A pergunta que não quer calar: de onde a Petrobras tirará dinheiro para Libra?

O plano de investimentos da estatal pode transformá-la em uma das 10 maiores empresas do mundo em uma década, mas até agora ninguém sabe quem vai pagar a conta

João Sandrini

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Visão aérea da plataforma P-52 da Petrobras na Bacia de Campos. 28 de novembro de 2007. REUTERS/Bruno Domingos
Visão aérea da plataforma P-52 da Petrobras na Bacia de Campos. 28 de novembro de 2007. REUTERS/Bruno Domingos

Publicidade

(SÃO PAULO) – O leilão de Libra foi comemorado pelo governo por diversos motivos. Em um pronunciamento transmitido em cadeia nacional de TV, Dilma disse no começo da semana que, com o leilão, o governo terá mais R$ 1 trilhão nos próximos anos para investir em saúde e educação. Ainda neste ano, entrarão no caixa R$ 15 bilhões do bônus de assinatura. Como as empresas se comprometeram em repassar quase 42% do petróleo produzido no maior campo brasileiro à União e como ainda incidem impostos sobre a produção, o modelo de partilhar permitirá ao governo prover a população com melhores serviços públicos. Outro benefício seria a geração de empregos indiretos a partir do negócio, já que todas as etapas da exploração do petróleo do pré-sal precisam atender a regras rigorosas de uso de conteúdo nacional. Ainda que não tenha havido concorrência no leilão e que a concessão tenha sido arrematada pelo preço mínimo, o negócio, sem sombra de dúvida, é muito vantajoso ao governo nas condições em que saiu. Mas a pergunta que ainda fica no ar é: como a Petrobras, que ficou com 40% do campo, arrumará dinheiro para arcar com os investimentos multibilionários necessários para explorar Libra? A empresa já tinha um plano de investimentos ambicioso, que agora ficou pesadíssimo. As cinco principais alternativas são:

1 – Equalizar os preços internos dos combustíveis às cotações internacionais do petróleo. A estatal queimou muito caixa nos últimos anos porque precisa importar petróleo no exterior pela cotação de mercado e vender gasolina e diesel no Brasil a preços subsidiados, ajudando o governo a controlar a inflação. Ainda que reajustar combustíveis seja uma medida impopular, essa é a alternativa preferida do mercado. Afinal, o aumento do lucro da empresa com a cobrança de valores maiores na venda de combustíveis poderia ajudar a financiar os pesados investimentos que vêm pela frente – e ainda ter o efeito colateral positivo de engordar os dividendos futuros a serem distribuídos pela empresa. Nada mal para os acionistas, certo?

2 – Fazer uma nova emissão de ações. Essa é a hipótese mais temida pelo mercado. A empresa, que oficialmente nega que isso esteja em estudo, realizou em 2010 um megacapitalização que resultou na captação de R$ 120 bilhões de investidores. A promessa era levantar recursos para principalmente desenvolver o pré-sal e fazer sua produção dar um salto. Só que boa parte desse dinheiro virou pó com os subsídios ao preço interno da gasolina e do diesel. Outra parte foi investida com o fim de ampliar a capacidade de produção. O problema é que, desde 2008, a produção da Petrobras no Brasil anda estagnada – as plataformas que entraram em operação quase não foram suficientes para cobrir o declínio em campos já maduros. A expansão da capacidade de refino também continua no papel. O principal projeto nessa área, a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, estava inicialmente orçado em R$ 5 bilhões, mas agora estima-se que consumirá R$ 40 bilhões quando estiver concluído – o que levanta suspeitas de corrupção ou mau uso do dinheiro. Para piorar, a estatal ainda teve que pagar uma bolada ao governo pelo direito de explorar 5 bilhões de barris de petróleo no pré-sal. Tirando um raio X da empresa, fica claro que a megacapitalização foi um ótimo negócio para o governo, mas, até agora, só rendeu prejuízos aos acionistas – as ações preferenciais saíram a R$ 26,30 na última oferta pública para cerca de R$ 18,50 agora. Após tantas promessas não cumpridas, o mercado parece fechado para comprar ações da Petrobras nos preços atuais e, provavelmente, os investidores exigiriam um belo desconto para voltar a colocar dinheiro na estatal.

Continua depois da publicidade

3 – Emitir dívida. O problema, nesse caso, é que a Petrobras já é a empresa com ações em Bolsa mais endividada do mundo, segundo pesquisa do Bank of America Merrill Lynch que não considera bancos. A dívida somava US$ 112,7 bilhões ao final do primeiro semestre. Ainda que a capacidade financeira da Petrobras de levantar dinheiro com novas emissões não esteja esgotada, essa solução poderia ser cara. As principais agências de “rating” já começaram ou ameaçam a rebaixar a nota da estatal. Novas emissões, portanto, vão custar mais do que no passado. E a conta dos juros come o caixa e o lucro líquido da empresa – ou seja, sobrará menos dinheiro para pagar dividendos ou para investir.

4 – Tomar um empréstimo dos sócios chineses. Há uma grande expectativa que o governo chinês volte a emprestar dinheiro à Petrobras em troca da entrega de barris de petróleo que serão produzidos em Libra no futuro. O Banco de Desenvolvimento da China já liberou US$ 10 bilhões para a estatal em 2009 em troca de pagamentos em petróleo que serão realizados por um período de 10 anos. Até o final de 2013, a Petrobras e seus sócios terão de pagar R$ 15 bilhões do bônus de assinatura do contrato de concessão de Libra. A parcela da estatal é de R$ 6 bilhões. A expectativa do mercado é que o empréstimo da China venha antes que a empresa tenha de realizar esse desembolso.

5 – Vender ativos. A Petrobras já vem realizando desinvestimentos em áreas não estratégicas como energia eólica ou vendendo ativos em outros países para se concentrar na exploração e no refino de petróleo no Brasil. A estatal já vendeu US$ 4,3 bilhões em ativos neste ano e admite que mais deve ser feito nesse sentido em breve. Seria necessário um movimento muito ambicioso de desinvestimento para resolver as necessidades de caixa da empresa. O problema dessas operações é que a estatal vende ativos que geram caixa hoje para investir em projetos que só aumentarão a receita no futuro. De certa forma, o ativo total da empresa também não cresce – só é transferido de uma área para outra.

Continua depois da publicidade

Se você fosse o CEO da Petrobras, o que faria? Comente abaixo.

Tópicos relacionados