Títulos de inflação contrariam previsões e pagam quase 6% ao ano; é hora de investir?

Analistas admitem que expectativa do mercado financeiro não se concretizou e taxas devem seguir altas no primeiro semestre

Leonardo Guimarães

(Getty Images)
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O mercado financeiro foi surpreendido no primeiro trimestre de 2024 pela resiliência das taxas dos títulos públicos. O Tesouro IPCA+ termina março pagando juro real de até 5,88% ao ano, enquanto analistas previam, no fim de 2023, taxas mais próximas – ou até abaixo – de 5%. 

Em março, quem investiu no Tesouro IPCA+ 2055 teve retorno de -2,73% porque a taxa do papel subiu de 5,68% para 5,82% – na renda fixa, quando as taxas sobem, o investidor perde rentabilidade com a marcação a mercado. Nenhum título disponível para compra no programa com componente prefixado na remuneração entregou rentabilidade positiva no mês.

A explicação para as previsões não cumpridas está nos Estados Unidos. “No início de dezembro, o mercado entrou em euforia impulsionada por declarações do presidente do Fed (banco central dos EUA) e precificou o início do ciclo de corte de juros em março”, explica Daniel Leal, estrategista de renda fixa da BGC Liquidez. Agora, no início de abril, a discussão é se o ciclo vai começar em junho. 

No cenário doméstico, as preocupações com as contas públicas ajudam a explicar as taxas ainda altas. “Poderíamos ter taxas mais baixas se houvesse confiança na política fiscal do governo”, diz Leal. 

O grande gatilho para o fechamento das taxas é o início do corte de juros nos Estados Unidos, hoje esperado para junho. Mas isto não significa que as taxas devem começar a fechar no meio do ano, já que o mercado sempre tenta se antecipar aos fatos: assim que o Federal Reserve sinalizar com mais clareza quando virão os cortes, os juros devem começar a cair com mais força. 

As taxas abaixo de 5% estão, agora, num horizonte um pouco mais distante: o segundo semestre de 2024. Além dos cortes de juros nos EUA, Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, lista “avanços mais significativos no ambiente fiscal” como gatilho para fechamentos relevantes no Tesouro IPCA+, que não deve acontecer no curto prazo, segundo ele. 

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Para o investidor, o que resta é aproveitar. Especialistas consideram as taxas atrativas e dizem que vale a pena entrar nos papéis para se proteger contra a inflação e ainda ganhar retorno real perto de 6%. 

“Com os prêmios nos níveis atuais e a possibilidade de um repique inflacionário no médio a longo prazo, os ativos do Tesouro IPCA+ tendem a ter melhor desempenho frente aos prefixados”, projeta Caetano. 

Antes do fechamento das taxas, há o “risco” dos juros reais do Tesouro IPCA+ abrirem acima dos 6% ao ano. O movimento, porém, é classificado como improvável por Daniel Leal. Caetano concorda, e explica: “caso tenhamos inflação não arrefecendo conforme o esperado, pautas fiscais ainda incertas e redução da Selic em ritmo mais cauteloso, podemos, sim, ter continuidade da escalada dos prêmios nos títulos públicos”. 

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Na última semana, o Tesouro Nacional promoveu leilão de NTN-Bs (Tesouro IPCA+ com juros semestrais), classificado por Alexandre Cabral, professor de derivativos da B3, como “o pior do ano”. “O mercado não quer o papel, ou quer com mais taxa”, disse o especialista. A falta de demanda para o título nesse nível de taxa mostra que ainda há espaço para alta nos juros do Tesouro Direto.