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As ações ordinárias das Lojas Renner (LREN3) caíram 6,50% nesta sexta-feira (30), negociadas a R$ 20. Especialistas de mercado justificaram a queda utilizando três notícias: primeiro, o anúncio de que a chinesa Shein irá passar a produzir no Rio Grande do Norte já em julho, depois, por conta da isenção de impostos em compras internacionais de até US$ 50 a partir de agosto, e, por último, uma teleconferência realizada pela companhia na véspera.
De acordo com um analista especializado no assunto, as duas primeiras notícias causam preocupações por criarem um cenário competitivo mais acirrado no mercado interno para a varejista brasileira, uma das mais expostas aos avanços das companhias chinesas.
O governo federal deixará de cobrar o imposto de importação para compras de até US$ 50 feitas por consumidores brasileiros em varejistas no exterior, via internet, em medida que valerá a partir de 1 de agosto. Como contrapartida, as empresas deverão aderir ao programa de conformidade da Receita Federal e recolher tributos estaduais.
O Itaú BBA, em relatório, foi no mesmo sentido ao comentar a mudança tributária.
“Na nossa opinião, a nova portaria estabelecendo novas regras para a tributação transfronteiriça, validas a partir do primeiro dia de agosto, são marginalmente negativas para as varejistas locais”, abrem. “As companhias de fora provavelmente aderirão ao programa de conformidade, o que permitirá às autoridades brasileiras terem uma visibilidade clara sobre as importações e aumentar a eficácia das arrecadações de impostos. A maior parte das compras transfronteiriças deve permanecer isenta de impostos de importação, mas estarão sujeitas à alíquota do ICMS de 17%”, explicam.
Segundo o banco, a mudança deve melhorar o prazo de entrega para compras internacionais, já que todo o processo de importação deve se tornar mais simples e eficiente.
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“O impacto negativo para as empresas estrangeiras nesse caso parece ser muito menor do que a alternativa de cobrar impostos de importação completos em todas as compras transfronteiriças. Continuamos a ver os players internacionais criando um ambiente competitivo mais acirrado”, falam os analistas.
Anderson Meneses, CEO da Alkin Research, também menciona que a prática é similar ao que existia anteriormente. “Beneficia bastante as varejistas internacionais como a Shein. É uma preocupação e a pressão deve continuar”, diz. “Mas, devido a ser o último dia do mês e do semestre, é possível que a queda também seja explicada por algum desmonte de posição.
A XP, contudo, pondera que o ministro da Fazenda Fernando Haddad já sinalizou que um novo imposto federal incremental virá na segunda etapa do plano, “a fim de proporcionar um maior equilíbrio competitivo entre o varejo local e o internacional” – e que as varejistas locais participarão das discussões, com reuniões já marcadas para o próximo final de semana.
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Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, e Caroline Sanchez, analista da Levante, citaram, por último, também uma teleconferência da empresa realizada na véspera, onde ficou sinalizado que o resultado do segundo trimestre pode ser impactado, com as coleções não vendendo tão bem quanto o esperado.
“Ontem conversei com eles e o que eles passaram de guidance foi que o segundo trimestre não será tão bom. Eles, basicamente, falaram que estavam com um estoque mais alto, na preparação para o inverno, mas disseram que 2023 está diferente [com a demanda não respondendo à coleção]. Deve impactar a receita consideravelmente”, fala Sanchez. “Há também a expectativa de impactos não recorrentes mais altos”.
Operadores também destacaram as notícias de que a companhia sofreu um duplo rebaixamento de recomendação pelo Bank of America (BofA), de compra para venda, com preço-alvo a R$ 16,50, com o banco também avaliando que a medida de isenção de até US$ 50 em compras nacionais prejudica a varejista por “assimetria tributária”.