Economistas não descartam que juros dos EUA possam subir em dezembro após fala de Powell

Probabilidade de manutenção das taxas em novembro ainda é alta e debate pode migrar para por quanto tempo o juro alto será mantido

Roberto de Lira

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Ainda continua maior a probabilidade de o Fomc, o comitê de política monetária do Federal Reserve, optar pela manutenção das taxas de juros nos EUA no atual patamar na reunião de 1° de novembro, mas não há convicção de que o Banco Central americano encerrou seu ciclo de alta. Essa é a opinião dos economistas que analisaram o teor do discurso que o presidente do Fed, Jerome Powell, fez nesta quinta-feira (19) no Economic Club of New York.

Os especialistas destacaram que Powell repetiu que a taxa de juros está restritiva e que os efeitos defasados do aumento de juros sobre a economia ainda pode ser significativo, dado o rápido aumento de juros promovido ao longo de 2022.

Mas ele também alertou uma persistência do crescimento econômico acima da tendência e a força do mercado de trabalho podem colocar em risco a desaceleração da inflação, o que tornaria novos aumentos de juros.

O economista chefe da Nomad, Danilo Igliori, diz que o discurso não ajudou muito para iluminar  o que pode vir em termos de decisão. “Diferentemente da última reunião, está mais difícil cravar antecipadamente se vai ou não haver novo aumento de juros em novembro. Eu arriscaria dizer que se a reunião fosse hoje a probabilidade de manutenção seria maior”, afirmou.

Igliori destacou que muita coisa para acontecer até o final do mês, particularmente com relação aos desdobramentos da guerra no Oriente Médio. “Se ficar claro que a oferta de petróleo vai sofrer de forma expressiva pode haver maior pressão para mais uma elevação.”

Para o economista da Nomad, o mercado está prestes a virar o debate, deixando de olhar tanto para o nível final da taxa e se preocupando mais com quanto ela precisará ficar nos níveis atuais. “Acredito que o ‘higher’ esteja praticamente dado, já o ‘longer’ está bem mais indefinido”, comentou.

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Sávio Barbosa, economista chefe da Kínitro Capital, também classificou a fala do presidente do Fed como relativamente neutra, sinalizando que o Fomc não deve subir a taxa de juros em novembro, mas deixando a possibilidade de um novo aumento em dezembro em aberto.

“Projetamos que a economia americana seguirá forte ao longo do 4º trimestre de 2023 e que a inflação mostrará persistência perto de 3,5%, acima da meta de 2% do Fed. Dessa forma, acreditamos que o Fed elevará a taxa de juros mais uma vez em dezembro e manterá essa taxa em patamar restritivo por um período prolongado, até o 4º trimestre de 2024”, previu.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também observou que o discurso de Powell teve dois momentos, primeiro num tom mais “dovish”, falando que não está garantida a necessidade de altas de juros e que os diretores vão analisar dado a dado antes de sua decisão.

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“Depois, ele mudou um pouco o tom, quando começou a mencionar que talvez tenha que ficar com os juros ais altos por mais tempo, que entre aliviar a parte fiscal e levar a inflação para a meta, a prioridade tem se ser sempre a inflação”, explicou.

Cruz disse que essa mudança acabou neutralizado um pouco o sentimento de alívio, quando o mercado teria ter interpretado como de nenhuma chance mais de alta de juros. “No geral, foi um discurso de tentar acalmar um pouco os ânimos. O mercado está bem nervoso ultimamente no mundo inteiro”, disse.

O economista da RB Investimento também destacou como positivo o ponto da Fala de Powell que mencionou a desaceleração do crescimento dos salários. Sobre a inflação recente, no entanto, ele comentou que os números ainda estão bem distantes da meta, com uma leve pressão de alta. Assim, a previsão de Cruz é que, até o final do ano, o debate vai se ficar no dilema se há chance ou não de uma nova alta de juros.