Publicidade
Mais um passo para o “fim de uma era” de dividendos gordos para a Petrobras (PETR3;PETR4) se desenhou na noite da última quinta-feira (7), quando a companhia divulgou o não pagamento dos tão esperados proventos extraordinários, base para a tese positiva de muitos analistas para a companhia estatal.
Entre o noticiário de que os dividendos “represados” em uma reserva estatutária podem ser pagos a qualquer momento – já que, segundo o estatuto, não podem ser usados para investimentos – e os rumores de que as regras do estatuto podem ser mudadas, a incerteza aumentou e as ações da companhia fecharam a sessão de sexta (8) em forte queda, movimento que se seguiu na segunda, após os papéis ensaiarem uma leve recuperação. Confira abaixo o passo a passo das baixas nas últimas duas sessões:
1. O prenúncio da derrocada
O mercado já começou a se preparar para receber “más notícias” por volta das 21h (horário de Brasília) da última quinta-feira (7), enquanto aguardava ansiosamente pelos dividendos e pelo resultado da companhia. O Broadcast divulgou, citando fontes, que a companhia não pagaria dividendos extraordinários, que era a base para diversas recomendações mais otimistas com a estatal, fazendo com que os ADRs (American Depositary Receipts, equivalentes a ativos negociados nos EUA) PBR da Petrobras (equivalentes aos ordinários) chegassem a cair 13% no after-market da NYSE. As negociações no pós-mercado americano se encerraram às 22h, com PBR em queda de 9,10%.
2. Oficial: sem dividendos extraordinários
Às 22h06, ou seja, seis minutos após o encerramento do after-market da NYSE, a Petrobras divulgou o comunicado tão esperado e que confirmou os rumores de não pagamento de dividendos extraordinários. Foi feita proposta pelo Conselho de distribuição de dividendos ordinários de R$ 14,2 bilhões, sem pagamento extra. Enquanto isso, a proposta é de que um valor de R$ 43,9 bilhões fosse destinado para uma reserva estatutária.
Logo na sequência, a companhia divulgou seus resultados do período, com um lucro de cerca de R$ 31 bilhões, queda anual de 28% e abaixo das projeções, assim como o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) decepcionou as projeções, mas por efeitos não-recorrentes. Contudo, o resultado foi totalmente ofuscado pelo noticiário sobre os dividendos (ou a falta deles).
3. Primeiros diagnósticos: nada positivo para o investidor
As primeiras avaliações dos bancos e analistas já deram o tom do que seria uma sessão bastante negativa para a ação. O Itaú BBA ressaltou a decisão de não pagamento de dividendos extraordinários como a “notícia que ninguém gostaria de ouvir”, enquanto a XP destacou que o anúncio faz com que os investidores repensem sua visão sobre os riscos da Petrobras.
Continua depois da publicidade
4. Onda de revisões de recomendações para baixo
Antes da abertura do mercado, diversas casas que tinham recomendação de compra para a ação rebaixaram para neutra, caso de Santander, Bank of America e Bradesco BBI. Os analistas do BBI ressaltaram que a decisão da empresa de pagar apenas US$ 2,9 bilhões em dividendos pelos resultados do quarto trimestre, com base no mínimo exigido pela política da estatal, “traz incerteza à política, que costumava ser muito clara”. “Como resultado, não vemos mais o ‘dividend yield’ da Petrobras como atraente em comparação com seus pares globais”, apontou.
Petrobras fora da carteira de proventos? Veja o que fazer sem dividendos extraordinários
Atratividade da empresa se mantém relevante para parte dos analistas, mas endividamento preocupa
Opções de venda da Petrobras (PETR4) chegam a subir mais de 1000% com queda das ações
Movimentação acontece após divulgação de resultados do quarto trimestre junto da não distribução de dividendos extraordinários
Para o Santander a falta de dividendos extraordinários manda sinais confusos em relação à estratégia de alocação de capital de curto prazo, especialmente porque vê a Petrobras detendo cerca de US$ 18 bilhões em caixa no final de 2023. Mais para o fim da sessão, foi a vez do Morgan Stanley rebaixar a recomendação.
5. Perda de até R$ 72 bilhões de valor de mercado
Na B3, as ações já abriram com queda de mais de 10%, com a companhia chegando a perder R$ 72,7 bilhões em valor de mercado no pior momento do dia, quanto as ações preferenciais recuaram 13,1%, a R$ 35,10, e as ONs caíram 14%, a R$ 35,47.
Continua depois da publicidade
6. Rumores confirmados de divisão do Conselho: Prates mais fraco?
Além das revisões em si e expectativa de dividendos, outro fator de pressão foi o noticiário sobre os bastidores da reunião do Conselho que decidiu apenas pela distribuição dos dividendos mínimos.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi voto vencido em decisão do conselho, conforme apontou a Reuters. A diretoria comandada por Prates tinha proposta de distribuir 50% dos dividendos extraordinários possíveis pelo estatuto, mas conselheiros ligados à União barraram a ideia. Posteriormente, em teleconferência, Prates confirmou que defendeu a distribuição de metade dos proventos extra permitidos. “Eu, como presidente, me abstive de votar, porque não faria diferença nenhuma para o resultado, e acompanhei o voto da minha diretoria que propôs 50%/50%, foi nosso encaminhamento inicial”, disse Prates.
7. Executivos tranquilizaram, mas alívio durou pouco
As ações chegaram a diminuir as perdas para cerca de 8% durante a teleconferência de resultados que teve início no fim da manhã, após executivos da companhia afirmarem que a companhia poderá distribuir aos acionistas montante destinado à reserva estatutária a qualquer momento, caso haja uma decisão futura neste sentido.
Continua depois da publicidade
Contudo, na última hora de pregão, os papéis voltaram a cair mais forte com a notícia da Reuters de que a decisão do conselho de administração partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governo quer que a empresa use para investimentos o dinheiro que seria destinado à remuneração extra aos acionistas. Além disso, para que a Petrobras possa usar os recursos da reserva estatutária, o governo vai tentar mudar regra relacionada ao tema. PETR3 fechou em queda de 10,37%, PETR4 caiu 9,14%, levando a uma perda de mais de R$ 50 bilhões de valor de mercado em só uma sessão.
Confira o gráfico que mostra o desempenho das ações PETR3 na última sexta:
8. Recuo continua na segunda
Quem esperava um alívio para as ações da Petrobras na segunda-feira (11) pós turbulência viu mais uma vez uma queda dos ativos, fracassando em manter a recuperação observada no intraday. PETR4 fechou em queda de 1,30%, a R$ 35,65, após chegar a subir a R$ 37,74. Os investidores chegaram a reagir positivamente à notícia de que poderia haver reversão da decisão que reteve os dividendos extraordinários e das falas de Prates reafirmando que as reservas de R$ 43,9 bilhões iriam para os proventos. Contudo, ao longo da sessão, os papéis amenizaram os ganhos, virando para queda na reta final, após o presidente Lula afirmar em entrevista ao SBT que a Petrobras não tem de pensar apenas nos seus acionistas, defendendo que recursos destinados a dividendos sejam transformados em investimentos.
Continua depois da publicidade
Antes da divulgação das declarações de Lula na entrevista, o CEO da estatal, Jean Paul Prates, disse que a proposta feita pela diretoria para distribuir 50% dos volumes possíveis de dividendos extraordinários referentes a 2023 ainda está na mesa e poderia ser aprovada em assembleia de acionistas prevista para abril. Prates, Lula e o ministro Fernando Haddad estavam reunidos em Brasília quando a bolsa fechou.
You must be logged in to post a comment.