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Rio (quase) 40 graus aquece debate sobre impacto da mudança do clima nas seguradoras

Onda de calor, que aconteceu não apenas o Rio, mas em boa parte do país, reforçou um dos temas principais da 38ª Conferência Hemisférica de Seguros (Fides)

Estadão Conteúdo

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Fazia mais de 39 graus no Rio de Janeiro no último domingo, 24, muito acima da média de 26 graus para a temperatura máxima na cidade para essa época do ano. Executivos vindos de toda a América Latina estavam preparados para o calor de verão em plena primavera, mas não tanto. “Não é sempre assim, certo?”, perguntou um deles ao Broadcast.

A onda de calor, que aconteceu não apenas no Rio mas em boa parte do País, reforçou um dos temas principais da 38ª Conferência Hemisférica de Seguros (Fides), prevista há mais de um ano e que levou boa parte do mercado segurador latino americano ao Rio: o impacto das mudanças climáticas sobre o mundo e também sobre o setor.

Foi uma coincidência, mas uma coincidência que está acontecendo cada vez mais frequentemente”, disse o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), Dyogo Oliveira. “Fenômenos que aconteciam com uma certa frequência estão acontecendo com uma frequência maior e também com uma severidade maior.”

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No continente americano, as perdas para as seguradoras com a mudança do clima são reais. No Caribe, tradicional rota de furacões, as mudanças na temperatura dos oceanos estão deixando as tempestades mais intensas. No ano passado, o furacão Ian, que passou pela região caribenha e também pela Flórida, nos Estados Unidos, se tornou o terceiro que mais gerou prejuízos na história: cerca de US$ 115 bilhões.

A resseguradora Swiss Re estimou que desse montante, até US$ 65 bilhões estavam cobertos por seguros. Isso tornava o Ian a segunda maior perda da história para o mercado, atrás somente do furacão Katrina em 2005.

No Brasil

O Brasil não tem furacões, mas também é afetado. Entre meados de 2021 e o começo de 2022, a ocorrência do fenômeno climático La Niña levou a uma seca na Região Sul do País que gerou perdas em uma série de safras agrícolas. O resultado foi que os pedidos de indenização no seguro rural saltaram de R$ 7,2 bilhões em 2021 para R$ 10,5 bilhões no ano passado. No “seguro do seguro”, o resseguro, passaram de R$ 2,2 bilhões em 2021 para R$ 5 bilhões.

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“Foi a primeira vez que o Brasil teve market loss, que é uma perda de bilhões em que todo mundo é afetado”, disse o CEO de resseguros para o Brasil da empresa de gerenciamento de riscos Aon, Antônio Jorge Rodrigues. “Isso fez com que o mercado abrisse os olhos [para os impactos da mudança climática].”

O diretor para seguros da Fitch Ratings no Brasil, Alexandre Chang, afirmou que outros eventos começam a mostrar os efeitos que a crise climática pode ter no Brasil e no mercado segurador. “No Sul do Brasil, alguns eventos que não se via com tanta frequência, como ventos e inundações, se tornaram mais frequentes.”

Na visão da agência de classificação de risco, o País ainda não se tornou um mercado catastrófico, mas os efeitos da mudança climática são inegáveis. “A mudança climática já está tendo efeitos ao levar os eventos catastróficos a zonas que não eram, como Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia”, disse o diretor sênior de seguros na América Latina, Eduardo Recinos.

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Mais um ano

As perdas causadas pelo aumento da temperatura do planeta acontecem em um momento em que o mercado de seguros lida com preços mais altos. É o que o setor chama de endurecimento, ou hard market: por escassez de capital, os preços cobrados nas apólices ficam mais altos, a cobertura cai ou ambos.

Rodrigues, da Aon, afirmou que um conjunto de fatores explica esse contexto: a pandemia da covid-19, a guerra da Ucrânia e a alta da inflação em todo o mundo a partir do ano passado, levou os bancos centrais a aumentarem os juros.

O setor de seguros disputa capital com outras alternativas de investimento à disposição de investidores de grande porte, o que faz com que em momentos de alta de juros, perca atratividade perante a renda fixa. O efeito é maior se a inflação continua acelerada, porque é ela quem dita a correção do valor das indenizações devidas aos clientes.

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Esse aperto gera um efeito cascata: as linhas de retrocessão (nome técnico para os contratos em que as resseguradoras passam uma apólice para outro agente) encarecem, e as resseguradoras e as seguradoras se veem obrigadas a aumentar os preços e reduzirem determinadas coberturas. “A última vez que tivemos um ciclo de endurecimento do mercado foi nos anos 1980”, disse Rodrigues. Segundo ele, no Brasil, se tornaram comuns nas linhas para [clientes do] agronegócio limites de perda, que significam que as resseguradoras só cobrem perdas até um determinado porcentual da carteira das seguradoras.

Recinos, da Fitch, antevê uma melhoria a partir de 2025. “O retorno das resseguradoras sobre o capital investido voltou a 10%, o que consideramos um bom resultado. Acreditamos que isso vai levar os investidores institucionais a voltarem pela indústria de resseguros, e deve levar o mercado a baixar preço”, disse.

Segundo Rodrigues, da Aon, a piora de condições começa a amenizar, e 2024 deve ser um ano de estabilidade. “Se não tivermos nenhuma grande catástrofe natural no próximo ano, talvez para 2025 se reverta o ciclo”, afirmou o executivo.