Petrobras (PETR4): se números reais forem próximos ao plano da estatal, ações podem sofrer, apontam analistas

Analistas veem curva de produção como conservadora e capex superestimado, ainda prevendo assim forte geração de caixa

Lara Rizério

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A Petrobras (PETR3;PETR4) realizou webcast sobre o seu Plano Estratégico para os anos de 2024 e 2028 na noite da última segunda-feira (27) para os analistas de mercado, trazendo algumas leituras positivas, mas com alguns questionamentos do mercado sobre as premissas adotadas pela companhia.

No geral, a avaliação é de que as projeções de produção foram conservadoras, enquanto as de investimentos parecem superestimadas, ainda mais por conta das últimas projeções de capex não terem sido confirmadas. Mas, conforme destaca a XP, caso as projeções da estatal petroleira se confirmem, com menor produção e maior capex, as ações da petroleira podem sofrer por conta da menor geração de caixa.

No 3T23, a produção de petróleo do Brasil estava em 2,3 milhões de barris por dia e a empresa prevê uma média de 2,2 milhões de barris por dia para 2024, apesar de dois novos FPSOs (plataformas de produção de O&G no mar) a serem iniciados até lá, com uma capacidade total – na participação da Petrobras – de 140 mil barris por dia (e uma rampa residual de outros FPSOs recentemente iniciados).

“As respostas da Petrobras [no evento] nos levam a acreditar que a empresa está realmente sendo um pouco conservadora, pois não houve indicação de taxas de exaustão mais altas ou paradas de manutenção mais longas para o próximo ano. Portanto, vemos um número na faixa de 2,30 a 2,35 milhões de barris por dia para 2024 como mais provável do que os 2,2 milhões de barris por dia orientados pela empresa”, avalia a XP.

Também deve ser observado que a empresa informou que está buscando mais planos de revitalização para campos maduros, citando especificamente o campo de Tupi.

Enquanto isso, apontam os analistas da casa, uma das características mais bem recebidas do novo Plano Estratégico foi um maior disclosure e a área em que isso foi mais apreciado foi a taxa média de retorno para capex (investimentos) para cada unidade de negócio: E&P, ou exploração e produção (23%); Refino, Transporte & Comercialização (14%), e; projetos de Energia Eólica e Solar (mais de  8%).

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Para a XP, o fato do novo plano ter reduzido a parcela destinada ao segmento de retorno mais alto (E&P) em relação ao antigo projeto é uma fonte de preocupação para os analistas (junto com o histórico ruim da Petrobras ao investir fora de seu core) e um sinal de que a empresa deve apresentar ROICs (Retorno sobre o Capital Investido) mais baixos nos próximos anos. Por outro lado, esse é um processo que levará alguns anos para se materializar.

“A empresa defendeu a escolha de investir mais recursos fora de E&P com base na diversificação do portfólio, na redução de riscos e volatilidade dos resultados, bem como na perenidade (escolhendo novos caminhos de crescimento para substituir o petróleo e gás em função da transição energética), ressaltam André Vidal e Helena Kelm, analistas que assinam o relatório da XP.

Os analistas destacam ainda que, nos últimos anos, a Petrobras vem entregando menos do que o capex previsto. De acordo com a Petrobras, a maior parte dessa subexecução veio do tempo maior do que o esperado para mover e mobilizar as sondas (às vezes, levando mais de 400 dias).

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“Pelo menos para o capex planejado para 2024 (US$ 18,5 bilhões em comparação com US$ 11,2 bilhões em 2023), a empresa parece confiante de que gastará tanto quanto o planejado, pois as sondas já estão mobilizadas ou o tempo maior para mobilização já está sendo considerado”, avaliam Vidal e Helena.

“Percebemos que a maioria dos investidores espera mais produção e menos capex para 2024 do que a empresa prevê em seu Plano Estratégico. Portanto, se os números reais acabarem sendo mais próximos da visão da Petrobras, o preço das ações pode sofrer”, avalia, por conta da menor geração de fluxo de caixa livre. “Também observamos que outros riscos (principalmente grandes fusões e aquisições) são outra fonte de possíveis ventos contrários a tese”, avalia.

Na semana passada, logo após a divulgação do plano estratégico, o BTG Pactual também destacou que os investimentos podem ficar abaixo das projeções da empresa. “O investimento efetivo ficou cerca de 25% abaixo das projeções oficiais da empresa nos últimos 7 anos (-19% em 2023), tornando improvável que a Petrobras expanda os seus investimentos em 42% ao ano (+US$ 5,5 bilhões)”, aponta.

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“Desde o início do ano, observamos mudanças em quase todos os principais pilares da tese de investimento de Petrobras. A empresa modificou sua política de preços de combustíveis, reduziu o pagamento de dividendos (de 60% para 45% do fluxo de caixa menos capex), propôs a criação de reservas de capital (permitindo maior retenção de lucros) e, agora, aumentou seu limite de investimento. Continuamos a ver estes pontos como movimentos na ‘direção errada’, começando potencialmente a diminuir a eficiência da empresa e aumentar o seu custo caixa de equilíbrio”, avalia.

Entretanto, os analistas ressaltam que ainda existem razões para acreditar que a empresa irá gerar mais caixa do que o mercado espera, impulsionada por uma produção superior ao esperado, investimentos mais baixos e mecanismos robustos de governança corporativa.

“Mesmo que algumas fusões e aquisições sejam realizadas, não acreditamos que comprometam a capacidade da empresa de distribuir dividendos atraentes. Enquanto a dinâmica persistir, a Petrobras continuará a ser uma atraente história de geração de dividendos”, destacou, reforçando recomendação de compra.

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Já para a Genial Investimentos, em linhas gerais, o evento da véspera foi positivo para tese da empresa.

Dentre os pontos abordados na apresentação, os analistas citam: i) clareza nas premissas de rentabilidade esperada dos projetos nos seus múltiplos segmentos de atuação, ii) “vestindo a camisa” da governança: ênfase no sistema de governança da empresa, como base na lei das S.A., poder de veto do diretor de governança e conformidade e principalmente, aplicação de preços de mercado pela empresa e iii) maiores detalhamentos sobre os temas de E&P/execução do plano de investimentos, aquisições e expansão nos projetos de economia verde.

Já como principais pontos de atenção, os analistas citam US$ 11 bilhões de investimentos “inativos” (ou seja, ainda não estão considerados em seu fluxo de caixa) que devem, majoritariamente, serem utilizados para aquisições nos segmentos energias renováveis, refino e petroquímico – como a Braskem (BRKM5), que ainda não sabemos se será comprada em parceria com a ADNOC ou sem ninguém e, consequentemente, estatizando o ativo. Além disso, os analistas são céticos quanto a aquisição de renováveis aos termos apresentados pela empresa.

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A Genial segue com recomendação de manutenção, estimando um fluxo de caixa livre 16% para o mesmo ano e um rendimento em dividendo esperado é de 8,4% (considerando alavancagem estável e aplicação completa do fluxo de investimento esperado para 2024). “Achamos os números interessantes, mas com baixa margem de segurança para termos uma recomendação mais agressiva no papel”, aponta.

Já o Goldman Sachs tem recomendação de compra para os ativos da estatal destacando que o anúncio do plano estratégico elimina um overhang (excesso de ações no mercado) por tirar uma fonte de incerteza, enquanto o investimento anunciado para os próximos 5 anos está principalmente em linha com as expectativas do mercado, de acordo com as suas conversas recentes com investidores.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.