Críticas à indicação de Pochmann para o IBGE citam perfil “ideológico” e atuação anterior no Ipea

Ex-presidente do Ipea é acusado de ter direcionado pesquisas de acordo com suas teses sobre a maior presença do Estado na economia

Estadão Conteúdo

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Desde a confirmação na quarta-feira (26) que o economista Marcio Pochmann tinha sido indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidir o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), críticas ao seu nome e alertas sobre um possível uso político das pesquisas do órgão têm se multiplicado.

O nome de Pochmann, diretamente ligado ao Partido dos Trabalhadores – ele já foi candidato à prefeitura de Campinas pelo partido por duas vezes e também a deputado federal – encontra resistências especialmente por sua gestão à frente de outro instituto público de pesquisas, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre 2007 e 2012.

À época, ele foi acusado de interferir diretamente na linha de atuação da Ipea, direcionando as pesquisas e estudos para temas que abordava em sua atuação acadêmica, como a defesa de uma economia com maior presença do Estado, desigualdade social e expansão de gastos.

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O economista Edmar Bacha, que presidiu o IBGE nos anos 19, foi um dos que engrossaram as críticas ao nome de Pochmann. Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que se sente “ofendido” como ex-presidente do instituto.

“Pochmann é um ideólogo. Tem uma visão totalmente ideológica da economia. E não terá problema de colocar o IBGE a serviço dessa ideologia, como fez no Ipea. Estou ofendido como ex-presidente do IBGE”, afirmou Bacha, que também participou da elaboração do Plano Real.

No ano passado, Bacha se aproximou de Simone Tebet e ajudou a então candidata à Presidência da República a formular o seu plano para a economia. Conhecedor da linha econômica da agora ministra do Planejamento e Orçamento, pasta à qual o IBGE está vinculado, Bacha se diz inconformado.

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“Não entendo como ela pôde ter aceitado (a indicação de Pochmann). É incompreensível. Espero que ela não assine essa nomeação, pois seria um desrespeito à sua própria autobiografia”, afirmou.

Bacha também disse esperar que haja uma reação dos “ibegeanos”, se referindo aos funcionários de carreira do órgão. “É uma verdadeira ofensa à estatística brasileira”, reforçou. Segundo ele, o temor é de que o IBGE se transforme no Indec, da Argentina, órgão que perdeu a credibilidade por distorções nos indicadores.

Gestão no Ipea

Nessa época em que Pochmann comando o Ipea, perderam espaço no isntituto pesquisadores como Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli, que defendiam em seus estudos uma reforma administrativa mais ampla e redução de gastos públicos. Pochmann sempre negou que tivesse praticado uma espécie de expurgo no instituto.

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Um dos estudos mais polêmicos durante sua gestão no Ipea foi divulgado em 2009, afirmando que a administração pública seria mais produtiva do que o setor privado. Segundo o trabalho, entre 1995 e 2006, a produtividade do setor pública nesse período tinha sido 35% foi maior do que a registrada no setor privado.

“Há muita ideologia e poucos dados nas argumentações de que o Estado é improdutivo, e os números mostram isso: a produtividade na administração pública cresceu 1,1% a mais do que o crescimento produtivo contabilizado no setor privado, durante todo o período analisado”, dizia o texto.

Entre os motivos que justificariam o aumento da eficiência produtiva da administração pública, Pochmann destacou na época inovações tecnológicas, processos mais eficientes de licitação e a certificação digital, além da renovação do serviço público, por meio de concursos.

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O temor de perda de credibilidade do IBGE é justificado pelos críticos por se tratar do principal provedor de dados e informações estatísticas do País. É esse o órgão responsável pelas pesquisas que informam e orientam empresas, economistas, associações de classe, investidores e formuladores de políticas públicas, como o Produto Interno Bruto (PIB), a inflação oficial (IPCA), taxa desemprego, vendas no varejo, produção industrial e volume de serviços.

O IBGE realiza também o Censo da população brasileira a cada 10 anos, embora a última pesquisa desse tipo tenha sido adiada por conta da pandemia de covid-19 e pelo corte de verbas realizado pelo governo Bolsonaro.

(Com Estadão Conteúdo)