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Após a morte da jovem sul-mato-grossense Ana Clara Benevides, 23, no show da cantora norte-americana Taylor Swift, que aconteceu no Rio de Janeiro no dia 17 de novembro, o governo federal divulgou novas regras para a realização de shows, festivais e grandes eventos nos períodos de alta temperatura no país.
As diretrizes, que foram oficializadas por meio de portaria divulgada no Diário Oficial da União no dia 22, tornam obrigatória a disponibilização de bebedouros e água adequada para consumo em pontos que permitam o fácil acesso à hidratação de todos os espectadores em eventos do gênero.
As repórteres de finanças pessoais do InfoMoney, Maria Luiza Dourado e Giovanna Sutto, compareceram aos shows do grupo mexicano RBD em São Paulo nos dias 17 e 18 de novembro e puderam comparar as duas experiências, ambas organizadas pela empresa Live Nation do Brasil.
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Os efeitos da portaria, de caráter emergencial, foram colocados em prática no show do RBD em São Paulo assim que entrou em vigor, em 18 de novembro, um dia depois da morte da estudante no Rio de Janeiro. Mas alguns problemas persistiram.
Confira os relatos:
Sexta-feira (17), antes do falecimento de Ana Benevides
Nos arredores do Allianz Parque, na zona oeste de São Paulo, grandes filas de fãs à espera do retorno do RBD ao Brasil atravessavam ruas e avenidas. Na Avenida Sumaré, por exemplo, se formou uma fila com mais de 1,3 km até a entrada, na Rua Palestra Itália. Como não choveu naquele dia, não havia trégua para o sol, com os termômetros marcando, em média, 37 ºC.
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Os portões do Allianz Parque abriram no horário marcado, por volta das 16 h, dando início ao fluxo de pessoas para dentro e desafogando, aos poucos, as vias.
Quanto mais próximo da entrada, maior ficava a quantidade de lixo no chão, sobretudo garrafas plásticas – até aquele momento, quem ia ao show era obrigado a se desfazer dos itens. No lugar de lixeiras, foram espalhados sacos de lixo azuis no chão, que já estavam completamente abarrotados. Era possível ver grande quantidade de comidas inteiras jogadas no lixo, como sanduíches.
O show do RBD começou perto das 20h30 e correu bem. Contudo, na mesma noite, a estudante Ana Clara Benevides, de 23 anos, não resistiria a duas paradas cardiorrespiratórias durante o show de Taylor Swift, no estádio Nilton Santos, o Engenhão, no Rio de Janeiro, produzido pela Time For Fun. Naquele dia, o Rio de Janeiro havia enfrentado temperatura próxima a 40 ºC. O Engenhão tinha 60 mil pessoas e a sensação térmica chegou aos 60 graus Celsius.
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Serafim Abreu, CEO da T4F, falou sobre o ocorrido na manhã desta quinta-feira (23) pela primeira vez. Segundo o executivo, a demora em falar em público se deu porque a empresa estava focada em “incorporar os aprendizados” – como criar locais de sombra nas áreas externas, alterar o horário dos shows inicialmente programados e enfatizar mais a permissão de ingressar com copos de água descartáveis.
Abreu afirmou ainda que o time da TF4 está absolutamente desolado com a morte de Ana Clara Benevides e colocou a disposição da empresa em prestar assistência no que for necessário. A empresa é investigada em inquérito aberto pela Polícia Civil que apura se a proibição da entrada de água no estádio configura crime de perigo à vida ou à saúde dos fãs.
Sábado (18), após o óbito de Ana Benevides
No dia seguinte, entrava em vigor a portaria emergencial assinada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, em resposta ao falecimento da jovem, obrigando as produtoras de eventos a permitirem “acesso gratuito de garrafas de uso pessoal, contendo água para consumo” em show e festivais no país.
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A portaria do MJ diz ainda que a organização deveria “distribuir embalagens com água adequada para consumo e instalar ‘ilhas de hidratação’ de fácil acesso a todos os presentes e sem custos adicionais ao consumidor”. A norma determinou também que a empresa organizadora garantisse que os pontos de vendas de comidas e bebidas e as “ilhas de hidratação” estivessem em regiões de fácil acesso aos fãs e que, caso a água também fosse comercializada, os órgãos de defesa do consumidor, tanto da cidade quanto do estado, deveriam fiscalizar e coibir o aumento abusivo de preços.
Em São Paulo, os portões do Allianz para o show do RBD foram abertos quase duas horas mais cedo do horário previsto, agilizando as filas. Às 16 h, grande parte do público já havia entrado no estádio.
No caminho da fila, o calor no trajeto foi amenizado pelo céu mais nublado, ainda sob o registro das altas temperaturas – os termômetros marcavam 37 ºC.
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Ainda havia grande quantidade de lixo no chão. Contudo, o público não precisava mais se desfazer da garrafinha de água – apenas da tampinha. A entrada de água estava liberada. Muitos conseguiram acessar o espaço com industrializados, como salgadinhos.
Outro ponto observado foi a revista precária na entrada, com uma checagem superficial de bolsas, bolsos e roupas, bem menos criteriosa do que no dia anterior.
Também foi possível observar maior distribuição de água para quem estava na pista Premium, além de mais pontos fixos de venda de bebidas. Apesar do anúncio de que haveria distribuição de gelo no local, ele foi negado a uma das repórteres “por ordem da gerência”. Ainda assim, no dia anterior, nada foi dito sobre distribuição de gelo durante todo o evento.
A Live Nation Brasil, produtora do evento na capital paulista, não respondeu a um pedido de comentário sobre as falhas apontadas nos relatos até esta publicação. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
No Rio de Janeiro, a suspensão tardia do segundo show de Taylor Swift, que aconteceria na noite do dia 18 submeteu os fãs a mais um dia de fila sob uma temperatura registrada de 42,5 ºC. No entanto, novos alívios nas filas foram disponibilizados: jatos de água jogados pelo Corpo de Bombeiros, além da distribuição de água para consumo.
(Com informações da Agência Brasil)