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Há empresas que atraem acionistas com metas agressivas de crescimento. Outras optam por pagamentos recorrentes de dividendos. Como equilibrar essas duas estratégias em uma carteira de longo prazo é uma dúvida comum dos investidores – ainda mais para aqueles que querem ter parte do patrimônio aplicada no exterior.
O leitor do InfoMoney Sérgio S., por exemplo, começou a investir no exterior com a intenção de montar uma carteira para receber dividendos em dólar – e só depois se deu conta de que, ao contrário do Brasil, onde os proventos são isentos de Imposto de Renda (ao menos por enquanto), nos Estados Unidos eles são taxados em 30%.
Como meu plano é viver de dividendos daqui a alguns anos, faz mais sentido começar já a comprar ativos que pagam altos dividendos no exterior ou é melhor investir em ativos que visam crescimento do capital, para depois vendê-los e reinvestir nos que pagam mais proventos?
Sérgio S., leitor do InfoMoney
A resposta para a pergunta de Sérgio pode estar na estratégia de um dos maiores e mais famosos investidores do mundo: Warren Buffett.
O portfólio da Berkshire Hathaway (BRK.B), holding de investimentos de Buffett, é composto por empresas de capital fechado e também por participações majoritárias e minoritárias em companhias de capital aberto – que, para os investidores brasileiros, é a parte que mais importa, já que pode ser replicada em uma carteira própria.
A holding tem US$ 328 bilhões em ativos de 49 empresas listadas nos Estados Unidos, e com um detalhe: Buffett equilibra ações de dividendos de empresas consolidadas com ações de crescimento.
Se também quiser ter suas perguntas sobre como investir no exterior respondidas pelo InfoMoney, escreva para onde_investir@infomoney.com.br.
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Nem tanto ao céu, nem tanto ao mar
Segundo os especialistas ouvidos pelo InfoMoney, o equilíbrio do portfólio de Buffett entre crescimento e dividendos é um bom parâmetro para montar uma carteira individual de longo prazo para os investidores brasileiros, considerando o fator tributação.
“Nos Estados Unidos, as empresas não são incentivadas a pagar dividendos como acontece no Brasil. Existem aquelas que pagam com regularidade, mas montar um portfólio pensando em pagamentos periódicos, como é possível por aqui, não é a melhor estratégia”, diz João Valladares, sócio da Arbor Capital.
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Para Valladares, o foco deve ser encontrar empresas com potencial de crescimento de lucro no longo prazo, e com preço justo da ação para ter um bom retorno no futuro.
Se a ideia é ter uma renda constante, de forma previsível, não precisa planejar isso na forma de dividendos. É possível montar uma estratégia para vender as ações no futuro de forma recorrente e planejada, obtendo renda da mesma forma.
João Valladares, sócio da Arbor Capital
Frederico Nobre, líder de análise da Warren, afirma que o brasileiro tem muito apego aos dividendos porque não são tarifados por aqui, “então faz sentido para as empresas distribuírem a maior parte de seus lucros dessa forma”. Nos Estados Unidos, o incentivo é para que as companhias reinvistam o valor para obter mais crescimento.
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Crescimento x dividendos
A diferença entre uma empresa de crescimento e de dividendos está bastante relacionada ao momento do negócio. Normalmente, uma boa pagadora de dividendos nos Estados Unidos é uma empresa consistentemente lucrativa, que já tem um negócio maduro e estável.
Para pagar proventos periódicos e crescentes, a empresa precisa ser saudável e ter lucro consistente. Ainda assim, não são distribuídos 100% dos lucros. “Uma parcela é direcionada para os acionistas e outra parcela é reinvestida”, diz Valladares.
Já as empresas de crescimento optam por reinvestir a totalidade de seus lucros excedentes para atingir a consolidação de mercado. É comum no caso das empresas de tecnologia, que precisam constantemente desenvolver inovações e novos produtos.
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O portfólio de ações da Berkshire Hathaway é concentrado (77,5%) em cinco companhias grandes e consolidadas: Apple (AAPL), Bank of America (BAC), American Express, Coca-Cola e Chevron (CVX). Buffett prega a filosofia do value investing – foco no longo prazo, com investimentos em empresas maduras, boas pagadoras de dividendos e que atuem em mercados maduros.
Com mudanças ao longo do tempo, a carteira do “oráculo de Omaha” rendeu uma valorização è empresa de quase 57.000% desde 1983. O preço da ação saiu de US$ 965 em agosto de 1983 para mais de US$ 550.000 na atualidade – um período de quarenta anos.
A Apple, que entrou na carteira em meados de 2016, hoje ocupa 45% do portfólio e é uma empresa focada em crescimento – embora também pague dividendos. Em 2022, a companhia pagou US$ 0,91 por ação no acumulado do ano. O Bank of America é uma empresa financeira, mas não é exatamente um ícone dos dividendos. No ano passado, a distribuição ficou em US$ 0,85 por ação.
As “vacas leiteiras” dentre as principais ações do portfólio de Buffett são American Express, com US$ 1,99 de distribuição em 2022; Coca-Cola, com US$ 1,76, e Chevron, com US$ 5,68.
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Montando a carteira
O sócio da Arbor Capital destaca que a análise não deve ser sobre escolher entre ações de crescimento ou de dividendos. “Essa separação não é forma correta de escolher. O importante é focar em empresas que apresentem crescimento de lucro e faturamento. Dessa forma, seja na forma de dividendos, crescimento ou recompra de ações, elas vão dar retorno ao acionista”, diz.
Para quem tem disponibilidade de analisar as empresas, conferir os balanços de forma recorrente e acompanhar o desenvolvimento, Nobre aconselha montar um portfólio de forma gradual e paciente. “O foco é no longo prazo, então disciplina e consistência é o mais importante. Fazer alocações aos poucos, escolhendo empresa por empresa”, diz Nobre, da Warren.
Já para quem não tem essa disponibilidade ou conhecimento, os analistas indicam a escolha de fundos de gestão ativa ou ETFs (fundos de índices) de gestão passiva. Há muitas opções com estratégias diferentes. O próprio Warren Buffett investe em nos fundos de índices.
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O portfólio da Berkshire tem dois fundos que replicam o índice S&P 500, principal referência de ações dos EUA: o SPDR S&P 500 ETF Trust (SPY) e o Vanguard S&P 500 ETF (VOO).
“Em janelas de mais de duas décadas, a bolsa americana tem o melhor retorno. Supera as Treasuries, imóveis, ouro. É um mercado muito mais consolidado e seguro para se investir no longo prazo”, diz Valladares
Veja o portfólio da Berkshire Hathaway (ações com até 1% de participação):
Ticker | Empresa | % de participação | US$ em ações |
AAPL | Apple Inc | 45,10% | 915.560.382 |
BAC | Bank of America Corp | 8,80% | 1.032.852.006 |
AXP | American Express Company | 6,90% | 151.610.700 |
KO | Coca-Cola Co. | 6,80% | 400.000.000 |
CVX | Chevron Corporation | 5,90% | 132.407.595 |
OXY | Occidental Petroleum Corp | 3,90% | 224.129.192 |
KHC | Kraft Heinz Co. | 3,10% | 325.634.818 |
MCO | Moody´s Corp | 2,30% | 24.669.778 |
8058:TYO | Mitsubishi Corp | 1,60% | 119.497.600 |
8031:TYO | Mitsui & Co | 1,40% | 125.022.300 |
8001:TYO | Corporação Itochu | 1,30% | 118.331.800 |
DVA | Davita Inc | 1,10% | 36.095.570 |
HPQ | HP Inc | 1,10% | 120.952.818 |
Fonte: 13F Berkshire Hathaway e CNBC