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Já não é tão certo que a China se tornará a maior economia do planeta, segundo artigo para o Financial Times escrito pelo economista Mohamed El-Erian. O presidente do Queens’ College, em Cambridge, e principal consultor econômico da Allianz, argumenta que o gigante asiático enfrenta entraves para o crescimento estruturais.
El-Erian diz que economistas e analistas de Wall Street têm se mostrado desapontados com o desempenho econômico recente da China e que eles ainda mantêm a esperança de que essa condição possa levar o governo local a um esforço de estímulo semelhante ao aplicado em 2008, o que revigoraria o crescimento interno e restauraria a China como um motor chave da expansão global.
Contudo, ele afirma que o cenário mais provável é a continuação de um crescimento fraco. “A principal questão política agora é saber com que rapidez o governo irá passar das medidas de estímulo para uma revisão fundamental mais rápida da sua estratégia de crescimento”, analisa.
Segundo El-Erian, o desempenho desanimador até aqui pode ser atribuído a dois fatores principais: uma recuperação fraca após o alívio das restrições rigorosas de combate à covid-19 e desafios de crescimento mais persistentes e estruturais.
Este último fator, destaca, é resultado de uma estratégia econômica que historicamente tem dependido excessivamente do setor imobiliário, da dívida local elevada, de empresas estatais ineficientes, da indústria de transformação de baixo custo e de plataformas de Internet voltadas aos consumidores domésticos.
Este problema foi agravado, diz o economista pelo excesso de regulamentação, pelas tensões geopolíticas e pela redução dos fluxos de investimento direto estrangeiro. “Também tem havido preocupações sobre uma potencial armadilha deflacionária ao estilo do Japão, especialmente à luz da queda dos preços ao consumidor e ao produtor. Alguns investidores estrangeiros perguntaram se a China é ‘investível’”, afirma.
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Medidas fragmentadas
O economista comenta ainda que as autoridades chinesas anunciaram nas últimas semanas uma série de pequenas medidas monetárias, fiscais e de regulamentação para impulsionar a economia e os mercados. Até agora, essas medidas foram percebidas como fragmentadas e sem convicção, embora muitos ainda acreditem que elas acabarão por acumular uma massa crítica impactante.
Mas El-Erian afirma que existem problemas com essa visão. “A China enfrenta não só desafios de crescimento, mas também problemas financeiros significativos, incluindo bolsões de elevado endividamento que poderão facilmente transformar-se em riscos sistêmicos. Isto limita o espaço para estímulos antiquados”, analisa.
Ele cita, em particular, a maior sensibilidade em torno do setor imobiliário em dificuldades. Isso tem tornado as famílias mais cautelosas nos gastos, diminuindo ainda mais o motor de crescimento. “As preocupações com o desemprego juvenil persistem e não foram ajudadas pela decisão do governo de suspender a divulgação de dados relevantes”, alerta.
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Além disso, as perspectivas do comércio externo e do investimento são igualmente problemáticas, dia o artigo. “Há uma percepção crescente de que a dissociação econômica e financeira entre a China e os EUA irá provavelmente continuar. Isto poderia reduzir a contribuição das exportações para o crescimento, perturbar a importação de insumos industriais cruciais, prejudicar o investimento direto estrangeiro e tornar os investidores de ainda mais ariscos.”
El-Erian diz também que a vontade das autoridades chinesas também está em questão. “Uma análise cuidadosa das declarações da liderança aponta para preocupações de que a forte dependência das medidas de estímulo tradicionais possa pôr em risco a capacidade da China de escapar à armadilha comum do desenvolvimento de ficar presa nos níveis de rendimento médio.”
Ele destaca que essa armadilha já impediu muitos países em desenvolvimento na sua tentativa de se juntarem às fileiras das economias avançadas. Um estímulo ‘big bang’, alega, também aumentaria o risco de corrupção.
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Para o economista, é provável que as autoridades continuem a apenas mexer em pequenas medidas de estímulo, ao mesmo tempo que procuram comunicar melhor a sua intenção de acelerar a transição para novos setores de crescimento – como a indústria transformadora de maior valor agregado, a energia verde, os cuidados de saúde, a inteligência artificial, a supercomputação e as ciências da vida. “Esse modelo de crescimento renovado leva tempo e envolve destruição criativa, especialmente no curto prazo.”
“Além disso, as autoridades terão de considerar medidas de reestruturação da dívida mais enérgicas que, inicialmente, também prejudicam o crescimento. É tempo de os mercados reconhecerem que a China não vai regressar ao seu antigo manual econômico e financeiro, e o seu regresso como um poderoso motor do crescimento econômico global é improvável num futuro próximo”, prevê El-Erian
“O desempenho econômico deverá permanecer fraco durante o resto de 2023 e no primeiro semestre de 2024. Olhando para além deste período, as perspectivas também estão longe de ser tranquilizadoras.”
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Com tudo isso, conclui o artigo, o desafiador processo de reorientação da economia chinesa face às tensões geopolíticas em curso e à complexidade da construção de uma ordem internacional alternativa enfrenta obstáculos significativos.
“As autoridades terão de ultrapassar a sua esmagadora inclinação para a centralização e, em vez disso, permitir, em microgerir, a emergência de poderosos motores de crescimento do setor privado. Apesar do que muitos possam continuar a dizer, já não é um dado certo que a China se tornará a maior economia do mundo.”