O jeito mais prático de ganhar com a alta do dólar e das Bolsas dos EUA

Dois ETFs de S&P 500 negociados na Bovespa permitem ao investidor capturar eventuais ganhos com ações americanas e com o dólar – dois ativos que estão em clara tendência de alta

João Sandrini

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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(SÃO PAULO) – Desde meados de 2008, o Ibovespa está em tendência de baixa. Apesar das cotações deprimidas da maior parte das ações negociadas, há poucos sinais de que o ciclo negativo do mercado brasileiro iniciado há mais de seis anos e meio esteja próximo ao fim. A economia continua a se deteriorar em uma velocidade razoável – e volta e meia o governo e o Congresso dão sinais de quem nem ao menos estão cientes do tamanho do problema. Nesse cenário, é muito difícil ganhar dinheiro como investidor de longo prazo na Bovespa. A Ibovespa rendeu menos que o CDI (principal referência para investimentos de renda fixa) nos últimos cinco anos. De 2010 a 2014, considerando as carteiras recomendadas de mais de 20 corretoras, a única que superou o CDI foi a do Bradesco, de acordo com levantamento do InfoMoney. Também houve ações que renderam mais que o CDI, mas bem poucos investidores, mesmo entre profissionais, conseguiram montar uma carteira diversificada, com cerca de 10 papéis, sem ter entrado em ao menos duas ou três roubadas que comprometeram a rentabilidade do portfólio inteiro. O risco assumido, portanto, não pagou o prêmio esperado.

Os investidores têm reagido a tal cenário se protegendo de diversas maneiras: usando derivativos para blindar a carteira de ações de eventuais quedas, aplicando em COE (certificado de operações estruturadas), montando posições vendidas, aumentando a exposição à renda fixa, etc. Mas, para um investidor de longo prazo, será que, ao invés de comprar um desses guarda-chuvas para se proteger da tempestade, não faria muito mais sentido levar o dinheiro para onde o sol não para de brilhar?

Uma ideia de investimento que vale a pena ser avaliada por quem não se importa com o risco da renda variável é ter exposição em ações americanas. Hoje já não é preciso mandar o dinheiro para fora do Brasil para isso. Existem dois ETFs (fundos de ações com cotas negociadas em Bolsa) pouco conhecidos dos brasileiros que estão disponíveis na Bovespa e que permitem ter exposição pelo home broker ao S&P 500, o principal índice de ações dos EUA, e, de quebra, ainda ganhar dinheiro caso o dólar continue em alta. Se a moeda americana se valorizar 5% em um mês em que o S&P 500 suba outros 5%, o investidor terá, com esses ETFs, um retorno de 10,25%.

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Um dos ETFs é o S&P 500 FI em Cotas de Fundo de Índice, negociado sob o código IVVB11 na Bovespa. Lançado no final de abril de 2014 pela gestora americana BlackRock, o fundo rendeu 34% em pouco menos de 10 meses de existência. Em fevereiro, foi a vez da Itaú Asset Management lançar o It Now S&P500 TRN, negociado na Bovespa sob o código SPXI11. Os dois produtos investem em ETFs de S&P 500 negociados na Bolsa de Nova York. Na prática o investidor terá uma exposição diversificada em ações das 500 maiores empresas negociadas nos EUA – as maiores posição são em Apple e ExxonMobil. Ambos os ETFs cobram uma taxa de administração bem baixa para fundos de ações: de 0,27% ao ano, sem taxa de performance. Como o lote-padrão é de 10 ETFs, com cerca de R$ 600 já é possível investir nesses ativos. O Imposto de Renda é de 15% sobre o ganho de capital obtido pelo investidor. Ao contrário do investimento direto em ações, no entanto, vendas inferiores a R$ 20.000 por mês não estão isentas de IR porque a Receita Federal tem dado aos ETFs o mesmo tratamento tributário dos fundos de ações. Por já estar há quase um ano no mercado, o produto da BlackRock tem mais liquidez. Nos horários em que a Bovespa e também a Bolsa de Nova York estão abertas, sempre há no livro de ofertas grandes ordens de compra e venda com uma diferença de até R$ 0,06 – o que garante ao investidor entrada e saída sem um grande ágio ou deságio, respectivamente.

O que afasta muitos investidores desses produtos é o fato de o S&P 500 já estar em alta há quase seis anos – ou seja, na avaliação de muita gente, já ficou caro comprar ações americanas. Em fevereiro, o S&P 500 superou pela primeira vez a barreira dos 2.100 pontos, com uma valorização acumulada de quase 250% desde março de 2009. Bruno Stein, diretor de desenvolvimento de negócios da BlackRock no Brasil, afirma, no entanto, que não basta olhar o número de pontos de um índice para tirar uma conclusão se o mercado está barato ou caro. “Se houver expansão proporcional do lucro das empresas, um índice pode bater seu recorde histórico e continuar barato”, afirma. Ele defende que o investidor analise a relação entre o preço da ação e o lucro por ação (o chamado P/L). Olhando para a expectativa de lucros das 500 maiores empresas americanas para os próximos 12 meses, as ações do S&P 500 negociam em média a 18 vezes o lucro – o que não chega a ser uma pechincha, mas também não configura uma bolha. Nos últimos 20 anos, o menor P/L foi observado em 2012, de 12 vezes, e o maior, em 1999, de 27 vezes. Na média, o S&P tem negociado a cerca de 16 vezes o lucro das empresas.

Outra vantagem do ETF é ter exposição ao dólar. A moeda americana está em alta ante o real desde 2011. Se comparado a uma cesta com as principais moedas globais, o dólar vem se valorizando há dois anos. A maioria dos especialistas de mercado acredita que a moeda americana entrou em um novo grande ciclo de alta. Os dois últimos ciclos aconteceram entre 1980 e 1985 e depois entre 1995 e 2002 – duraram portanto, cinco e sete anos, respectivamente. Como a economia americana está em melhor forma que a maioria dos países desenvolvidos e como existe a expectativa de que em breve o Federal Reserve (o BC dos EUA) comece a aumentar os juros, os analistas são quase unânimes em enxergar a continuidade da valorização do dólar ainda por um bom tempo. Para um brasileiro que quer ter exposição em Bolsa, neste momento parece fazer muito mais sentido comprar um produto atrelado ao S&P 500 do que ao Ibovespa, que tem sofrido com a recessão econômica e a inflação elevada.

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Cuidados

Qualquer investidor que esteja avaliando comprar ações na Bovespa deve estar ciente que esse é um investimento com risco elevado, sujeito a perdas e indicado apenas a pessoas com perfil mais arrojado. Por mais que o dólar e o S&P 500 estejam em tendência de alta no curto e no longo prazos, rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura. O risco de você comprar o topo dos dois ativos sempre existe e nunca deve ser desprezado. Também é importante entender que o investimento em ações só é recomendada para quem tem visão de longo prazo. Quem vai precisar do dinheiro no mês que vem deve ficar fora da Bolsa porque não terá tempo para recuperar eventuais perdas nas próximas semanas. Outro cuidado importante é nunca investir mais de 10% da carteira em um único ativo de renda variável – por melhor que ele possa parecer. Considerando o fechamento de ontem, a R$ 64,36, o ETF IVVB11 já acumula valorização de 16,185% neste ano. Então outra dica é esperar um ponto de entrada melhor para fazer a aplicação – talvez mais perto da faixa dos R$ 60. Por último, investidores prudentes da Bolsa colocam ordem de “stop loss” sempre que montam uma posição e não devem ter pudor de realizar o prejuízo caso algum fato muito relevante altere as perspectivas para a economia americana ou o dólar nos próximos meses.

A grande problema do investimento em S&P 500 via ETF é que o produto da BlackRock está disponível apenas para investidores qualificados (com ao menos R$ 300 mil em aplicações financeiras) enquanto no caso do Itaú é necessário ter ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras para comprar o papel. Se você não atende a essas exigências, pode se cadastar abaixo para receber um e-book que ensinará outras formas de ter exposição ao dólar e/ou às Bolsas americanas:

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