Quando os mercados internacionais passam por turbulências, os treasuries costumam ganhar os holofotes, pois funcionam como um porto seguro para o dinheiro. E isso se acentua quando os juros americanos estão em alta. Afinal, rentabilidade com segurança é o sonho de quase todo investidor. 

Os treasuries são uma das alternativas mais buscadas para quem pretende mitigar o risco na hora de investir. A seguir, mostraremos o que são, como funcionam e como o brasileiro pode aplicar nesses títulos. Confira: 

O que são treasuries? 

Treasuries são o equivalente aos papéis do Tesouro Direto brasileiro, ou seja, são títulos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos para o financiamento da dívida do governo. 

Todo país necessita de recursos para investir em atividades básicas voltadas à população – como infraestrutura, saneamento, segurança, e assim por diante. E somente a arrecadação tributária não supre toda essa necessidade. Por isso, a emissão de dívida acaba sendo mais uma fonte de captação para o governo, e ela se dá por meio dos títulos públicos federais. 

Nos Estados Unidos, os treasuries são os bonds públicos. Há também os corporate bonds, que são títulos emitidos por empresas para o mesmo fim, que é a captação de recursos para o financiamento de suas operações. 

Remuneração dos treasuries 

A maioria dos treasuries possui taxa de juros prefixada, ou seja, com remuneração conhecida no momento da aplicação. Papéis como esse são diferentes, por exemplo, do Tesouro Selic, modalidade pós-fixada do Tesouro Direto. 

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Taxas prefixadas dão mais previsibilidade ao investidor que adquire o título público americano, pois ele já sabe qual será o seu rendimento desde o início da aplicação. 

Normalmente os juros dos treasuries de longo prazo são maiores do que os de curto prazo. Mesmo que a economia dos Estados Unidos seja considerada a economia mais forte do mundo, riscos sempre existem em todo tipo de investimento. E, no longo prazo, o investidor estará mais vulnerável a eles, o que justifica uma remuneração mais alta para esses títulos. 

Em 2023, no entanto, essa dinâmica se inverteu. Diante dos problemas fiscais do governo americano, os treasuries de curtíssimo prazo, com vencimento em dois anos, passaram a oferecer taxas maiores do que os longos, de 10 e 30 anos. Especialistas, porém, acreditam que esse comportamento, visto como uma “anomalia”, deverá ser corrigido à medida que os juros da economia dos EUA caiam. 

Tipos de treasuries 

Ao todo, são cinco tipos de treasuries que o Tesouro americano disponibiliza para os investidores. A exemplo do Tesouro Direto, alguns deles oferecem a possibilidade de recebimento de juros semestrais. Veja a seguir: 

  • T-Bills: possuem vencimento de curto prazo, que vão de quatro semanas a um ano. 
  • T-Notes: contemplam vencimentos entre dois e 10 anos, e pagam juros semestrais. 
  • T-Bond: são os títulos com vencimentos bem mais longos, entre 20 e 30 anos, sendo que o investidor já pode resgatá-lo a partir de 10 anos. Também paga juros semestrais. 
  • TIPs: são os títulos indexados à inflação (Treasury Inflation Protection), com prazos entre cinco e 30 anos e com pagamentos de juros semestrais. 
  • FRN: são os títulos pós-fixados (Floating Rated Notes) de até dois anos e pagamentos trimestrais de juros. 

O que é yield dos treasuries? 

Yield nada mais é do que a rentabilidade dos treasuries, o retorno que o investidor receberá do Tesouro americano pela compra dos papéis. 

Esses rendimentos acompanham a expectativa que o mercado tem para as decisões do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA. Quando o Fed aumenta os juros, o preço dos treasuries em circulação tende a cair, pois os títulos que o governo emitir após a alta dos juros serão mais atrativos para o investidor. Por outro lado, quando os juros caem, os preços dos treasuries sobem, pois nesse caso eles irão remunerar melhor o investidor em relação a títulos emitidos no futuro. 

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Como investir em treasuries morando no Brasil? 

Quem deseja investir na renda fixa americana a partir do Brasil pode fazer isso de duas formas. Uma delas é abrindo uma conta internacional junto a uma corretora que atua nos Estados Unidos. 

A conta internacional é uma alternativa para quem deseja aplicar em outras geografias. No caso dos EUA, além da renda fixa, o investidor pode ter acesso ao maior mercado de renda variável do mundo, pois as bolsas do país – NYSE e Nasdaq – possuem juntas mais de 6.500 empresas listadas. 

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Corretoras como XP e Avenue, bancos tradicionais como Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, e bancos digitais como o C6 Bank são alguns exemplos de instituições financeiras que oferecem a conta internacional. O investidor pode adquirir treasuries diretamente por meio dessas plataformas e negociá-los no mercado secundário também por intermédio dessas instituições. 

Outra forma de investir em treasuries é por meio dos BDRs de ETFs (fundos de índice) disponíveis na bolsa brasileira. Os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) são títulos que representam ativos internacionais, mas são comercializados no mercado brasileiro e em reais.  

Esses investimentos são lastreados em cotas de ETFs emitidos no exterior. Trata-se de uma opção mais prática para quem procura diversificação no mercado norte-americano. As taxas de administração costumam ser de até 0,5% ao ano. 

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Em outubro de 2023, o investidor encontrava cerca de 40 BDRs de ETFs de renda fixa na B3. Entre esses, pouco mais de 10 são exclusivamente de títulos públicos dos quatro tipos que vimos anteriormente. Mas há opções que mesclam cotas de ETFs de renda fixa e renda variável, o que pode ser interessante para um perfil mais arrojado. 

No pregão, podemos identificar os BDRs de ETFs pelo número 39 ao final do ticker. Alguns exemplos de BDRs de treasuries são: 

Código de negociação ETF que segue  
BTFL39 iShares Treasury Floating Rate Bond ETF 
BSTI39 iShares 0-5 Year TIPS Bond ETF 
BTIP39 iShares TIPS Bond ETF 
BGOV39 iShares US Treasury Bond ETF 
BIEI39 iShares 3-7 Year Treasury Bond ETF 

Custos dos treasuries para o investidor 

Quem opta por adquirir diretamente treasuries lá fora, terá o custo do fechamento de câmbio quando enviar os reais para a corretora. Nessa operação, o IOF incidente é de 1,1% (ou 0,38% entre CPFs diferentes), e há taxas de serviços cobradas pelas corretoras que costumam variar de 0,5% e 2% do valor da operação. Lembrando que cada instituição financeira tem sua própria política de tarifas, que podem ser mais ou menos vantajosas para cada investidor. 

Quando o investidor vende os treasuries com lucro, esses rendimentos são considerados ganhos de capital pelo fisco brasileiro e, por isso, sofrem a cobrança de Imposto de Renda. 

A alíquota do IR dependerá do valor do ganho de capital (diferença entre os preços de venda e de compra), iniciando em 15% até a máxima de 22,5%, obedecendo as seguintes faixas: 

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Base de cálculo (ganho de capital) Alíquota IR 
Até R$ 5 milhões 15% 
De R$ 5 milhões a R$ 10 milhões 17,5% 
De R$ 10 milhões a 30 milhões 20% 
Acima de R$ 30 milhões 22,5% 

Se o ganho de capital for inferior a R$ 35 mil no mês, a operação estará isenta do tributo. 

Diferentemente de outros títulos de renda fixa, os treasuries não têm retenção de IR na fonte. Logo, é o próprio investidor quem deve fazer a apuração e o recolhimento do tributo, pelo Programa Ganhos de Capital da Receita Federal (GCAP) até o último dia do mês seguinte ao que ocorreu o ganho de capital. 

A situação muda para a tributação dos cupons, que são os pagamentos de juros dos títulos. Nesse caso, como são ganhos considerados como renda, e não ganho de capital, sofrem taxação similar ao do Imposto de Renda pessoa física. Nesse caso, o imposto deve ser recolhido por meio do carnê-leão, conforme a seguinte tabela: 

Base de cálculo Alíquota 
Até 1.903,98 isento 
De R$ 1.903,99 até R$ 2.826,65 7,5% 
De R$ 2.826,66 até R$ 3.751,05 15,0% 
De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 22,5% 
Acima de R$ 4.664,68 27,5% 

Os valores, no entanto, devem mudar a partir de 2024. Se a atual equiparação da taxação com o IR pessoa física se mantiver, a faixa de isenção subirá para R$ 2.112. Mas, o Congresso também estuda mudanças mais profundas na tributação de investimentos no exterior que podem mudar totalmente as alíquotas e a forma como são aplicadas. 

Vale a pena investir em Treasuries? 

Em geral, investidores preferem treasuries em momentos de juros altos nos EUA, pois se o produto considerado o mais seguro do mundo remunera bem, ativos de renda variável acabam perdendo atratividade. 

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Por suas características, os títulos do Tesouro americano também têm liquidez mais alta do que a de outros papéis soberanos ao redor do mundo, inclusive os do Tesouro Direto. Isso significa que, caso deseje vender um treasury antes do vencimento, provavelmente o investidor encontrará interessados, mesmo que o título venha a sofrer marcação a mercado (ajuste diário no valor dos ativos). 

Para investir em treasuries diretamente ou em BDRs de ETFs que representem esses ativos, é preciso avaliar aspectos como prazos dos títulos e momento de mercado. Além disso, o perfil de risco deve ser adequado à exposição internacional, já que se trata de um ativo em moeda estrangeira – mesmo os BDRs de ETFs, que são negociados em reais, estão sujeitos à variação cambial, item que deve compor a avaliação de risco da carteira.