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Ainda impactados por passivos contraídos durante a pandemia, os icônicos cinemas de rua paulistanos Belas Artes e Marquise vão a mercado em busca de novos patrocinadores para arcar com seus custos de aluguel. Tudo em meio à recuperação do fluxo de espectadores nas salas de cinema.
Localizados nas imediações da Avenida Paulista, os dois cinemas precisam lidar com o preço do metro quadrado mais caro de São Paulo: R$120 mil para prédios comerciais, segundo o Centro de Estudos da Metrópole da USP. “O investimento do patrocínio é utilizado principalmente para arcar com os custos prediais. Sempre revertemos para esses gastos. Estamos falando de Avenida Paulista”, diz Marcelo Lima, CEO do Grupo Tonks, gestor do Cine Marquise, localizado no prédio do Conjunto Nacional.
O Cine Marquise está em busca de um nome para substituir a Sabesp, que não renovou o contrato de patrocínio encerrado em setembro. A companhia de saneamento cedia seu nome ao saguão do cinema, o que garantia o pagamento de aluguel, condomínio do Conjunto Nacional e IPTU — imposto para o qual os gestores negociam isenção com a prefeitura, benefício concedido aos cinemas de rua.
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Sem um novo patrocinador, Lima projeta que o cinema consiga se manter, à base de empréstimos, por mais 6 meses a 1 ano.
Novas dívidas, no entanto, se somariam àquelas já contraídas pelo cinema no decorrer da pandemia. Fechado por 18 meses entre 2020 e 2021, o Cine Marquise enfrenta uma situação similar à de diversos pares na indústria de exibidores no Brasil, que comprometem suas receitas com o pagamento de passivos contraídos para a manutenção dos cinemas durante o isolamento. Para manter salários e operação, o Cine Marquise hoje precisa equilibrar os pratos e escolher quais dívidas vai pagar. “Com todos os empréstimos e despesas do passivo, negociados, chegaria próximo ou ultrapassaria 50% das nossas despesas mensais”, diz Lima.
A poucos quarteirões do Cine Marquise, na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, o Cine Belas Artes passa por uma situação similar. Com uma dívida superior a R$ 1 milhão contraída no decorrer da pandemia, o queridinho da cinefilia paulistana recentemente noticiou que o Grupo Petrópolis, em meio a uma recuperação judicial, decidiu não renovar o contrato de naming rights com o cinema e deixará de estampar o nome da sua cerveja premium, a Petra, na fachada do prédio ao fim de 2023.
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Segundo seus gestores, a operação do Belas Artes é saudável e tem se beneficiado da retomada da ocupação de salas de cinema pelo Brasil. Juliana Brito, diretora executiva do Belas Artes Grupo, afirma que a bilheteria hoje está entre 60% e 70% daquela de 2019. O dado reflete a tendência geral. Segundo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o público dos cinemas aumenta consecutivamente desde 2020, mas ainda é 34,9% inferior ao ano anterior ao fechamento das salas.
A taxa de ocupação atual garante que o cinema mantenha o pagamento de suas despesas e siga reduzindo a dívida contratada na pandemia, cenário que mudaria com a ausência de um patrocínio, também focado no pagamento de aluguéis. Um levantamento feito pela plataforma de negócios imobiliários Aurea Digital, a pedido do IM Business, aponta que o aluguel de um prédio na Rua da Consolação com construção na década de 50 deva valer entre R$ 40 e R$ 60 por metro quadrado e o preço de locação para uma área equivalente às seis salas de cinema do prédio deve ser próximo de R$ 90 mil reais por mês.
Segundo Marcelo Lima, do Cine Marquise, o principal dificultador na prospecção de novos patrocinadores para cinemas é a preferência das companhias por leis de incentivo: “As empresas são muito focadas em projetos culturais, e não em equipamentos culturais […] Na esmagadora maioria das vezes, elas nem têm departamento para isso. Quando se fala de cultura, ela já entrega o setor de incentivo cultural”.
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Para os dois exibidores, no entanto, as contrapartidas oferecidas são igualmente interessantes para as empresas. A primeira delas é a exposição das marcas. No caso do Belas Artes, em função da lei da cidade limpa, essa vantagem é literal. Ter o logo gravado no letreiro do cinema é uma das poucas opções para quem quer seu nome em uma das esquinas mais movimentadas da capital.
Além do mais, os dois cinemas são reconhecidos por uma programação de títulos mais diversificada, que costuma atrair um público adulto, em idade produtiva. No Cine Marquise, a faixa etária média varia de 25 a 45 anos. “É uma parcela de público altamente consumidora”, diz Lima.
Esse mesmo público ainda costuma ser engajado e identificado com esses espaços culturais. O Cine Belas Artes, por exemplo, fechou em 2011 por falta de patrocínio e não renovação do contrato de aluguel, resultando na criação do coletivo Belas Artes Meu Amor, fundado para pressionar autoridades e órgãos públicos pela preservação do espaço. O movimento contribuiu para a reabertura do cinema em 2014, com patrocínio da Caixa, e o tombamento da sua fachada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).
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Esse é o principal motivo pelo qual simplesmente deixar a região da Avenida Paulista não é uma opção. Para manter sua posição e apelo diante do seu público, os gestores acreditam na necessidade de preservar a operação no espaço que ocupam há mais de 50 anos. “O Belas Artes é o Belas Artes porque é aqui”, diz Brito.
A publicação que anunciou o fim do patrocínio do Grupo Petrópolis e estimulava frequentadores a marcarem potenciais novos parceiros teve mais de 1.300 comentários no Instagram e 94,3 mil visualizações no Twitter.
O Grupo Petrópolis afirma que a interrupção do patrocínio ocorre em um momento de redução dos gastos e criteriosa revisão de investimentos, dentro do contexto de recuperação judicial por que passa a companhia. “Superado o momento atual, o Grupo pretende reativar parcerias com projetos culturais alinhados às suas marcas e ampliar o apoio a festas da cultura popular”, diz em nota.
A Sabesp apenas diz que cumpriu os 24 meses previstos em contrato com o Cine Marquise e segue patrocinando ações culturais, com investimento de R$ 48,8 milhões no ano de 2022.
Enquanto buscam por novos parceiros, ambos os cinemas têm apostado em estratégias para melhorar seus rendimentos com eventos culturais, exibições durante as madrugadas, aluguel de salas para festas e reuniões corporativas. O Belas Artes Grupo, composto pelo espaço na Rua da Consolação e pelo streaming Belas à la Carte, espera se transformar cada vez mais em um centro cultural, com exibição de shows, filmes sonorizados ao vivo e feiras de livros e discos.
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