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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem atribuiu a responsabilidade de “contribuir para o atraso do crescimento econômico” do Brasil.
“Não tem nenhuma explicação os juros da taxa Selic estarem a 11,25% [ao ano]. Não existe nenhuma explicação econômica, nenhuma explicação inflacionária, não existe nada”, afirmou Lula em entrevista ao SBT, exibida na noite desta segunda-feira (11). “Nada, a não ser a teimosia do presidente do Banco Central em manter essa taxa de juros”.
O presidente da República não citou o nome de Campos Neto e voltou a chamá-lo de “esse cidadão”, mas ponderou ter “conversas civilizadas com ele”. “Eu imaginei que ele seria mais prudente, mais rápido [para cortar os juros]”.
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“Esse cidadão, quando ele deixar o Banco Central, ele vai ter de medir o que que ele fez para esse país. Porque na verdade o que ele está fazendo nesse instante é contribuir para o atraso do crescimento econômico desse pais”, afirmou Lula ao SBT Brasil. “O que ele está contribuindo é para que o povo brasileiro fique mais tempo esperando a oportunidade de trabalhar, de ganhar um pouco a mais de salário. E isso não tem explicação”.
O petista disse saber que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), empresários e a sociedade brasileira “sofrem” com os juros altos, mas ponderou que o mandato de Campos Neto acaba neste ano. “Nós vamos ter de ter paciência, na expectativa de que não se faça mais bobagem e que vá se reduzindo a taxa de juros, para que a gente possa sonhar em ter políticas de crédito para pequenas e médias empresas, para pequenos e médios empreendedores individuais, para cooperativas. E para que a economia possa deslanchar”.
Mais sobre a entrevista:
• Lula diz que “não existe essa bobagem de vale-carne”: “Eu ri muito quando vi”
• “O Brasil está polarizado entre duas pessoas”, afirma presidente sobre Bolsonaro
• Lula fala em “choradeira do mercado” e diz que Petrobras não pode pensar só nos acionistas
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Petrobras e polarização
O presidente falou também de outros assuntos, como a não distribuição de dividendos extraordinários pela Petrobras (PETR3; PETR4) e a polarização da política brasileira “entre duas pessoas”. Respondeu ainda a perguntas sobre a sua popularidade e até um “vale carne” para beneficiários do Bolsa Família.
Sobre a Petrobras, Lula afirmou que a empresa deve ter preocupação com os brasileiros, não apenas com os acionistas. Segundo o petista, a estatal não pode se esquecer de que “tem uma missão” e mercado financeiro é como “um rinoceronte, um dinossauro voraz que quer tudo para ele e nada para o povo”. “Se eu for atender apenas à choradeira do mercado, você não faz nada”.
“Será que o mercado não tem pena das pessoas que passam fome? Será que o mercado não tem pena de 735 milhões de pessoas que não têm o que comer? Será que o mercado não tem pena das pessoas que dormem na sarjeta no centro de São Paulo e do Rio de Janeiro? Será que o mercado não tem pena das meninas com 12 e 13 anos que, às vezes, vendem o corpo por causa de um prato de comida?”, questionou Lula.
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Sobre a polarização da política brasileira, entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente afirmou que trata-se de um fenômeno global, que deve permanecer por algum tempo. “Não me preocupo com a polarização, porque o Brasil foi polarizado entre PSDB e PT durante muito tempo”, recordou Lula, mencionando as disputas que travou com Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998), José Serra (2002) e Geraldo Alckmin (2006), que atualmente é seu vice-presidente e está filiado ao PSB.
Popularidade e “vale carne”
Lula foi questionado sobre pesquisas recentes de opinião, que mostram que a aprovação do atual governo atingiu os patamares mais baixos desde que o presidente tomou posse para seu terceiro mandato. Ele minimizou os resultados negativos e se disse confiante de que o governo entregará resultados. “Eu tenho certeza absoluta de que não tem nenhuma razão do povo brasileiro me dar 100% de popularidade, porque ainda nós estamos muito aquém daquilo que prometemos”.
“A gente tem de entendê-la [a pesquisa] como uma fotografia em função do momento em que você está vivendo. E você utiliza a pesquisa não para ser contra ou para ficar feliz ou muito triste por causa da pesquisa. Você utiliza a pesquisa como instrumento de ação e de mudança da sua estratégia de governo”, afirmou na entrevista.
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Sobre a criação de um “vale carne”, um voucher para famílias mais pobres, Lula afirmou que “não existe essa bombagem de vale carne”. “Eu ri muito quando vi a notícia”, disse o petista sobre reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo na quarta-feira (6).
Segundo a reportagem, a ideia teria sido apresentada por um grupo de pecuaristas do Mato Grosso do Sul ao ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT). Lula falou sobre o contexto da notícia. “Foi o seguinte: um cidadão entregou uma carta ao ministro, e esse ministro mandou a carta para [o Ministério d]a Casa Civil e disse para a empresa que ia estudar [a proposta]”.