Nome completo: | Fernando Luiz Alterio |
Data de nascimento: | 17 de julho de 1952 |
Formação: | Graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) |
Ocupação: | Empresário, vice-presidente e diretor-presidente da T4F |
A morte de uma jovem no show de Taylor Swift no Rio de Janeiro, em 17 de novembro de 2023, colocou a Time For Fun (ou T4F) nos holofotes com duras críticas quanto à estrutura física do evento. Em plena onda de calor na cidade, sobraram queixas sobre falta de acesso à água e sensação térmica do estádio Nilton Santos – o Engenhão – superior a 60°C, o que mobilizou os postos de atendimento médico do local.
Essa não foi a primeira polêmica envolvendo o nome da produtora. A empresa é investigada por suposto trabalho análogo à escravidão no festival Lollapalooza ocorrido em abril de 2023, segundo ação movida pelo Ministério Público do Trabalho. Em meio à avalanche de críticas, Fernando Alterio, fundador e principal dirigente da T4F (a única produtora brasileira com capital aberto na bolsa), manteve a habitual discrição nas redes sociais. Há relatos de que trazer Taylor Swift ao Brasil era um grande sonho do empresário há algum tempo, e que ele próprio teria bancado a vinda da artista, sem patrocinadores, acreditando na alta procura pelo show.
Namorado da atriz Mônica Martelli e amigo de diversas celebridades, o Fernando Alterio é atualmente vice-presidente do conselho e diretor-presidente da companhia.
Quem é Fernando Alterio?
Fernando Luis Alterio é um empresário ítalo-brasileiro que atua no setor de entretenimento desde o início dos anos 1980.
Em entrevista concedida ao economista Pablo Spyer no programa De frente com o touro, em 2022, Alterio disse que, assim que se formou em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FVG), começou sua carreira no mercado financeiro. A primeira instituição na qual atuou foi o banco de investimentos Interatlântico, na ocasião, uma parceria entre o grupo português Espírito Santo e J.P. Morgan. Logo depois, chegou a adquirir uma distribuidora de títulos e valores mobiliários e uma corretora de investimentos, mas acabou desistindo do setor financeiro. “No início, minha vida eram os bancos de investimentos e o mercado financeiro. Mas cansei dos altos e baixos desse mundo, e decidi fazer o que realmente gostava, que era trabalhar com música”, afirmou.
Seu primeiro passo no mercado do entretenimento foi com a casa de espetáculos Palace, aberta em 1983, em Moema, bairro de classe alta na zona sul paulistana. “Aquilo era um rinque de patinação, que funcionou por poucos meses. Quando fechou, eu identifiquei potencial para adaptar a estrutura a uma casa de espetáculos, daí abri o Palace”, diz.
Dessa forma, em 1983, junto com dois outros empresários – Sérgio Assumpção e Arthur Prioli (sócio do Canecão, no Rio de Janeiro), Alterio criou o Palace. Com investimento inicial de R$ 500 milhões, a casa de espetáculos passaria por transformações nos anos seguintes, agregando novos negócios até se tornar a T4F.
Anos depois da abertura do Palace, Alterio foi um dos precursores no Brasil a utilizar o sistema de naming rights como forma de rentabilizar o negócio. Com isso, o Palace passou a se chamar Citibank Hall. O grande salto, contudo, veio em 1998, quando o empresário decidiu construir o Credicard Hall, na Marginal Pinheiros. A nova casa tinha capacidade para sete mil pessoas – quase quatro vezes o tamanho do antigo Palace.
A expansão dos negócios
Nesta mesma época, a Corporación Interamericana de Entretenimento (CIE) procurou Altério para uma parceria. O grupo havia acabado de fazer um IPO (oferta pública de ações) no México e queriam se expandir para a América Latina. “Eles compraram uma participação na empresa, e eu aproveitei para expandir o negócio, levando os mesmos shows que fazíamos no Palace para estruturas muito maiores, como o Maracanãzinho e outros estádios semelhantes. Daí as coisas deslancharam mesmo”.
Com o aporte de capital da CIE, a empresa passou a trazer grandes nomes internacionais, que variaram de Os Três Tenores até Madonna, Paul McCartney e Rolling Stones.
Com a virada para o ano 2000, começou a fase dos grandes musicais – e uma nova oportunidade de crescimento para o empresário do entretenimento. “O primeiro que trouxemos foi ‘Os Miseráveis’, e depois vieram vários outros famosos da Broadway”, conta.
Em 2006, foi a vez de trazer o Cirque du Soleil para o país – um ponto de virada para a companhia que passou a ser reconhecida pelos eventos internacionais.
O caixa cheio deu à empresa a possibilidade de adquirir casas de shows no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, para expandir os negócios.
IPO, operações internacionais e modelo de negócio
Em abril de 2007, após anos de crescimento, Alterio recomprou a parte que tinha vendido para o CIE. Dois meses depois, o empresário adquiriu as operações que o grupo tinha na Argentina e no Chile, das quais ainda não era sócio, o que permitiu à T4F levar os mesmos shows do Brasil para esses países.
“Na Argentina, temos um teatro na avenida Corrientes que também recebe musicais da Broadway. Além disso, temos a maior empresa de tickets do país, que também opera no Chile. Ou seja, nós tentamos fazer o booking dos shows para toda a região”, explica.
Em 2011, veio o IPO da T4F, adiado alguns anos devido à crise de 2008. Sobre o modelo de negócio, o empresário ressalta que a T4F é uma empresa diversificada e verticalizada.
Diversificada porque busca eventos de segmentos diversos para atender todas as faixas etárias de público e aumentar a base de consumidores; e verticalizada porque a estratégia é tentar capturar valor em todas as linhas do negócio. “Por exemplo, em um musical, vendemos o naming right, os patrocínios, os ingressos pela nossa empresa de tickets, alimentos e bebidas, ou seja, captamos valor em toda a cadeia do entretenimento. Com isso, capturamos muitas sinergias e reduzimos a estrutura de custo fixo”, observa.
Embora a experiência no mercado financeiro tenha sido boa para o IPO e para o relacionamento com investidores, Alterio afirma que o desafio de gerir uma empresa de entretenimento é algo muito peculiar, pois é preciso maximizar a experiência do consumidor em um espaço de tempo muito curto. “Em um festival como o Lollapalooza [que teve oito edições produzidas no Brasil pela T4F], feito para 100 mil pessoas, há 10 mil pessoas trabalhando ao mesmo tempo. Em pouco tempo, é preciso focar no detalhe, na qualidade da produção e na qualidade da experiência do consumidor”, diz.
E o futuro?
Fernando Alterio admite a força da digitalização e reconhece o espaço que os streamings ocupam hoje no entretenimento. No entanto, acredita que nada substitui os shows ao vivo.
“No entretenimento, a tecnologia veio para ajudar na gestão dos negócios, pois hoje conhecemos muito mais os clientes por meio da nossa plataforma de tickets. Antes, dependíamos do feeling do promotor de eventos”, avalia. A evolução tecnológica, segundo o empresário, permite que hoje as empresas tragam o que o consumidor realmente quer ver, e não quem está disponível para fazer shows. Isso torna a operação mais assertiva e rentável.
Outro ponto importante é o perfil das novas gerações, que priorizam experiências em vez de consumo. “Pesquisas mostram que o consumo discricionário das gerações mais jovens está principalmente voltado a viagens, bares e restaurantes, e o carro-chefe são eventos de entretenimento. E as pessoas compartilham as experiências pelas redes, o que fortalece a tendência”, diz o empresário.