China opta por estímulos pontuais e flexibilização para a compra de imóveis mostra resultados no fim de semana

Após medidas anunciadas na semana passada, corretores trabalharam 24 horas por dia para dar conta da maior procura moradias novas e usadas

Roberto de Lira

Representação do mercado imobiliário da China (Foto: Shutterstock)
Representação do mercado imobiliário da China (Foto: Shutterstock)

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Apesar de algumas críticas de economistas locais de que o governo chinês está tentando recuperar a confiança dos consumidores atuando em uma parcela do mercado de cada vez, evitando assim lançar mão de um pacote unificado de medidas (que pode acabar sendo inevitável), foi possível observar nesta semana os efeitos do estímulo dado ao setor imobiliário.

As vendas de casas em duas das maiores cidades da China dispararam nos últimos dois dias, após a flexibilização das hipotecas anunciada na última quinta-feira (31), movimento que foi considerado um primeiro sinal de que os esforços do governo para amortecer a desaceleração imobiliária recorde podem trazer algum resultado.

As novas medidas dirigidas às famílias, que terão início no final deste mês, reduzirão as hipotecas para quem compra uma casa pela primeira vez para 20% e de 40% para 30% para quem compra pela segunda vez. Os compradores de casas também podem solicitar aos seus bancos uma taxa de juros mais baixa sobre os empréstimos existentes.

Também foi anunciado que as reduções de impostos para o cuidado de crianças menores de três anos e para a educação serão duplicadas, de 1.000 yuans (137 dólares) para 2.000 yuans por mês, informou o Conselho de Estado na quinta-feira.

Pequim tem tentado criar incentivos econômicos para aumentar a sua taxa de natalidade, num contexto de diminuição e envelhecimento da população, em meio a elevados custos de cuidados infantis e de alto desemprego juvenil.

Vendas de imóveis dobram

Na parte imobiliária, alguns resultados começaram a aparecer. A vendas de moradias existentes em Pequim e Xangai dobraram no final de semana em relação ao anterior, de acordo com a CGS-CIMB Securities. “Ficamos surpresos com a forte recuperação em Pequim e Xangai, apesar da economia desafiadora”, disse Raymond Cheng, chefe na China da área de patrimônio da CIMB.

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As duas megacidades – cada uma com uma população de mais de 20 milhões de habitantes – foram as que mais se beneficiaram do anúncio, que reduziu os limites de pagamento inicial em todo o país.

As duas metrópoles também não vão mais desqualificar as pessoas que já tiverem uma hipoteca – mesmo que totalmente reembolsada – de serem consideradas compradores de um imóvel pela primeira vez, desde que não possuam uma propriedade, de acordo com declarações separadas dos governos municipais.

Um indicador da Bloomberg sobre as ações de desenvolvedores chineses na Bolsa subiu até 8,7% nesta segunda-feira (4).

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No final de semana, Zhao Xijun, professor de finanças na Universidade Renmin, disse ao jornal South China Morning Posto que as medidas podem funcionar como um impulso cumulativo para a confiança do mercado, mas que uma reversão drástica das baixas expectativas do mercado exigirá um novo estímulo sustentado, a ser dado no futuro.

“(As políticas) significam que o governo está fazendo mudanças em uma camada de cada vez, em vez de tentar introduzir uma solução única”, alertou.

Zhao descreveu a última rodada de medidas como “relativamente moderada”, mas “abrangente”, uma vez que cobriu áreas que incluem supervisão monetária, fiscal e financeira. “O ajuste gradual das taxas poderia servir para evitar bolhas especulativas em certas áreas”, acrescentou.

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O jornal lembrou que tem havido apelos crescentes de economistas nacionais e estrangeiros por pacotes de estímulo maiores e a um maior afrouxamento da política monetária para resolver tanto a estagnação iminente como os problemas estruturais de longo prazo.

Mas Pequim parece relutante num contexto de um nível já elevado de dívida dos governos locais e de receios de desencadear os níveis de inflação observados nos países ocidentais. Os críticos também afirmaram que há falta de vontade política e que a economia tem sofrido devido a um controle cada vez mais rígido pela segurança nacional.

Novos projetos

O fato é projetos de novas casas também voltaram a atrair interesse. Em Pequim, mais de 1,8 mil unidades de novas casas foram vendidas só no sábado (2), mais da metade das 3,1 mil novas residências em agosto, segundo Zhang Dawei, analista da agência imobiliária Centaline.

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Alguns novos projetos habitacionais em Xangai registaram o mesmo número de transações num só dia que no mês anterior inteiro, de acordo com um relatório do The Paper.

Zhang acrescentou que as transações de casas usadas em Pequim cresceram mais de 100% no sábado, para 1.200 unidades, em comparação com a semana anterior, disse, citando o China Securities Journal.

Para lidar com a alta do movimento, os corretores imobiliários trabalharam 24 horas por dia durante o fim de semana. Em Xangai, potenciais compradores visualizaram amostras de casas em um projeto na área de Lingang até as 3 da manhã, um dia após os anúncios. Isso superou as expectativas da construtora estatal CSC Jiuhe, de acordo com vários agentes que originalmente só foram orientados a se preparar para trabalhar até meia-noite.

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“A recente flexibilização desde a semana passada superou as expectativas”, disse Betty Wang, economista sênior do Australia & New Zealand Banking Group, antes dos anúncios em Pequim e Xangai.

As medidas vieram depois de as vendas de imóveis na China terem recuado caído em agosto. A desenvolvedora Country Garden Holdings Co., que já foi a maior do país, está à beira de um calote.

Os riscos estão se espalhando para o sistema financeiro de US$ 60 bilhões do país. Até agora, as autoridades têm evitado recorrer a um resgate em grande escala, o que poderia colocar em risco a meta de crescimento de 5% do PIB no ano estimada pelo governo.

A nova rodada de estímulo pode ajudar a impedir que o declínio nas vendas de imóveis se aprofunde ainda mais, mas é improvável que o reviva, segundo a analista imobiliária da Bloomberg Intelligence, Kristy Hung, em nota nesta segunda-feira.

O motivo é que as cidades maiores, com espaço para flexibilizar as exigências de empréstimos, representam apenas 31% das vendas de casas novas. Assim, a magnitude do declínio nas vendas, de 34% em agosto, deverá persistir até ao final deste ano, previu Hung.

A recuperação das vendas para cidades pequenas pode não ser tão forte, acrescentou Cheng, da CIMB.

(Com Bloomberg)