O que explica o fracasso dos IPOs da Uber e Lyft?

O timing talvez não pudesse ser melhor – para seus fundadores e executivos. Para os novos acionistas, nem tanto.

Marcelo López

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App do Uber
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As discussões fora do Brasil na última semana giraram em torno de dois grandes IPOs (ofertas públicas iniciais) recentes: Uber e Lyft, duas gigantes do setor de transporte urbano. Foram muitas as críticas aos investment bankers que coordenaram as ofertas por terem, aparentemente, errado feio na avaliação das empresas, especialmente na da Lyft.

Artigos e vários analistas na TV diziam que os banqueiros calcularam os preços incorretamente e que, por isso, os preços das ações haviam caído após os IPOs. Embora ambas as companhias já tenham anos de estrada, elas não atingiram uma fase de maturação suficiente para permitir um apreçamento decente de suas ações. A subjetividade e incerteza em casos com o delas é bem superior ao que é comum e inerente num valuation.

É óbvio que a abertura de capital ajuda a servir o propósito de dar um empurrão para o crescimento da empresa e que não é necessário que a empresa esteja na sua fase mais madura para vender ações em bolsa. Contudo parece-me prematuro demais uma oferta pública de empresas com visibilidade tão restrita quanto ao futuro de suas operações. O timing talvez não pudesse ser melhor – para seus fundadores e executivos. Para os novos acionistas, nem tanto.

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A Lyft, cujas ações já caíram cerca de 30% desde a abertura de capital, tinha um valor de mercado de US$ 24 bilhões no dia inaugural. A capitalização de mercado da Uber estava acima de US$ 75 bilhões. Nada mal para empresas que consomem caixa e nunca deram lucro. Está parecendo que esse tal de lucro é coisa do passado. WeWork, Dropbox e Tesla estão aí para defender essa tese.

A Lyft teve um prejuízo de quase US$ 1 bilhão em 2018, enquanto a Uber teve um prejuízo de cerca de US$ 1,8 bilhão. Vai ver que está aí a justificativa para o valuation da Uber ser mais alto que o da Lyft – estão sendo medidos por perdas, não por lucros. Nas semanas que antecederam sua estreia na bolsa, a Uber teve que escrever com todas as letras no prospecto de emissão que poderia nunca ser lucrativa.

Alguns investidores enxergam nessas empresas a chance de acertarem em cheio e vê-las se transformarem em gigantes de sucesso como Apple, Google, Amazon e Facebook, por exemplo. A esses, sugiro fortemente revisitarem o case das quatro, antes de traçarem qualquer paralelo.

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Para deixar claro, não estou fazendo uma crítica às empresas em si, de cujo serviço sou usuário. Acredito, inclusive, que elas tenham contribuído significativamente para a mobilidade urbana e, especialmente em países com alta taxa de desemprego, trazido um alento a uma parte da população.

Meu ponto é que os bancos centrais anestesiaram totalmente o mercado ao abaixarem as taxas de juros artificialmente, fazendo com que os investidores corressem tão avidamente atrás de yield e retornos, que não se preocupam com o risco envolvido. Pode ser que leve anos para que nomes como Lyft, Uber, Snap e Pinterest comecem a gerar caixa e quanto mais distante esse dia estiver de hoje, menor é o seu valor, por definição.

Essa estratégia de comprar algo caro na esperança de vender depois mais caro não é investimento para mim – é pura especulação. E é onde estamos hoje. Cuidado com os investimentos se torna ainda mais importante quando todos à nossa volta estão sendo menos cuidadosos, já disse uma vez Buffett. Essa frase talvez nunca tenha sido tão pertinente.

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Marcelo López

Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.