Em choque com governo Lula, Arthur Lira vê primo ser exonerado de cargo no Incra

Wilson César de Lira Santos, primo do presidente da Câmara, foi exonerado do cargo de superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas

Fábio Matos

Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados (Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

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A tensão entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ganhar novos contornos a partir desta terça-feira (16).

Em decisão publicada no Diário Oficial da União, o Executivo exonerou Wilson César de Lira Santos, primo do mandatário da Câmara, do cargo de superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas.

A exoneração do primo de Lira se dá poucos dias depois de o deputado ter subido o tom nas críticas ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), a quem chamou de “incompetente” e “desafeto”.

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As declarações do presidente da Câmara foram dadas no dia seguinte à manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), apontado pela Polícia Federal (PF) como um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em março de 2018.

O governo apoiou a manutenção da prisão do parlamentar. Lira foi questionado se teria ficado “enfraquecido” com o resultado da votação no plenário da Câmara. Alguns de seus maiores aliados articularam pela derrubada da prisão de Brazão.

“Essa notícia de hoje, que você está tentando verbalizar porque os grandes jornais fizeram, foi vazada pelo governo e, basicamente, pelo ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, incompetente”, disparou o presidente da Câmara.

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“Não existe partidarização. Eu deixei bem claro que ontem a votação é de cunho individual, que cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver”, completou Lira, na ocasião.

MST e o “abril vermelho”

A exoneração do primo de Arthur Lira do Incra ocorre também um momento turbulento para o órgão, em meio ao chamado “abril vermelho” encampado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Trata-se do mês durante o qual o MST leva a cabo a Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária, com uma série de invasões em todo o país. O grupo relembra os mortos no massacre de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, em abril de 1996.

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No domingo (14), o movimento anunciou a reocupação de uma fazenda da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Petrolina (PE), a cerca de 700 quilômetros de Recife (PE). Outras duas propriedades no estado também foram ocupadas – uma da Codevasf, cedida à Embrapa, e outra da falida usina Maravilha, que está em desapropriação.

Essas terras da Embrapa já haviam sido invadidas duas vezes no ano passado, o que gerou atritos com o governo Lula. As lideranças do MST alegam que o governo federal não cumpriu com a promessa de assentar as mais de 1,3 mil famílias acampadas na região. O grupo pedia a saída do primo de Lira do cargo no Incra.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário, ao qual o Incra está subordinado, informou que a saída de Wilson César de Lira Santos já estava prevista e não tem nenhuma relação com o embate entre o presidente da Câmara e o ministro Padilha. Até o momento, nem o Incra nem o próprio Arthur Lira se manifestaram sobre o assunto.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”