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C&A ganha impulso do segmento premium, mas garante que continua a mesma 

CEO diz que empresa não quer “premiunizar” base de clientes e segue fazendo “moda para todos”

Mitchel Diniz

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A alta renda teve uma contribuição importante no faturamento da C&A, que cresceu mais de 12% no terceiro trimestre de 2023, alcançando R$ 1,27 bilhão. A empresa afirmou ter observado um crescimento destacado nas lojas que são mais frequentadas por clientes das “classes AB”, sem abrir os números específicos dessas unidades. A varejista de moda possui uma estratégia para o segmento, com coleções exclusivas e um sortimento diferenciado, com peças de maior valor. Mas, nega que seu objetivo seja a “premiunização” de sua base de clientes ou de produtos.

“A C&A é uma empresa que, há décadas, faz um trabalho de tornar a moda acessível para todas as pessoas e nós vamos continuar a buscar isso”, afirmou Paulo Correa, CEO da C&A Brasil, em entrevista ao Por Dentro dos Resultados, do InfoMoney.

Segundo ele, a C&A tem deixado de atuar de maneira massiva com um mesmo modelo de distribuição para todas as lojas, apostando em uma abordagem mais granular, de acordo com as necessidades de cada grupo de clientes, nas diferentes praças onde a varejista atua.

“O fato das pessoas terem preferências diferentes, ou possibilidades diferentes, torna apenas mais desafiador conseguir construir soluções cada vez mais personalizadas ou segmentadas”, diz Correa.

O crescimento da varejista no segmento premium chamou a atenção de analistas de mercado que acompanham a empresa. “O desempenho da C&A nas faixas de renda mais alta, território tradicional da Renner, pode indicar que ela está se tornando uma concorrente mais forte”, escreveu a equipe de análise do Bradesco BBI sobre o balanço do terceiro trimestre da companhia.

O CEO, por sua vez, afirma que a empresa trabalha de forma equilibrada com os diferentes perfis de consumidor, independentemente de seu poder aquisitivo.

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“Primeiro a gente começou a criar sortimentos específicos para lojas mais populares, com consumidores de renda um pouco mais contida, aumentando oferta de produtos com preço de entrada mais acessível. E a gente começou a construir também sortimentos adicionais para lojas que têm um perfil de poder aquisitivo maior”, explica.

Austeridade continua

Correa diz que a compra de vestuário se assemelha cada vez mais a um investimento. O consumidor quer algo que combine com uma peça que já tem no guarda-roupa, que possa ser usada diversas vezes e que gere engajamento nas redes sociais. Essa percepção levou a C&A  adotar um modelo “push and pull” de distribuição, ou seja, a reposição é feita de acordo com a demanda de cada loja. Ao final do terceiro trimestre, 40% dos produtos da C&A estavam sendo distribuídos dessa forma.

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“Obviamente tem impactos na margem, porque não sobra aquilo que não está vendendo e eu não tenho que reduzir preço para fazer aquele produto girar”, explica o CEO. “Isso vai constituindo mais Ebtida e trazendo mais caixa, o que, ao longo do tempo, vai nos permitir uma dinâmica de investimentos”. Mas o executivo afirma que ainda não é hora – a empresa deve seguir com foco em redução de investimentos e despesas, que, no terceiro trimestre corresponderam a 35,1% (três pontos percentuais a menos que o indicador do mesmo período do ano passado).

“Nós vamos continuar tendo o mesmo comportamento austero, uma vez que o dinheiro no nosso país ainda está custando bastante e o capital precisa ser muito bem empregado nesse momento, para ter retornos no nível que os acionistas desejam”, afirma o CEO. “A régua para aprovar a abertura de uma nova loja em algum lugar do país está mais alta do estava em 2019”, complementa, comparando com o ano em que a empresa fez seu IPO.

Dos R$ 46,8 milhões investidos pela C&A no terceiro trimestre de 2023, mais da metade (R$ 26,7 milhões) foram direcionados à tecnologia e digitalização. A empresa entende que aporte em dados e informação ajudam na tomada de decisões mais assertivas, que levam ao aumento das vendas.

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Correa reconhece que os cortes nas taxas de juros abrem espaço para a redução do endividamento das famílias, condição esperada pela varejista para retomar investimentos. Cita o programa Desenrola Brasil, programa do governo federal de renegociação de dívidas, como parte do processo de redução da inadimplência. Mas não acha que a recuperação vai ser tão rápida.

“Não vai ser nenhum cavalo de pau, de uma hora para outra. É uma progressão, do mesmo jeito que progrediu o endividamento, então agora é a mesma jornada de volta, buscando saúde financeira das famílias ao longo do tempo”, diz o executivo.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados