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Insumos mais baratos, maior pressão sobre cotações de soja e milho – o que pode favorecer o segmento de proteínas – e bons retornos para produtores de açúcar, café e laranja. Essas são tendências apontadas pelo relatório “Perspectivas para agronegócio brasileiro – 2024”, divulgado ontem pela equipe de analistas do Rabobank Brasil. Em linhas gerais, as conclusões do trabalho formam um mosaico positivo para o agro, mas, segundo os analistas do banco, o ano que vem demandará mais uma vez cautela e boa gestão financeira no campo, sobretudo porque ainda há incertezas climáticas provocadas pelo fenômeno El Niño e sobram problemas logísticos.
INSUMOS
Após os picos de preços resultantes de reflexos negativos da pandemia sobre os agroquímicos e da invasão russa na Ucrânia sobre os fertilizantes, os valores praticados no mercado brasileiro começaram a cair no segundo semestre do ano passado. Com isso, o custo de produção caiu na agricultura na safra 2022/23, e deverão se acomodar nesses patamares mais baixos no que vem.
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Segundo o analista Bruno Fonseca, nesta safra 2023/24 o custo de adubação das lavouras de grãos foi 36%, em média, e as entregas do insumo das indústrias a seus clientes finais estão em franca recuperação em relação ao ano passado. Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) mostram que, de janeiro a agosto, o volume alcançou 28,6 milhões de toneladas, 10,4% mais que no mesmo período de 2022.
Nas contas do Rabobank, em 2023 como um todo as entregas vão chegar a 43,9 milhões de toneladas, ante 41,1 milhões no ano passado, e tendem a subir para cerca de 45 milhões em 2024. “Os agroquímicos também estão com queda de preços no mercado, mas como as cotações de soja e milho também estão mais baixas, as margens na produção desses grãos poderá ficar mais comprimida”, afirmou Fonseca.
GRÃOS
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Para a soja, carro-chefe do agro brasileiro, 2023 foi um ano de colheita recorde e queda de preços. O quadro tumultuou a comercialização e acentuou gargalos logísticos, o que prejudicou a comercialização da safrinha de milho e gerou disputa por espaço em armazéns e portos – nesse caso, também com o açúcar.
De acordo com a analista Marcela Marini, após uma boa safra nos EUA e com a expectativa de uma nova colheita recorde no Brasil, a oferta global deverá alcançar 400 milhões de toneladas na temporada 2023/24 e há pressão sobre as cotações no horizonte, uma vez que a demanda se mostra relativamente estável.
Para a indústria processadora, lembrou, a boa notícia foi a retomada do aumento da mistura obrigatória do biodiesel no diesel fóssil vendido no país. Em abril, a mistura subiu de 10% para 12%, e um novo aumento, para 13%, deverá ser autorizado pelo governo no início do ano que vem.
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No caso do milho, as atenções no Brasil estão voltadas para a safrinha, cuja semeadura poderá ser postergada em algumas regiões produtoras caso a colheita de soja demore demais, em consequência do atraso do plantio em razão de adversidades climáticas. Os baixos preços, menos rentáveis que os da soja, também reduziram o ímpeto dos produtores.
O Rabobank estima que a produção total de milho (primeira e segunda safras) vai alcançar 127 milhões de toneladas em 2023/24, 5% menos que em 2022/23, e que a demanda será aquecida para a produção de rações e etanol. Nesse contexto, os preços domésticos poderão encontrar maior sustentação que as cotações internacionais, que sofrerão pressão da oferta global confortável, com recomposição de estoques nos EUA.
PROTEÍNAS
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As cadeias produtivas de carnes bovina, suína e de frango poderão encontrar na recuperação da demanda da China um vetor de crescimento em 2024. Conforme o analista Wagner Yanaguizawa, a queda que vinha sendo observada desacelerou em 2023 e há sinais alvissareiros para o ano que vem, sobretudo no food service. A China é o principal destino das exportações das proteínas animais brasileiras.
No mercado de carne bovina, as chuvas trazidas pelo El Niño poderão beneficiar o produtor, uma vez que, em tese, os animais poderão permanecer mais tempo no pasto, o que lhe confere maior poder de barganha nas negociações com frigoríficos. Ao mesmo tempo, a restrição de oferta nos EUA tende a continuar a abrir mais espaço para as exportações dos frigoríficos de carne bovina, embora a Austrália surja no retrovisor com uma maior oferta disponível.
No segmento de aves e suínos, a queda das cotações dos grãos nos últimos meses aliviou os custos, as exportações deverão aumentar em 2023 e o mercado doméstico dá indícios de melhora. Particularmente na área de aves, o grande ponto de atenção é sanitário. O Brasil ainda não registrou casos de gripe aviária em granjas comerciais e tomou espaço, no mercado internacional, de países que estão com o problema. Assim, a ordem para o Brasil é continuar alerta, com investimentos em prevenção.
AÇÚCAR, CAFÉ E LARANJA
No mercado sucroalcooleiro, o destaque continua a ser o açúcar. As cotações da commodity estão em elevados patamares, principalmente em função da queda da oferta exportável na Índia e na Tailândia, e, nesta safra 2023/24, as usinas brasileiras estão direcionando o máximo de caldo de cana que podem para produzir o adoçante.
O quadro traçado pelo analista Andy Duff não sinaliza mudanças expressivas nessa situação. Mas problemas na logística de escoamento da produção, derivados de concorrência com os grãos e chuvas, poderão elevar custos. O etanol, por sua vez, poderá ser impactado pelos reflexos das guerras em curso no Hemisfério Norte sobre os preços do petróleo. Em 2023, a remuneração gerada pela produção do biocombustível para as usinas brasileiras perdeu feio para a do açúcar.
Para os cafeicultores, a mensagem do relatório do Rabobank é que, embora a oferta esteja aumentando, no Brasil e na Colômbia, a demanda também tende a se fortalecer. Os preços estão em queda no exterior e no país este ano, mas as exportações brasileiras deverão aumentar nos próximos meses.
O analista Guilherme Morya também chama a atenção para o El Niño, que poderá causar problemas para lavouras de café robusta no Brasil e também para colheitas na Colômbia, na América Central e na Ásia, mas que poderão oferecer alguma sustentação adicional aos preços. Particularmente no Brasil, a logística continua a preocupar, com falta de caminhões e contêineres.
No caso do suco de laranja, as perspectivas são positivas para os preços internacionais, que já estão em patamares recorde graças à derrocada da oferta da Flórida e à forte queda de estoques do produto brasileiro. A demanda global voltou a arrefecer, passado o período crítico da pandemia, que motivou um aumento de consumo, mas, mesmo assim, o analista Andrés Padilla não vê espaço para quedas das cotações, nos EUA ou na Europa.
PROTAGONISMO
Um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil lidera as exportações globais de soja, milho, açúcar, café, suco de laranja e carnes bovina e de frango. Além de serem fundamentais para as economias de boa parte dos Estados e do país como um todo, esses produtos garantem que o saldo da balança comercial brasileira seja positivo.
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