O início do fim do carro elétrico no Brasil

Fim da isenção de Imposto de Importação para carros elétricos pelo governo emperra chances do desenvolvimento deles no país

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Getty Images)
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Caros leitores, digníssimas leitoras,

Há exatos sete dias, fizemos um texto mostrando a chegada do novo carro elétrico da Volvo. Um SUV pequeno “topzera”, na faixa de R$ 220 mil, que tenderia a dar uma nova dinâmica para o mercado de carros eletrificados.

Mas, no melhor conceito BandNews FM, “em 20 minutos, tudo pode mudar”. Eis que o atual (des)governo brasileiro acabou de enterrar qualquer sobrevida ou chance de desenvolvimento do carro elétrico no mercado brasileiro!

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Mas, afinal de contas, o que aconteceu?

Pois bem, o (des)governo federal declarou que encerrará a isenção do Imposto de Importação para carros elétricos e que voltará a cobrar a alíquota vigente.

E qual é o “tamanho da mandioca”?

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É de “singelos” 35%. Isso quer dizer que o carro novo lançado pela Volvo por R$ 220 mil deverá passar a custar por volta de R$ 300 mil. Ou seja, além dos impostos que a Volvo já paga, neste exemplo o (des)governo federal vai abocanhar mais R$ 80 mil. Numa analogia simplista, se o carro chegar por R$ 300 mil, praticamente a metade (ou até um pouco mais) do valor do carro será de impostos.

Mas calma! Segundo o secretário do MDIC, o aumento será escalonado em até três anos. Além disso, é por um motivo nobre, na visão do secretário: “o que podemos fazer para estimular a produção local? Tornar as importações um pouco mais difíceis ou mais caras”.

Deixa eu ver se entendi: existem dezenaS de montadoras no Brasil, algumas com quase 100 anos de história (a GM está por aqui há 93 anos, com fábrica e operando há 95 anos) e só agora perceberam que é necessário um “incentivo” para poder produzir um veículo eletrificado?

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Nota do estagiário: excluo os japoneses da Toyota da pergunta acima

O grande problema de quase todo (des)governo é que tentam emplacar uma medida falida esperando um resultado diferente!

Vamos aos exemplos: para começar, tem o último “desconto patrocinado” pelo (des)governo federal com valores entre R$ 2 mil e R$ 8 mil que não serviu para muita coisa.

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Mas se a alegação é que a indústria estava megaestocada com quase 251 mil veículos no mês de maio e muitas sinalizavam que parariam suas produções fabris, acredito que hoje, com os seus quase 245 mil veículos estocados, deveremos ter novas paralisações das fábricas até o final do ano.

Pois, afinal de contas, o nível de estoque se manteve inalterado – na estratosfera. Além disso, a atividade econômica anda de lado como caranguejo e o crédito automotivo se encontra em LINS (Lugar Incerto e Não Sabido).

Essa última medida veio para frear a ascensão de algumas marcas como a própria Volvo, a GWM e a BYD – combinadas, as três marcas possuem 1,2% do mercado. Se pegarmos os outros carros elétricos vendidos por BMW, Porsche e afins, estamos falando de 1,5% do mercado.

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Aqui faço um questionamento a você, caro leitor(a) casado(a): como foi seu processo para se casar? Aposto que a grande maioria seguiu o seguinte trâmite: se conheceram -> namoraram -> noivaram -> se casaram.

E o processo é o mesmo para qualquer negócio de grande investimento!

GWM ou BYD, por exemplo, vinham seguindo essa trajetória – e de forma até rápida. Elas vieram para cá estudar o mercado (“se conheceram”); começaram a importar seus produtos para testar a aceitação (“namoraram”); e estavam em fase de construção de fábrica e consolidação da marca.

O ponto aqui é que o (des)governo decretou que, daqui para frente, “só se casando”! Mesmo demonstrando a intenção de casar-se (no futuro), o conceito agora é: ou casa, ou vaza!

Medidas como essa já foram tomadas no passado, quando o (des)governo da presidente Dilma Rousseff implementou seu programa INOVAR-AUTO. Na época, decidiram limitar a importação de carros para 4,8 mil unidades/ano (400 veículos/mês), por marcar além de uma sobretaxa de 30% no imposto de importação.

Naquela época, marcas que estavam tentando se instalar no Brasil sucumbiram, como a JAC e a Chery – esta só ganhou sobrevida devido ao ‘Toque de Midas’ do falecido Dr. Carlos, criando a empresa CAOA-CHERY. O programa era tão ruim, mas tão ruim, que vários governos (Japão, Comunidade Europeia, Estados Unidos, Argentina e China) representaram contra o Brasil na OMC.

A conclusão da OMC na época foi que “a política industrial nacional é ilegal em três pontos: imposição de regime tributário mais pesado para bens importados do que aos nacionais; concessão de incentivos fiscais a quem produz localmente e oferta de subsídios às empresas exportadoras”.

Resumindo, a OMC decretou que o programa INOVAR-AUTO era ilegal!

Mas o estrago já havia sido feito.

Hoje, no melhor estilo Orloff (“Eu sou você amanhã”), a história se repete!

Marcas que estavam trazendo produtos de ponta, tanto em tecnologia como em motorização, irão repensar dez vezes seu business plan. Não é possível fazer uma mudança drástica deste tipo da noite para o dia. Ou porque o pessoal lá da Avenida Indianópolis fica choramingando com a invasão chinesa que está trazendo produto de ponta com custo aceitável (e isso vai impactar no meu PLR no final do ano).

Olha o tamanho da insegurança jurídica que a gente cria!

Isso sem levar em consideração que o atual (des)governo falar abertamente que é defensor ferrenho do “E” do conceito ESG.

Você acredita mesmo, caro leitor, que as marcas daqui irão fazer investimentos para a produção do carro eletrificado? Talvez na próxima década (com sorte)!

Enfim, o pessoal de Volvo, GMW, BYD e outras viveram um conto shakespeariano: “sonhos de uma noite de verão”. Pois, afinal de contas, a vida no Brasil é um pouco mais dura!

Mas parte da culpa é delas…

Quando você chega em Guarulhos, tem uma placa que sinaliza bem todo o nosso processo. Eles só não prestaram atenção:

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui.

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva