Ultraliberal e criptos, tudo a ver: mercado aposta em “empurrão” de Milei em ativos digitais

Novo personagem da política argentina venceu as eleições do país com quase 56% dos votos – e inaugura

Lucas Gabriel Marins

Javier Milei gesticula para apoiadores após votar durante o segundo turno presidencial em Buenos Aires, Argentina (Marcos Brindicci/Getty Images)
Javier Milei gesticula para apoiadores após votar durante o segundo turno presidencial em Buenos Aires, Argentina (Marcos Brindicci/Getty Images)

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A vitória do economista ultraliberal Javier Milei pode representar um impulso significativo para o mercado local de criptomoedas, estimulando a adoção de ativos digitais e a criação de regulações mais amigáveis para a indústria, afirmaram agentes do mercados local ao InfoMoney.

Milei, que venceu o pleito do domingo (19) com quase 56% dos votos, é um conhecido apoiador do Bitcoin (BTC). Em entrevistas a jornais, o presidente eleito disse que o ativo digital é uma reação natural a um “golpe” perpetrado pelos bancos centrais mundiais.

“A visão de Milei de descentralização, autonomia financeira e a sua consideração do Bitcoin como uma resposta à manipulação por parte de bancos centrais e governos gerou entusiasmo entre aqueles que apoiam essas tecnologias”, disse Matias Reyes, country manager da TruBit Argentina.

Reyes falou que a vitória poderia estimular a criação de legislações positivas ​​para a indústria, além de incentivar o uso das moedas digitais. Mesmo antes do pleito, os argentinos recorriam aos tokens, em especial às stablecoins, para fugir da inflação e da desvalorização do peso argentino.

Até junho deste ano, o número de usuários ativos em plataformas cripto do país, que tem uma população estima em cerca de 45 milhões de habitantes, dobrou no ano e bateu na casa dos 5 milhões.

Rodolfo Andragnes, fundador da Ong Bitcoin Argentina e da conferência Labitconf, disse que é de se esperar que as criptomoedas e os projetos do ramo encontrem um cenário de livre crescimento e expansão.

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“A vitória de um candidato que promove a livre escolha monetária, prioriza a liberdade do cidadão e a propriedade privada está em linha com os principais aspectos promovidos por essa tecnologia (as criptos) e pelos desenvolvimentos desse ecossistema”.

Andragnes falou que hoje, após o resultado das eleições, já foi possível perceber maior interesse de empresas internacionais do setor em visitar a Argentina e explorar as oportunidades do espaço.

“É preciso entender que a Argentina será, a partir de 10 de dezembro (dia em que Milei assumirá o pode executivo do país), um dos poucos países do mundo com um governo de direita liberal e alinhado aos pilares do setor”. Vale lembrar que uma das bases do BTC é a crítica ao Estado interventor, uma bandeira também de Milei.

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Diálogo com o setor

Sebastián Serrano, CEO e cofundador da empresa de tecnologia blockchain Ripio, disse que, com a vitória de Milei, será necessário definir claramente as regras do setor, algo que iria além de um escopo de regulamentações, leis e impostos sobre o uso de criptos. Para ele, a discussão também deve passar por estratégias para gerir empresas com sede na Argentina, dado o alto nível de inflação.

“Considerando o desenvolvimento do ecossistema cripto, seria bom se houvesse uma instância de diálogo com o setor. O futuro presidente Javier Milei expressou suas opiniões sobre criptomoedas, dólares e como as finanças funcionariam no seu governo. Agora, consideramos que será fundamental que as ações do novo governo sejam realizadas com conhecimento do ecossistema, das ferramentas e do mercado”.

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Cripto dólar e Bitcoin

A movimentação do mercado cripto local e mundial no final de semana deu um demonstrativo do peso da vitória de Milei. Após o resultado, a Tether (USDT) recuou na cotação em pesos argentinos e chegou a desvalorizar 8,39% no domingo (19), segundo a ferramenta TradingView.

A Ripio informou que durante a semana que antecedeu as eleições, mais de 1 milhão em Criptodólar (UXD), a stablecoin da empresa vinculada ao dólar com paridade de 1:1, foram transacionados na plataforma e em sua carteira cripto.

Na semana anterior ao primeiro turno das eleições, as stablecoins representaram 88% do volume total transacionado e, na semana seguinte, o volume representou 76%.

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Na Lemon Cash, exchange com sede no país, o volume de negociação de compra e venda de criptoativos no dia das eleições triplicou na comparação com a média normal dos domingos. Tanto na compra quanto na venda, pouco mais de 70% das criptos negociadas foram stablecoins.

A empresa também informou que o valor médio de compra de moedas estáveis​​aumentou 28% entre outubro e novembro e a quantidade dessa classe de ativos digitais mantida na plataforma cresceu 21% em nome dos usuários desde as eleições primárias até agora.

“Nos últimos cinco anos, a adoção cripto na Argentina cresceu como em nenhum outro país, impulsionado, em grande parte, pela falta de confiança nos sistemas atuais do Estado e do dinheiro. Cripto e blockchain resolvem isso”, avalia Marcelo Cavazzoli, CEO e fundador da Lemon.

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Coincidência ou não, o Bitcoin também subiu após a vitória de Milei. O ativo saltou 2% e se manteve acima do patamar de US$ 37, maior valor desde maio de 2022, alcançado no início de novembro em meio ao otimismo com o avanço dos ETFs (fundos de índice) dos Estados Unidos com exposição direta à criptomoeda.