasileiros, a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, a ministra Marina Silva e a atriz Bruna Marquezine ajudaram a dar impulso à marca. “Nossa estratégia é crescer nacionalmente para ter peso de caixa e começar a ativar nossa internacionalização”, afirmou o designer mato-grossense, em entrevista ao IM Business. “Enquanto isso, o internacional acontece de maneira orgânica. […] A Misci está virando a marca que o ‘gringo’ que vem ao país quer conhecer”. 

Airon Martin, fundador da Misci (Divulgação)

“Efeito Oprah”

O efeito Oprah nas vendas da Misci foi imediato. Em sua passagem por São Paulo, em abril, a apresentadora comprou três bolsas na loja do shopping Cidade Jardim. O episódio aconteceu no último dia 10 e, dois dias depois, a grife já havia batido sua meta de vendas on-line para o mês. Não houve mudança de estratégia após o hype — a bolsa bambolê, hoje, é encontrada no site da Misci pelos mesmos R$ 2.280 de quase um mês atrás. Mas Airon reconhece que a chancela de um ícone da TV americana foi uma validação.  

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“O Brasil é visto como um país que exporta chinelos enquanto o ‘produto bom’ vem da Suíça. A gente exporta a melhor seda do mundo. Por que não exportar a camisa pronta?”, indaga.

A unidade do shopping Cidade Jardim, onde Oprah Winfrey esteve, é uma das três lojas físicas da Misci – todas ficam em São Paulo. Um cliente da grife gasta, em média,  R$ 1,7 mil por compra. A Misci também vende suas peças para o exterior pela plataforma Farfetch, de moda de luxo, mas a participação dessas vendas responde a uma fatia pequena das receitas, de apenas 3%.

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A bolsa bambolê, modelo adquirido por Oprah Winfrey (Divulgação)

Ganho de escala

Recentemente, a marca juntou forças com outra grife brasileira independente, a da estilista Lenny Niemeyer, e vai ganhar escala. Com a parceria, Airon prevê levar a Misci para 250 multimarcas pelo Brasil, Estados Unidos e Europa. No exterior, a Misci está sendo assessorada pela agência de relações públicas Karla Otto, especializada em atender marcas de luxo como Dior e Louis Vuitton. 

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Airon diz que a ascensão das marcas independentes é um fenômeno mundial. Grifes que não fazem parte dos grandes conglomerados da moda estão conseguindo se diferenciar dentro de um mercado em que “está tudo igual”. “Até as marcas europeias estão sofrendo com isso, reproduzindo os mesmos modelos, porque viraram parte de grupos financeiros”, afirma.

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Na avaliação de Airon, as marcas que fazem “moda de verdade” no Brasil ainda são muito pequenas e têm pouco investimento. “Sempre bato na tecla de que exportamos a melhor seda do mundo para Hermes e Dior e nada disso fica no nosso país”, exemplifica. 

Investimento próprio

Airon utiliza a própria imagem para capitalizar a Misci. “Hoje eu entrego conteúdo e consultoria pelas minhas redes sociais. Tive que aprender a monetizar por meio da pessoa física”, diz. O designer tem uma parceria que já dura três anos com Heineken para atuar como uma espécie de consultor da plataforma de cultura e sustentabilidade da marca, a Green Your City

Mas a Misci em si também virou uma plataforma de entrega de conteúdo e tem firmado parcerias com outras marcas patrocinadoras em postagens colaborativas nas redes sociais. Foi com essa estratégia que a grife conseguiu atrair a canadense Nudestix e a Authetinc Beauty, da alemã Henkel, para financiar o desfile de sua nova coleção Tenda Tripa, apresentada ao público no último dia 23 de abril. A cantora Ivete Sangalo desfilou com um look da marca.

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Ivete Sangalo encerrou o desfile da coleção 2024 da Misci (Foto: Zé Takahashi/ Divulgação)

“Conseguimos ‘amarrar’ desfile e entrega de conteúdo via Misci. Isso nos possibilita recursos para fazer um desfile e outras apresentações relevantes para o mercado. A gente vem crescendo graças a esse modelo”, explica Airon.  

O designer reconhece que o crescimento orgânico tem limite e admite que a Misci precisa de investimento para dar um salto como marca. A grife já chegou a receber propostas de fundos, mas as negociações não avançaram. “Todas as negociações envolviam o meu próprio nome. Na compra da Misci, meu nome seria comprado também. Nessa complexidade, a gente acabou declinando”, explica Airon.

O designer vê com bons olhos ter um fundo como sócio minoritário. “Não descarto a possibilidade de ter um fundo financeiro, não com a maioria da marca, mas que acredite em nosso projeto, principalmente para a internacionalização”.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados