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Com foco nos projetos de expansão de capacidade produtiva e redução de custos já em andamento, a Klabin não parece interessada em fazer novos investimentos, ao menos nos próximos dois anos. Por outro lado, a companhia acredita em uma participação mais relevante de seus produtos com maior valor agregado nos seus resultados futuros, seja na parte de papel e embalagem, como na de celulose. O balanço do quarto trimestre de 2023 já aponta para essa direção.
Em entrevista ao Por Dentro dos Resultados do InfoMoney, Marcos Ivo, CFO da Klabin, detalhou os segmentos mais rentáveis para a empresa e traçou algumas perspectivas. Primeiro, destacou a celulose fluff, feita de fibra longa, como diferencial da companhia. O material é utilizado na produção de fraldas e absorventes femininos, com maior capacidade de absorção.
Em 2023, ano difícil para o mercado de celulose como um todo, o fluff foi impulso importante para o segmento dentro da companhia. O CFO explica que a matéria-prima equivale a 80% das vendas de fibra longa.
“No ano inteiro de 2023, a diferença de preço por tonelada em relação à fibra curta foi de US$ 392 por tonelada, mostrando claramente o diferencial de valor agregado que tem o produto e que esse mercado tem uma dinâmica de preço bem diferente”, afirma o executivo.
“Eu diria que essa é uma confirmação de algo que a Klabin percebeu lá atrás quando fez o projeto Puma I, dando início à produção de celulose fluff”. Mesmo reconhecendo a importância da celulose de alto valor agregado nos números, a companhia voltou a dizer que, por enquanto, não tem planos de investir na ampliação da capacidade produtiva desse material.
“Numa visão de longo prazo, a Klabin tende sim a aumentar a sua capacidade de produção em fluff. No entanto, o foco da empresa nos próximos 18 meses, pelo menos, é a conclusão de importantes projetos: Puma II (de papel cartão e kraftliner) e Figueira (de papelão ondulado), que trarão crescimento do volume de produção da companhia e melhores custos, pela maior diluição de custos fixos. […] Mas, no longo prazo, a Klabin deve ter sim novas capacidades em fluff”, afirmou Ivo.
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Papel cartão e sacos industriais
O projeto Puma II consiste em duas máquinas. A primeira, a MP 27, que produz kraftliner de eucalipto e que de atingir capacidade plena de produção este ano, com 450 mil toneladas. Já máquina 28 foi feita para produzir papel cartão e teve início de produção em junho do ano passado.
“Nesse equipamento, tecnicamente, é necessário começar produzindo kraftliner, migrar para o white top liner, para o papel cartão mais simples até chegar nos produtos que são o maior foco da Klabin, de maior valor agregado”, explica o CFO, acrescentando que a MP28 já trouxe uma contribuição importante para os resultados do quarto trimestre.
Ivo cita o carrier board, o papel cartão utilizado para embalar cervejas e outras bebidas, feito de fibra longa e de alta resistência; e, principalmente, o liquid packaging board (LPB), para fazer caixas de suco e de leite. “É o produto de maior valor agregado no mundo dos papéis e a Klabin é a única empresa no Brasil que o produz, além de estar entre os três principais produtores do mundo. Vendemos no Brasil e exportamos para uma quantidade grande de países”, diz o CFO.
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Por ser um produto de contato direto com alimentos, ele está em fase de homologação com os clientes. “Este processo se iniciou no ano passado e nossa estimativa é que até o início do terceiro trimestre deste ano, nós tenhamos o LPB aprovado nos nossos principais clientes e após isso a gente faz a mudança no mix de produção da máquina 28. A gente reduz o kraftliner e incrementa a de papel cartão, o que deve melhorar a rentabilidade da companhia”, afirma Ivo.
Em relação ao Figueira, o CFO explica que o projeto segue em construção dentro do cronograma de do orçamento. A expectativa é a de que o início da produção de papelão ondulado ocorra no segundo trimestre deste ano. “A partir do início da produção, seguindo o ramp-up, vamos a contribuição da geração de caixa na companhia”.
Em um momento no qual o kraftliner para exportação continua com preços em patamares baixos, o início do projeto Figueira vai ser importante para a Klabin aproveitar perspectivas de crescimento da economia, com a venda de papelão ondulado.
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“O Figueira entra em um momento excelente, com mercado crescente, no qual a Klabin reduzirá a exportação de kraftliner, manterá mais papel no Brasil, transforma esse papel em caixa de papel ondulado e vende para nossos clientes internamente”.
Ivo diz que a companhia também tem perspectivas positivas para um outro produto de valor agregado da empresa: os sacos industriais. Hoje, 60% do negócio é voltado à construção civil e outros 40% atendem a diversos segmentos. “A Klabin também diversificou a sua geografia de vendas. Hoje a exportação tem uma participação relevante na venda de sacos industriais, principalmente na América do Norte, nos Estados Unidos e México”.
Com essa estratégia, em um momento de menor demanda na construção civil, como no ano passado, a Klabin consegue desviar volumes para outros mercados de maior rentabilidade.
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“A nossa estratégia nesse segmento é muito focada em rentabilidade, mais do que em crescimento de volume, porque os volumes são definidos pela minha capacidade de produção, que está comprimida”, explica o CFO.
Controle de custos, mesmo em cenário volátil
Em 2023, a Klabin se apoiou em uma série de iniciativas para lidar com a volatilidade dos mercados e conseguir reduzir custos. Trabalhou na otimização de áreas administrativas, o que começou a se refletir nos números da companhia no terceiro trimestre e se intensificou no quarto, em termos de redução de despesas. “O novo patamar de gastos gerais e administrativos permanecerá em 2024”.
O crescimento de produção, com o ramp-up das máquinas de Puma II também dilui o custo fixo – o que já ocorreu em 2023 e deve ser acontecendo até 2027, quando a capacidade plena de produção do projeto for alcançada.
“No primeiro ciclo do projeto, planejamos usar madeira de terceiros, que está mais longe, com custo mais elevado. A partir do segundo ciclo, substituindo por madeira própria, conseguimos um menor custo caixa dos nossos produtos. Isso já está acontecendo e será acelerado com o Projeto Caetê”, diz Ivo.
No final do ano passado, a Klabin anunciou a aquisição de 85 mil hectares de áreas florestais produtivas da Arauco por US$ 1,160 bilhão. O negócio ainda depende da aprovação dos reguladores, mas a empresa acredita que será concluída ainda na primeira metade deste ano – o valor seria desembolsado no segundo trimestre de 2024. A aquisição está em linha com o alvo de autossuficiência de 75% em madeira.
Desde que Puma II foi lançado, a Klabin projetava usar madeira de terceiros no primeiro ciclo de abastecimento do projeto e, a partir do segundo ciclo, utilizar madeira própria da companhia, a fim de reduzir o custo caixa dos produtos. A companhia projeta custo caixa total por tonelada de R$ 3,1 mil em 2024.
“Após colhermos toda a madeira que está plantada lá, a Klabin vai ter um excedente de áreas produtivas de aproximadamente 60 mil hectares. […] Portanto, a empresa vai conseguir monetizar essas terras excedentes”, afirma Ivo.
Segundo ele, após o pagamento do projeto Caetê, o caixa da Klabin ainda estará entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões. “E a companhia tem uma linha de crédito rotativo de mais de US$ 500 milhões não sacada. Nossa liquidez segue bastante robusta e conservadora após o pagamento de Caetê. Então não precisamos a recorrer a nenhuma linha de financiamento nova, nem um empréstimo novo”.
Questionado se a Klabin tem apetite por novos investimentos pós-Caetê, Ivo reforçou que o compromisso da companhia, ao menos em um horizonte de 18 meses, é a entrega dos atuais projetos. “No longo prazo, a companhia tem vantagens competitivas nos mercados onde atua e naturalmente teremos boas oportunidades de investimento para crescimento com geração de valor aos acionistas.”