Janela partidária: PT e PL reforçam polarização, MDB e PSD ganham peso e PSDB afunda

Além de engordarem suas bancadas em importantes cidades, partidos de Lula e Jair Bolsonaro atraíram lideranças em municípios estratégicos e devem se enfrentar em pelo menos 12 das 26 capitais

Fábio Matos

Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

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A “dança das cadeiras” que marcou a reta final da chamada “janela partidária”, com idas e vindas de políticos que pretendem disputar cargos eletivos no pleito de outubro deste ano, reforçou uma tendência que já vinha se consolidando no tabuleiro político brasileiro nos últimos anos: a forte polarização entre o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além de engordarem suas bancadas em importantes cidades do país, as duas legendas conseguiram atrair lideranças locais em municípios estratégicos e devem se enfrentar em pelo menos 12 capitais brasileiras nas eleições de 2024. Apenas em março, período em que a “janela” esteve aberta, duas dezenas de pré-candidatos a prefeituras nas 26 capitais do país (em Brasília, não há eleição municipal) mudaram de partido.

A “janela” se fechou na sexta-feira (5), com o fim do período no qual vereadores poderiam trocar de legenda sem o risco de perderem seus mandatos – que teve início em 7 de março. De acordo com a Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997), somente são admitidos no processo candidatos vinculados a partidos políticos e que possuam domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pela qual pretendem participar da disputa, com antecedência de 6 meses. O primeiro turno das eleições municipais deste ano está marcado para o dia 6 de outubro.

No cenário atual, o PT de Lula e o PL de Bolsonaro devem se enfrentar em capitais como Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Manaus (AM), Goiânia (GO), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), João Pessoa (PB), Maceió (AL), Aracaju (SE), Florianópolis (SC) e Vitória (ES). Com as novas adesões na “janela” e uma meta ambiciosa de eleger mais de mil prefeitos em todo o país, o PL já conta com pré-candidaturas em 19 das 26 capitais. No mês passado, o partido conseguiu filiar representantes para se lançarem em Florianópolis, Rio Branco (AC), Campo Grande e Aracaju.

Uma das principais novidades foi a chegada do prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, que deixou o PP rumo à sigla de Bolsonaro após desentendimentos com o governador do estado, Gladson Camelli (PP). Em Florianópolis, a legenda atraiu o ex-deputado estadual Bruno Souza, que estava no Partido Novo. Em Campo Grande, o nome à prefeitura deve ser o do ex-deputado estadual Rafael Tavares. Em Aracaju, o PL pretende lançar a vereadora Emília Corrêa.

“Fator Lula”

O PT, por sua vez, apostou na força do governo federal para atrair nomes estratégicos em algumas capitais do país. Em Manaus, em uma articulação capitaneada diretamente por Lula, o ex-deputado federal Marcelo Ramos, que estava no PSD, desembarcou nas fileiras petistas e deve ser o nome do partido para disputar a sucessão municipal. O prefeito da capital do Amazonas é David Almeida (Avante), mas há nomes também ligados ao bolsonarismo, como Capitão Alberto Neto (PL) e Coronel Menezes (PP).

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O partido do presidente da República, que não elegeu prefeito em nenhuma capital do Brasil em 2020, tem pré-candidaturas ao Executivo em 16 capitais. Não estão entre elas algumas das principais cidades do país, como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Recife (PE) – nas quais o PT deve apoiar, respectivamente, Guilherme Boulos (PSOL), Eduardo Paes (PSD), Geraldo Júnior (MDB) e João Campos (PSB).

“De fato, quando olhamos para o cenário das capitais, observamos a repetição dessa polarização no debate eleitoral. Mas, como a eleição é municipal, os temas da cidade também vão aparecer”, pondera Carlos Eduardo Borenstein, analista político da consultoria Arko Advice.

“Em municípios com menos de 200 mil eleitores, teremos pleitos de um único turno. Isso indica que o candidato que obtiver em torno de 30% ou mais dos votos válidos, provavelmente, vai se eleger. Nesses casos, veremos bem clara a capacidade de transferência de votos tanto do Bolsonaro quanto por parte do presidente Lula. Principalmente em municípios pequenos e médios, a força do governo federal e da própria imagem de Lula, sobretudo no Nordeste, é expressiva”, afirma.

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MDB ganha força em São Paulo

Dois partidos que compõem o centro da política brasileira, o MDB e o PSD, estão entre os maiores vencedores ao fim da “janela partidária”. Nas últimas semanas, os emedebistas deram boas-vindas a pelo menos quatro pré-candidatos a prefeituras de capitais: Gabriel Azevedo (Belo Horizonte), Igor Normando (Belém), Euma Tourinho (Porto Velho) e Dr. Furlan, que é o prefeito de Macapá (AP) e tentará a reeleição. O partido sai da “janela” com ao menos 13 pré-candidaturas em capitais brasileiras.

A principal delas é São Paulo, maior colégio eleitoral do país, governada pelo emedebista Ricardo Nunes, que disputará um novo mandato. Na capital paulista, o MDB viu sua bancada na Câmara Municipal aumentar de 6 para 11 vereadores, superando as estimativas iniciais – a legenda atraiu quatro ex-membros do PSDB, que definhou em São Paulo (leia mais abaixo).

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O chefe do Executivo paulistano continua com o apoio da ampla maioria do Legislativo (37 de 55 vereadores). A chapa encabeçada por Nunes, que segue à procura de um candidato a vice, já tem a chancela de 10 partidos na capital. Por outro lado, o PSOL, de Guilherme Boulos (apontado como o principal rival de Nunes na corrida eleitoral), perdeu a vereadora Jussara Basso (que foi para o PSB) e caiu de 6 para 5 vereadores. O PT aumentou de 8 para 9 parlamentares, com a chegada de Adriano Santos (ex-PSB).

Em seguida, aparecem União Brasil (que se manteve com 7 vereadores), PSD e PL (que pularam de 3 para 6). No PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, entraram Thammy Miranda (ex-PL) e o ex-secretário municipal Carlos Bezzerra Júnior, um dos que debandaram do PSDB. O PL atraiu dois secretários estaduais do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos): Sonaira Fernandes (ex-Republicanos) e Gilberto Nascimento.

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PSD de Paes cresce no Rio

No Rio de Janeiro, assim como em São Paulo, a força da máquina administrativa municipal atraiu nomes importantes para o partido do prefeito. Favorito à reeleição, Eduardo Paes (PSD) foi o grande vitorioso da “janela” na capital fluminense – a bancada da legenda aumentou de 8 para 11 vereadores, de um total de 51. A chegada mais badalada é a do ex-prefeito Cesar Maia, hoje vereador, que estava no PSDB.

Nas últimas eleições municipais, o PSD elegeu apenas três vereadores no Rio. As estimativas para 2024 apontam para 15 eleitos. Embora negue a intenção de deixar a prefeitura antes do fim do mandato, aliados de Paes apostam que, em 2026, ele se lançará novamente candidato a governador – em 2018, foi derrotado por Wilson Witzel (PSL) no segundo turno.

PSDB “zerado” em 12 capitais

Maior derrotado da “janela partidária”, o PSDB perdeu todos os seus 8 vereadores e ficou sem nenhum representante no Legislativo municipal de São Paulo. Mesmo assim, os tucanos conseguiram filiar o apresentador de TV José Luiz Datena, que deve ser candidato a vice-prefeito na chapa liderada pela deputada federal Tabata Amaral (PSB).

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Mergulhado na maior crise de sua história, o PSDB não ficou sem vereadores apenas em São Paulo, mas em outras 11 capitais do país – incluindo Belo Horizonte e Rio de Janeiro, dois dos maiores colégios eleitorais do Brasil. Os tucanos também ficaram sem representação nas Câmaras Municipais de São Luís (MA), Recife (PE), João Pessoa (PB) e Florianópolis (SC). Em Curitiba (PR), Boa Vista (RR), Aracaju (SE), Maceió (AL) e Vitória (ES), o PSDB já não tinha vereadores eleitos no pleito anterior.

“É um problema adicional para o PSDB. Esse esvaziamento da estrutura partidária sinaliza que quem tem mandato hoje está fazendo um diagnóstico pouco animador em relação ao futuro do partido. Isso se transforma em um problema para uma legenda, que almeja recuperar o espaço que ocupou na política brasileira”, analisa Borenstein. Apesar da derrocada nacional, o PSDB teve adesões importantes em Cuiabá (MT) e Campo Grande (MS), com a chegada de 4 e 5 novos vereadores, respectivamente. Os tucanos governam o Mato Grosso do Sul, com Eduardo Riedel.

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Belo Horizonte

Como já se esperava antes do fechamento da “janela partidária”, Belo Horizonte registrou uma intensa movimentação de pré-candidatos entre as legendas que compõem a Câmara Municipal. Vinte dos 41 vereadores da capital de Minas Gerais trocaram de partido, com destaque para o MDB e o Republicanos, as maiores bancadas, com 5 representantes cada.

Embora a maioria das mudanças tenha ocorrido antes do prazo final estabelecido pela legislação eleitoral, houve movimentos de última hora. No último dia da “janela”, o vereador Reinaldo Gomes Preto Sacolão deixou o MDB após 10 anos e se filiou ao Democracia Cristã (DC), depois de ter negociado com PSD e PSB. O PSD, do prefeito Fuad Noman, perdeu 3 representantes no Legislativo municipal: Ramon Bibiano, Fernando Luiz e Cláudio do Mundo Novo. Ramon e Fernando Luiz são ligados ao presidente da Câmara, Gabriel Azevedo, opositor do prefeito, que estava sem partido e recentemente se filiou ao MDB. Mundo Novo seguiu rumo ao PL.

Porto Alegre

Em Porto Alegre, também houve modificações importantes na Câmara Municipal após o fim da “janela partidária”. Ao todo, 9 vereadores mudaram de legenda para as eleições de outubro. Entre as alterações, apenas a saída da vereadora Comandante Nádia, que trocou o PP pelo PL, não era esperada. As demais trocas já vinham sendo costuradas nos bastidores, com destaque para a migração do vereador Ramiro Rosário do PSDB para o Novo, que perdeu Mari Pimentel para o Republicanos.

O atual presidente da Câmara, Mauro Pinheiro, trocou o PL pelo PP. O PSDB, partido do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, perdeu um vereador e viu sua bancada diminuir de 4 para 3 integrantes. O MDB, do prefeito Sebastião Melo, aumentou de 3 para 4 parlamentares, ao lado de PT e PSOL.

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Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”