Lições de países mais civilizados

A difusão do conhecimento, da tecnologia, da organização política e social e dos demais atributos que configuram o progresso da civilização sempre esteve associada aos hábitos e costumes de povos e nações que, por uma circunstância ou outra, abriram-se ao convívio e ao compartilhamento das experiências com vizinhos ou com centros mais desenvolvidos, quase sempre em decorrência do contato comercial.

Rubens Menin

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Costumo observar que muitos brasileiros cultivam e expressam uma ideia equivocada acerca da validade de nos compararmos com outros países ou de nos inspirarmos no comportamento de outros povos. Não existe na história da humanidade um único exemplo de nação ou povo que tenha se fechado em si mesmo e vivido uma experiência autárquica de forma bem-sucedida. Pelo contrário, sempre que isso ocorreu em diversas épocas e em distintas realidades (desde o isolamento albanês até o fechamento da sociedade japonesa, para ficar em dois exemplos muito conhecidos) os respectivos povos acabaram por acumular um expressivo atraso no ritmo de desenvolvimento econômico e social e na melhoria da qualidade de vida. A difusão do conhecimento, da tecnologia, da organização política e social e dos demais atributos que configuram o progresso da civilização sempre esteve associada aos hábitos e costumes de povos e nações que, por uma circunstância ou outra, abriram-se ao convívio e ao compartilhamento das experiências com vizinhos ou com centros mais desenvolvidos, quase sempre em decorrência do contato comercial.

Fiz essa longa introdução histórica para enfatizar a conveniência de mudança na postura daqueles mais críticos ao cotejo internacional e mais preconceituosos sobre a validade de buscarmos, na realidade externa, exemplos bem-sucedidos de comportamento, em favor do nosso próprio êxito e da necessidade de acelerarmos o progresso nacional e o avanço do nosso bem-estar. Esses exemplos costumam estar distribuídos em diferentes campos, envolvendo aspectos distintos, mas, quase sempre, acabam resultando de paradigmas mais evoluídos de comportamento e de pensamento relacionados com as formas de organização social, com os níveis de educação, com os padrões gerais de ética, com o espírito de solidariedade, com os processos de produção, com a criatividade, com o respeito ao próximo e com a responsabilidade individual. Tudo com causa e conseqüência.

De fato, essas relações transparecem no exemplo simples da organização da produção praticada na fabrica de automóveis da Honda, em Tóquio, onde os pisos das instalações são tão limpos que mais parecem os de um hospital muito asseado. Isso, que já se transformou em um hábito cultural arraigado no Japão, é um dos fatores que contribuem para o elevado padrão de qualidade final obtido naquele país. Mas, além disso, os produtos mais competitivos da indústria local acabam alavancando os padrões de renda e qualidade de vida. O que haveria de mau se nos inspirássemos neste exemplo, como os coreanos estão fazendo?

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Para não fugir dos exemplos simples, um pátio de estacionamento nos estádios ingleses, com a mesma capacidade de um similar nacional, esvazia-se, após o término do evento esportivo, em um tempo surpreendentemente menor do que o observado por aqui. A diferença pode ser creditada ao espírito de cortesia colaborativa dos ingleses, na busca do máximo benefício geral, em lugar da atitude que leva os brasileiros a utilizarem o “jeitinho” e a truculência para buscar vantagens individuais. Outros exemplos dessa natureza, incluindo atitudes coletivas de solidariedade, ajudariam a explicar, também, porque os povos nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega, etc.) alcançaram os níveis mais elevados de educação e qualidade de vida do Planeta. Não valeria a pena tê-los como paradigma ou fonte de emulação?

Para concluir este tópico, pretendo fazer um exercício de generalização: povos e nações que apresentam comportamentos similares aos exemplos mencionados, coincidentemente, ajustam-se a um padrão ético mais civilizado. Não é comum, entre eles, a vandalização de bens públicos e privados ou as demonstrações de baderna coletiva. Pelo contrário, o sentimento dominante ali é a consciência de que a manutenção estrita do Estado de Direito é vantajosa para toda a população, gerando um ambiente favorável ao progresso e à prosperidade. Consequentemente, a maioria compartilha a consciência de que o patrimônio depredado ou destruído terá que ser, inevitavelmente, reposto e pago pela população.