Coisas que nenhum governo pode fazer com o Bitcoin: confisco de poupança

Com o Bitcoin, ninguém fica refém de algum plano maluco idealizado por economistas desconectados do mundo real. Ninguém fica sujeito a um experimento de laboratório social imposto por políticos iletrados e inconsequentes.

Fernando Ulrich

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Imagine a seguinte cena: você acorda, senta-se à mesa para tomar o café da manhã, abre o jornal e se depara com a manchete do dia: “Governo confisca o dinheiro da poupança dos brasileiros”. O que você faz depois disso? Qual seria a sua reação? Incredulidade? Desespero e angústia?

Hoje em dia, uma notícia assim pode soar absurda, surreal. Mas ela é verídica. E aconteceu no Brasil, em março de 1990, logo após a posse do presidente recém-eleitoFernando Collor de Mello.

O Plano Collor, como ficou então consagrado, era mais um tresloucado plano econômico concebido para debelar a inflação. Mas como refrear a emissão tão descontrolada da moeda nacional, que dizimava o poder de compra do dinheiro dos brasileiros? Simples, bastava remover grande parte do dinheiro em circulação por meio de um confisco generalizado de contas-correntes, da poupança e dos depósitos overnight.

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Capa da revista Veja de março de 1990

Em outras palavras, bastava “tungar” o bolso dos cidadãos honestos para conter a inflação engendrada pelo próprio governo.

Aos olhos de muitos economistas, como Luiz Gonzaga Belluzzo, o plano era drástico, mas corretíssimo do ponto de vista técnico. A ideia brilhante era forçar uma dramática deflação monetária, o que obrigaria comerciantes e empresas a reduzir os preços para vender seus estoques. Preços menores, inflação menor. Esse era o racional dos economistas mentores do plano.

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Na verdade, além de péssimo, o plano também era um tanto complexo de explicar. Tão complexo que nem a própria Ministra da Economia, Zélia Cardoso de Mello, conseguia esclarecer as infindáveis dúvidas dos cidadãos.

Desastrosa coletiva de imprensa da equipe econômica do governo para explicar o bizarro Plano Collor

Após o anúncio do plano, a economia parou por completo. As empresas não sabiam como poderiam pagar os funcionários e fornecedores. Os cidadãos, aflitos e desesperados, não tinham ideia de como conseguiriam sustentar suas famílias.

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“Casos de infarto, suicídio, depressão abalaram lares de brasileiros”, conta Míriam Leitão em seu livro sobre a inflação brasileira: “Difícil é encontrar alguém que não tenha sofrido ou que não tenha ouvido contar, em sua família, um episódio dessa nossa desdita coletiva”.

Do ponto de vista da teoria econômica, o confisco da poupança era uma aberração; do ponto de vista ético, um roubo descarado do dinheiro dos brasileiros, uma descabida agressão contra a propriedade privada. O Plano Collor foi tecnicamente equivocado, injusto e imoral. Medidas bizarras, consequências catastróficas. Somente economistas munidos de teorias estapafúrdias podiam justificá-lo.

Mas como o governo conseguiu levar a cabo tamanha contravenção? Como foi possível perpetrar um confisco generalizado das poupanças de milhões de brasileiros? Ora, a resposta é simples. Como todo o sistema bancário é controlado pelo Banco Central e demais órgãos reguladores e governamentais, qualquer desobediência seria facilmente identificada.

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Os bancos eram obrigados a cumprir os ditames impostos pelo Plano Collor, caso contrário, estariam agindo fora da lei. Por serem empresas devidamente estabelecidas, qualquer desvio de conduta podia (e pode) ser facilmente punido pelo governo.

Cúmplices ou vítimas, a verdade é que os bancos e seus funcionários não tinham alternativa senão cumprir ao pé da letra o confisco imposto por força de lei. E, assim, bloquearam as contas de inúmeros brasileiros, limitaram os saques em espécie, concluindo a instalação do caos nacional – planejado pelo canetaço de políticos e justificado por economistas renomados.

Em um sistema como o Bitcoin, essa insensatez jamais teria acontecido. É simplesmente impossível qualquer governo confiscar a carteira de bitcoins de algum cidadão. E como não há uma organização que possa ser intimidada pelo poder público, o governo tampouco poderia obrigar alguma empresa ou banco a entregar ou bloquear as contas de clientes.

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Com o Bitcoin, ninguém fica refém de algum plano maluco idealizado por economistas desconectados do mundo real. Ninguém fica sujeito a um experimento de laboratório social imposto por políticos iletrados e inconsequentes.

Em total contraste ao malfadado sequestro das poupanças dos brasileiros no Plano Collor, nenhum governo pode confiscar seus bitcoins. Isso, por si só, já é uma enorme vantagem frente a qualquer moeda nacional. 

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Fernando Ulrich

Fernando Ulrich é Analista-chefe da XDEX, mestre em Economia pela URJC de Madri, com passagem por multinacionais, como o grupo ThyssenKrupp, e instituições financeiras, como o Banco Indusval & Partners. É autor do livro “Bitcoin – a Moeda na Era Digital” e Conselheiro do Instituto Mises Brasil