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O experimento que testa a jornada de trabalho de quatro dias no Brasil chegou na metade do caminho. As primeiras impressões dos três primeiros meses da modalidade apontam que, com muita organização e diálogo, pode ser palpável a manutenção da performance com boas doses de bem-estar para quem faz uma empresa: os funcionários.
Ao todo, já são quase 500 companhias pelo mundo testando a modalidade de jornada em que o profissional continua recebendo 100% do salário, mas trabalha 80% do tempo. Em troca ele se compromete a manter 100% de produtividade. Um modelo que está sendo conhecido em todo mundo como 100-80-100.
Para medir a eficiência do modelo de quatro dias de trabalho, o projeto-piloto fez uma pesquisa com apoio da FGV (Fundação Getulio Vargas) e do Boston College entre colaboradores das empresas que participam da iniciativa no Brasil.
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Para Renata Rivetti, diretora da “Reconnect Happiness at Work & Human Sustainability”, parceira do 4 Day Week Global e responsável pelo experimento, os gestores perceberam que, para funcionar, não basta apenas “cortar” um dia de trabalho, mas reorganizar as rotinas para manter a mesma performance em um menor tempo de trabalho. “E isso exige amadurecimento, o que nem sempre é fácil para as empresas”, afirma Rivetti.
Os primeiros dados mostram que:
- 62,7% dos entrevistados relatam redução de estresse no trabalho;
- 64,9% dizem que se sentem menos desgastados ao final do dia;
- 56,5% não estão frustrados como antigamente;
- 30% não mudariam de emprego para trabalhar 5 dias por salário nenhum;
- 78,1% dizem ter mais tempo de lazer ou estão mais próximos da família e amigos;
- 49,3% relatam menos desgaste emocional;
- 64,5% apontam redução nos sintomas de exaustão.
Para a conclusão do primeiro relatório, durante o mês de abril foram coletadas 205 respostas, o correspondente a 71% dos participantes. A análise buscou entender e avaliar os principais pontos melhorados após o novo formato de trabalho.
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Segundo Renata Rivetti os gestores precisaram ampliar o diálogo com as equipes, porque o que antes era mais relaxado, passou a ser medido com lupa para que se chegasse ao mesmo resultado com menos tempo de trabalho. “Muitos líderes acabaram percebendo que não tinham muito controle antes. Agora tudo precisa ser bem combinado, com mais responsabilidade para que não caia a produtividade”, explica.
Antes do início da implantação em janeiro, o projeto contou com uma fase de planejamento e reorganização das novas práticas de trabalho, coordenada pela 4 Day Week Brazil, em parceria com a 4 Day Week Global, organização sem fins lucrativos que dissemina as práticas para adoção do novo modelo em todo o mundo desde 2019, quando foi implantado pela primeira vez na Nova Zelândia.
O programa ganhou força depois da pandemia e já está sendo implantado em vários países de Europa, África e América do Norte.
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Processo é longo
No Brasil, o processo envolveu três meses de workshops, sessões de facilitação, mentoria e apoio da Reconnect Happiness antes de começar a ser efetivamente implantado. Passados esse período de projeto-piloto, 44,4% dos colaboradores consideram que a semana de quatro dias tem melhorado sua capacidade de cumprir prazos e 33,3% afirmam que têm melhorado sua capacidade de conquistar novos clientes. Isso porque 67% acreditam que trabalhar um dia a menos reduz ansiedade semanal, o que acabou diminuindo a insônia para 50% deles. Hoje, 57,9% dos funcionários sentem que conseguem conciliar melhor vida pessoal e profissional.
Entre os entrevistados da pesquisa estão colaboradores de diferentes áreas das empresas, o que demonstra que a metodologia pode ser expandida e chegar a todos os departamentos, de companhias de diversos segmentos, segundo a Reconnect.
Para Renata Rivetti, os indicadores do primeiro monitoramento são positivos e mostram que as empresas estão dando um passo importante para mudar a forma de trabalhar, sendo produtivo e saudável ao mesmo tempo. “Do jeito que está, a sociedade caminha para o esgotamento, sem tempo para nada. Enquanto isso, o projeto mostra que a semana de quatro dias pode ser produtiva e sustentável, melhorando o resultado das empresa e a qualidade de vida do funcionário”, afirma a especialista.
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Ao todo, 280 colaboradores com idades entre 18 e acima de 50 anos participam do projeto, com 38.1% de homens e 59.3% de mulheres. Já os formatos de trabalho em que atuam são 40.2% presencial, 34.4% remoto e 25.4% híbrido.
Nem tudo são flores
Os primeiros resultados também estão carregados de uma desistência. Uma das empresas que se inscreveu no programa acabou desistindo ao longo do caminho, porque não conseguiu acompanhar as mudanças.
“Eles entraram depois, mas não fizeram o planejamento e desistiram. Porque não é só tirar a sexta-feira do calendário. É preciso se planejar para tirar a sexta-feira do calendário”, diz Renata, que preferiu não citar o nome da empresa ao InfoMoney.
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O estudo revela que os principais desafios apontados pelos participantes se concentram na gestão de prazos e no equilíbrio entre demandas internas e externas, destacando áreas que requerem atenção adicional. Alguns colaboradores enfrentaram dificuldades iniciais para se adaptar ao novo modelo de trabalho. No entanto, a maioria conseguiu otimizar as tarefas com o passar do tempo, de acordo com o estudo.
Mas o empenho resultou em pontos positivos às empresas. Em 61,5% delas, notou-se a melhoria na execução de projetos e em 58,5% se obteve mais criatividade na realização das atividades. Além disso, houve progressos significativos na comunicação entre os setores, com 44% apontando melhoria na relação com gestores.
“Tivemos também um ganho substancial na racionalização de reuniões e uso de Inteligência Artificial (IA), que facilitou algumas tarefas mais mecânicas como elaboração de atas de reunião ou relatórios”, explica Renata.
Segundo ela, nas empresas que integram o projeto-piloto nenhuma reunião é convocada se não houver um objetivo claro e uma pauta bem definida. Com isso, houve redução da frustração dos funcionários, porque há uma melhoria efetiva das condições do trabalho. “Tem mais equilíbrio e traz sensação de que a empresa confia mais na pessoa, que tem mais autonomia e objetivos claros a cumprir”, declara.
Entre as participantes estão empresas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas e Porto Alegre, que vão desde o segmento de alimentação, entretenimento e comunicação até jurídico e de saúde.
Próximos passos
Até o final de junho, as empresas deverão concluir o piloto, quando uma nova pesquisa quantitativa será realizada com todos os colaboradores, juntamente com entrevistas com a alta liderança e fundadores para uma avaliação perceptiva do projeto.
Os dados obtidos após o término do piloto serão considerados como os dados oficiais da semana de 4 dias no Brasil, com o lançamento de um relatório conclusivo e abrangente que detalhará o desempenho e os resultados alcançados, de acordo com a Reconnect.
Entre as empresas participantes estão:
- Ab Aeterno
- Brasil dos Parafusos
- Clara Associados
- Clementino & Teixeira Advocacia
- GR Assessoria Contábil
- Greco Design
- Haze Shift
- Hospital Indianópolis
- Innuvem
- Inspira
- Maker Brands
- Mol Impacto
- Noono
- Oxygen Hub
- PiU Comunica
- Plongê
- Rede Alimentare
- Smart Duo
- Soma CSC
- tks4s