“Bancões” devem apresentar crescimento moderado de receitas no 2º tri; qualidade do crédito segue no radar

As provisões, novamente, devem impactar os resultados e vão indicar o sentimento dos bancos em relação à economia brasileira

Mitchel Diniz

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Os resultados dos grandes bancos da Bolsa no segundo trimestre de 2023 devem repetir as tendências das últimas temporadas. Os destaques positivos e negativos ainda serão os mesmos, de acordo com os analistas, mas os números vão dizer se a configuração será mantida nas próximas levas de resultados. A qualidade do crédito dos bancos vai continuar no radar do investidor e a inadimplência deve continuar avançando de maneira desigual entre os players.

As provisões para empréstimos com atraso, novamente, devem impactar os resultados e vão indicar o sentimento dos “bancões” em relação à economia brasileira, que vem surpreendendo positivamente, mas ainda deve desacelerar.

“Acreditamos que os bancos devem apresentar tendências similares ao primeiro trimestre de 2023, mas é importante prestar atenção às mensagens da administração sobre crescimento de empréstimos a partir do segundo semestre”, afirmam os analistas do Bradesco BBI.

Segundo eles, o ciclo de deterioração de qualidade do crédito está próximo do fim, mas isso reflete uma postura mais conservadora dos bancos diante de condições econômicas ainda desafiadoras.

A XP prevê um segundo trimestre misto, diante de um cenário macroeconômico ainda abaixo do ideal. A casa acredita que a inadimplência deve continuar crescendo de forma marginal, com provisões para empréstimos inadimplentes ainda significativas. Essa combinação de fatores deve pesar negativamente sobre a temporada, mas de maneira assimétrica entre os bancos.

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Para Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4), o impacto deve ser menor, dada a maior seletividade na concessão de crédito de ambas as instituições financeiras nos últimos meses. A expectativa é que os bancos mantenham a trajetória de crescimento de suas carteiras de crédito.

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“Como resultado, vemos o Itaú e o Banco do Brasil bem posicionados para liderar em rentabilidade, mostrando apenas impactos marginais do ambiente desafiador em seu ROE [retorno sobre patrimônio líquido]”, diz relatório assinado por Bernardo Guttman, Matheus Guimarães e Rafael Nobre.

Por outro lado, os analistas preveem um trimestre difícil para Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4). Os dois bancos devem seguir afetados por maiores provisões e menor margem financeira com o mercado. “Esperamos a provável reversão dessa tendência apenas no segundo semestre”.

Os analistas do Goldman Sachs acreditam que a receita líquida com juros das instituições financeiras vai crescer de forma moderada no período, porém o crescimento das carteiras de empréstimos deve seguir em ritmo saudável. Enquanto Itaú e Banco do Brasil tendem a continuar apresentando retorno sobre patrimônio líquido (ROE) acima de 20%, o de Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) não deve passar dos 12%.

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“Na nossa visão, os investidores vão buscar indicações de que Bradesco e Santander estão em um ponto de inflexão para justificar as expectativas de recuperação no segundo semestre de 2023 e em 2024”, apontam os analistas do Credit Suisse. Segundo eles, é preciso ter particular atenção ao tom da administração durante as teleconferências de resultados.

Santander: tendências de resultados fracos permanecem

Como de costume, a Santander vai ser o primeiro grande banco da Bolsa a divulgar resultados. O balanço será apresentado nesta quarta-feira (26), antes da abertura do mercado. O consenso Refinitiv prevê que o lucro líquido da instituição financeira no segundo trimestre atinja R$ 2,472 bilhões, cifra 39,47% menor que a registrada um ano antes e maior que os R$ 2,14 bilhões dos três primeiros meses deste ano.

A receita líquida com juros (NII, na sigla em inglês) deve ficar em R$ 13,586 bilhões, de acordo com a média das projeções do mercado.

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A XP prevê um aumento de 8,9% na carteira de crédito do banco em bases anuais e de 2% em relação ao primeiro trimestre. Os analistas observam que a instituição financeira continua focada em linhas colateralizadas (empréstimos com garantias). Para a taxa de inadimplência, a previsão é de alta de 10 pontos-base na comparação trimestral, para 3,1%, “ainda em níveis controlados e índice de cobertura saudável [de 212%]”.

O ROE previsto pela XP para o Santander no período é de 12%, 90 pontos acima do registrado no primeiro trimestre, mas 930 pontos menor que o retorno de 21% de um ano antes.

Para o Goldman Sachs, as tendências de resultados mais fracos permanecem. O banco projeta lucro líquido recorrente de R$ 2,4 bilhões para o Santander Brasil no trimestre. Os analistas também esperam por uma queda de 43% nas provisões do banco, em relação aos três primeiros meses do ano.

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O Credit Suisse prevê lucro líquido de R$ 2,372 bilhões para o Santander, abaixo do consenso. A casa acredita que a venda da fatia de 40% na Webmotors, que era detida pelo banco, vai ajudar a recompor parte de provisões com impostos da companhia.

O banco suíço também calcula que o Santander vai fazer R$ 6,65 bilhões em provisões e que a taxa de inadimplência subirá em 57 pontos-base, para 3,7%.

Bradesco deve ter aumento relevante na inadimplência

O Bradesco (BBDC4) vai divulgar seus resultados no dia 3 de agosto, uma quinta-feira, após o fechamento da Bolsa. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido de R$ 4,544 bilhões para o banco no segundo trimestre. A cifra é 35,46% menor que a registrada um ano antes, mas supera o lucro de R$ 4,280 bilhões dos três primeiros meses de 2023.

A média das projeções do mercado aponta ainda para receita líquida com juros de R$ 16,878 bilhões, menor que os R$ 18,371 bilhões do primeiro trimestre e dos R$ 19,163 bilhões de um ano antes.

A XP prevê um avanço de 110 pontos-base no ROE do Bradesco em relação aos três primeiros meses do ano, para 12%. O retorno sobre o patrimônio, contudo, ainda é inferior aos 18% de um ano antes. A casa também estima um crescimento anual de 5% na carteira de empréstimos do banco e de 2,1%, na comparação trimestral, “apesar do aumento mais lento nas concessões para pessoa jurídica”.

Para a taxa de inadimplência, a expectativa é de aumento significativo, para 5,8% da carteira. “Isso deve levar o banco a reportar um índice de cobertura próximo a 179%”, diz relatório da XP, o que representa uma queda de 370 pontos base do índice em relação ao primeiro trimestre.

O Credit Suisse calcula que as provisões do Bradesco no período devem ficar em R$ 9,8 bilhões, levando o índice de cobertura do banco de 182% para 161%. Na avaliação dos analistas, ainda que o trimestre passado tenha sido marcado por sinais de inflexão, a taxa de inadimplência deve avançar para 5,9%, diante de um cenário ainda desafiador para clientes pessoa física e pequenas e médias empresas. A exposição a Americanas (AMER3) deve continuar pesando nessa conta.

“Esperamos que o banco confirme que o segundo trimestre de 2023 foi o pico da inadimplência”, afirmam os analistas do Itaú BBA. Contudo, a casa ainda prevê uma recuperação lenta para o banco em 2023 com riscos de que o guidance seja revisado pela administração. Ainda que reconheça o Bradesco como um bom player em um cenário de corte de juros, o BBA espera uma performance mais fraca das ações do banco no segundo trimestre.

Itaú: crescimento de dois dígitos na carteira de crédito

O Itaú (ITUB4) vai reportar seus resultados trimestrais após o fechamento do pregão do dia 7 de agosto. O consenso Refinitiv prevê lucro líquido de R$ 8,652 bilhões no segundo trimestre, cifra 12,67% maior que a registrada um ano antes e 2,57% superior a dos três primeiros meses de 2023.

“Esperamos por mais um trimestre consecutivo que o Itaú Unibanco apresente crescimento de dois dígitos em sua carteira de crédito, impulsionado pelas linhas de crédito relacionadas ao consumo”, escreveram os analistas da XP.

A casa prevê um aumento apenas marginal da inadimplência, para 3,5%, nível considerado ainda saudável. O índice de cobertura deve ficar em 217%.

“Isso reforça a solidez de seu balanço e reduz o risco de um aumento abrupto do provisionamento pressionar seus resultados no curto prazo”, escreveram os analistas. Segundo eles, o ROE do Itaú deve ficar estável em 20% no trimestre.

O Credit Suisse acredita que o banco vai constituir mais capital que os seus pares, com payout mais baixo e ROE em alta. “Isso deve abrir espaço para discussões em torno de um excesso de capital em meio a um cenário de crédito conservador, em função de um consumidor mais alavancado”, afirmam os analistas. Segundo eles, há chances de que o payout – a parte dos lucros que é distribuída aos acionistas – aumente no segundo semestre do ano.

O banco suíço prevê crescimento de 14,3% nas receitas financeiras do Itaú e provisionamento na casa de US$  9,55 bilhões. A taxa de inadimplência deve ir a 3,3%.

Banco do Brasil: atenção para as provisões

No dia 9 de agosto, após o fechamento da Bolsa, é vez do Banco do Brasil (BBAS3) divulgar seus resultados.  O consenso Refinitiv prevê lucro líquido de R$ 8,592 bilhões no segundo trimestre, cifra 10% maior que a registrada um ano antes e ligeiramente maior que a de R$ 8,55 bilhões dos três primeiros meses de 2023.

A média das projeções do mercado aponta para receita líquida com juros de R$ 22,025 bilhões no período.

A XP espera por mais um trimestre de crescimento robusto da carteira de crédito do BB, em linha com o limite inferior do guidance (entre 8% e 12%). O movimento deve ser impulsionado, principalmente, pelo crédito rural.

Para o índice de inadimplência é esperado um leve aumento de 10 pontos-base, na comparação trimestral, para 2,6%. “Ainda é o menor entre seus pares e reflete o perfil defensivo de sua carteira”, escreveram os analistas da XP. Assim, a casa espera que o índice de cobertura do banco permaneça elevado, em 221%.

A XP prevê ainda que o ROE do Banco do Brasil avance 20 pontos-base para 22%.

Os números estão em linha com as estimativas do Santander, que prevê lucro levemente acima do consenso, em R$ 8,685 bilhões, e espera números saudáveis para o BB mo trimestre. No entanto, nota ser importante observar o possível aumento em provisões do banco no período. O provisionamento tende a antecipar uma piora dos índices de inadimplência, com clientes à espera do programa “Desenrola”, além do ambiente macroeconômico desafiador.

Os analistas do Santander acreditam que essa conjuntura pode até mesmo fazer com que o banco revise seu guidance para provisões. “Em conversas recentes com investidores, percebemos que a maioria deles já espera por maiores provisões após contatos com o RI do banco, o que deve limitar surpresas negativas nesse sentido no balanço do segundo trimestre”, afirmam.

Ainda de acordo com a equipe de análise do Santander, há chances da receita do BB superar expectativas, mitigando o impacto de um aumento nas provisões. A expectativa é que a carteira de empréstimos do banco avance em 13,4%. “Esperamos que o agronegócio seja o principal destaque do trimestre, à medida que o banco reduz sua exposição a linhas de crédito mais arriscadas”.

Na visão do Credit Suisse, vai ser importante observar se o Banco do Brasil chegou no pouco de sua rentabilidade, considerando o impacto de juros mais baixos nos resultados da tesouraria. Os analistas projetam lucro líquido de R$ 8,629 bilhões e ROE de 20,6%. Nas projeções do Credit, a taxa de inadimplência do banco deve ir a 2,9%.

Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama, acredita que uma arrefecimento no preço das commodities agrícolas podem refletir em aumento de provisões do banco.

“Não acho que vai ser um impacto muito grande, mas é um possível um início de provisionamento tendo em vista uma leve deterioração no ambiente que vimos para o setor agrícola, ao qual o BB é muito exposto. Isso ocorre também em função do fato de que esse setor vinha muito aquecido”, afirma.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados