O que falta para o Ibovespa chegar aos 130 mil pontos?

Estrategistas do BofA destacam fraqueza de algumas ações com grande peso no índice, como de commodities, mas reforçam visão positiva para outros setores

Lara Rizério

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Ainda que com alguma volatilidade, o Ibovespa tem registrado recuperação nos últimos meses, chegando em algumas sessões na casa dos 120 mil pontos, mas não encontrando forças para ultrapassar esse patamar.

Um grande “culpado”, mas que já foi muitas vezes antes responsável por evitar uma queda mais expressiva do Ibovespa em momentos de aversão ao risco, é o setor de commodities, particularmente mineração e siderurgia. Conforme destacou a XP em estudo, sem as ações da Vale (VALE3), o índice teria fechado o primeiro semestre de 2023 a 131 mil pontos.

O benchmark da Bolsa, por sua vez, fechou o período a 118.087 pontos, enquanto as ações da mineradora caíram 26,16%, a quarta maior baixa do índice, em meio às incertezas sobre a recuperação da China e também desafios operacionais afetando o desempenho dos ativos. Ainda assim, na primeira metade do ano o benchmark da Bolsa subiu 7,61%. 

Já o Bank of America apontou em relatório que, se todo o Ibovespa excluindo commodities subir 20%, isso significa que o índice estará perto da projeção do banco para o fim do ano de 135 mil pontos (ou alta de 14% frente o fechamento do primeiro semestre), assumindo que haverá estabilidade para o setor de commodities no índice como um todo.

Assim, os estrategistas do banco americano também avaliam que um maior potencial de ganhos para o índice será muito dependente do segmento de commodities.

“Temos uma visão positiva para os nomes de petróleo, mas uma visão mais cautelosa para minério de ferro e celulose para este ano”, avalia.

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O banco aponta ter uma visão mais construtiva do que a média do mercado para o petróleo, projetando o barril do brent a US$ 80 em 2023 (ante projeção de US$ 73 do mercado em 12 meses).

Já sobre as petroleiras que fazem parte do Ibovespa, o banco cita a Petrobras (PETR3;PETR4) e aponta que um rendimento de dividendos (ou dividend yield, valor do dividendo sobre o preço da ação) de 18% para 2024 poderia representar 600 pontos a mais para o Ibovespa no período.

“Destacamos, no entanto, que uma nova política de dividendos deve ser anunciada ainda este mês. Conforme divulgado no dia do resultado do 1T23 [primeiro trimestre de 2023], em maio, o Conselho de Administração da Petrobras instruiu a diretoria a preparar uma proposta para ‘melhorar’ a atual Política de Remuneração dos Acionistas, incluindo a possibilidade de recompra de ações, e submetê-lo à deliberação do Conselho ainda em julho”, lembra o banco.

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Para o minério e celulose, o atual ciclo não favorece valorizações das ações dos segmentos. “Temos uma visão mais cautelosa sobre o minério de ferro e vemos algum lado negativo para a commodity no fim do ano”, aponta. Por outro lado, afirma, a dinâmica oferta/demanda pode melhorar no 1T24 com a estação de chuvas no Brasil e na Austrália diminuindo a produção, elevando assim os preços do minério.

O BofA aponta que, se a ação da Vale subir 14%, isso já significaria 2 mil pontos a mais para o Ibovespa. As notícias
em torno do estímulo da China são o principal gatilho para os preços do minério de ferro, avalia. O cenário é de cautela também para a celulose daqui para frente, esperando que os preços permaneçam de lado ao longo dos próximos trimestres, à medida que novas capacidades de produção substanciais entrem no mercado.

Neste ambiente, os estrategistas apontam que, no cenário de queda dos juros esperado para o Brasil (com projeções de queda da Selic a partir de agosto) projetam que a alta deva ser mais acentuada para os nomes de crescimento, beta alto (mais sensíveis às mudanças nos retornos do mercado) e proxies de títulos (empresas cujo comportamento da ação se assemelha a um título de renda fixa de longo prazo).  As estimativas de lucro por ação para 2024 são um risco importante, avaliam.

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“Essa visão suporta nossa meta de final de ano do Ibovespa para 2023 de 135 mil pontos”, avaliam os estrategistas.

Eles destacam que estão de olho em ações com valuations atrativos, mas que não sejam value traps (ou armadilhas de valor, quando uma empresa listada está aparentemente subvalorizada, mas na verdade está com a avaliação correta dado o seu potencial ou até sobrevalorizada).

“Apesar do rali dos últimos três meses, alguns segmentos/nomes têm valuations atrativos, especialmente se as taxas de juros futuras continuarem caindo. Os shoppings têm avaliações com desconto para o atual nível de taxas com pouco risco para o cenário de lucros. As utilities (empresas de energia e saneamento) são relativamente mais caras, mas são um dos setores  com visão de lucro positivo”, aponta a equipe de estratégia do banco americano.

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Indo para os setores mais voláteis, o varejo oferece amplos descontos, que na visão dos analistas podem até mesmo em alguns casos já compensar o risco de revisão dos lucros para baixo.

No setor financeiro, o BofA aponta que os valuations dos bancos não são tão sensíveis a taxa de juros, mas reforça que há espaço para uma alta dos ativos, uma vez que o setor negocia 20% abaixo da sua média histórica.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.