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Na coluna da semana passada, trouxe para você, leitor, dados parciais do novo Congresso Nacional que denotam a reorganização de forças políticas e como ela influencia em uma eventual votação da Reforma da Previdência.
Digo parciais porque ainda temos muitas mudanças pela frente, a começar pela vigência da cláusula de desempenho, que afetará diretamente 9 partidos. Eles deixarão de receber dinheiro do Fundo Partidário em 2019 e terão grandes dificuldades para se sustentar. Naturalmente, os 32 deputados eleitos por estas siglas deverão mudar de legenda.
Também, como ressaltei no sábado passado, a reforma previdenciária depende da capacidade de negociação do novo governo executivo liderado por Jair Bolsonaro. O novo presidente tem papel central nessa missão: deve esquecer o lado mais ideológico de sua campanha e substituí-lo pelo dom da articulação, tão bem incorporado por presidentes como Lula e FHC e tão ausente em Collor e Dilma.
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Após alguns dias da definição do segundo turno, já me deixa desconfortável a retórica do candidato eleito. Em seus discursos e entrevistas, Bolsonaro escorrega em declarações carentes de republicanismo – valor tão prezado ao chefe de um Estado. Episódios como as declarações contra o jornal “Folha de S. Paulo”, contra professores da Fundação João Pinheiro de Minas e contra seus oponentes políticos, ainda que, segundo ele, sejam “exageradas” e “no calor do momento”, não cabem mais no Bolsonaro presidente.
Se as pérolas de Dilma minavam sua reputação, se Ciro Gomes teve de lidar com o temperamento explosivo e Alckmin com sua apatia, por que – em nome das reformas e do crescimento econômico – não deveríamos nos preocupar com a obsessão do novo eleito com declarações polêmicas?
Aqui, tenho a humildade de admitir que ninguém liga para como eu me sinto com relação ao militar. O que interessa é a confiança dos investidores. Nesse sentido, estou aqui sendo uma espécie de cupido político. Apesar de levemente preocupado, adoraria ver a lua de mel do mercado com Jair Bolsonaro dar certo. Os investidores estão prontos para curtir, mas devem estar atentos à qualquer traição ao pacto firmado entre as partes – o pacto econômico.
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Em outras palavras, o mercado escolheu confiar no novo Jair Messias e agora deve acompanhar bem de perto os seus movimentos e declarações. Sem querer ser pessimista, mas confiar cegamente no “maridão” é receita para o desastre.
Lançando mão de um tom moderado, o presidente poderá mostrar que amadureceu frente à responsabilidade de comandar o Brasil e, inclusive, dar uma contundente resposta ao investidor estrangeiro – responsável por 50% do capital negociado no mercado brasileiro de ações. Dois coelhos numa cajadada só. Dá confiança dos investidores e um recado para a imprensa estrangeira, que focou no seu passado polêmico e com lapsos autoritários.
Tão ou mais importante é uniformizar o discurso entre a sua equipe, para que os membros evitem ficar “batendo cabeça”, como ocorreu mais que o desejado durante a campanha presidencial. O presidente também não é nenhum pai para ficar desautorizando ou repreendendo suas crianças. Ou chega-se a um consenso para governar ou os incomodados que se retirem, porque senão não há diálogo com quem precisa ser convencido e, consequentemente, não há avanço.
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Vale ressaltar, também, que qualquer lapso autoritário do presidente é motivo de “separação” imediata. Estamos longe de qualquer tipo de governo fascista – não há espaço institucional para isso –, mas os pesos e contrapesos democráticos precisam funcionar.
Até sua posse, o candidato eleito terá pouca cobrança da sociedade para construir esses dois pilares imprescindíveis para um governo oxigenado. O pilar da moderação, da articulação pragmática e o do projeto sólido de governo, da divisão de responsabilidades e atribuições.
Contudo, não cobrar não significa ser irrestritamente leniente. Até pela urgência de uma retomada econômica, o acompanhamento da postura de Jair Bolsonaro deve ser feito de maneira atenta e desconfiada. Sem obstruções desnecessárias, mas criticando construtivamente quando necessário.