Americanas (AMER3): ação fecha em alta de 6% após saltar até 19% com relatório apontando fraude: o que explica movimento?

Além da notícia, ganha destaque a informação da Bloomberg de que os acionistas de referência aceitaram ficar período de cerca de três anos sem vender ações

Lara Rizério Vitor Azevedo

Loja da Americanas (Foto: Divulgação)
Loja da Americanas (Foto: Divulgação)

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A Americanas (AMER3) voltou ao foco dos investidores nesta terça-feira (13), após divulgar que os assessores jurídicos da administração da empresa apresentaram, em reunião do conselho de administração realizada na véspera, relatório contendo achados preliminares sobre as inconsistências contábeis relatadas pela empresa em janeiro. O documento indica que houve fraude.

“Os documentos analisados indicam que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”, afirmou a empresa em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A empresa explica que o relatório apresentado pelos assessores foi baseado em documentos entregues pelo comitê de investigação independente e por documentos complementares identificados pela administração e seus assessores após as reuniões com o Comitê.

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Os documentos que deram origem ao relatório, destaca a empresa, demonstram ainda os esforços da diretoria anterior das Americanas para ocultar do conselho de administração e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia.

Curiosamente, na sessão após a divulgação, confirmando a tese de que ocorriam fraudes na companhia, as ações registram uma sessão de forte alta, chegando a subir 18,97% (R$ 1,38) na máxima do dia. Os ativos AMER3 amenizaram a alta, mas ainda fecharam com ganhos de 6,03%, a R$ 1,23.

Cabe destacar que o baixo valor de face das ações, que também faz com que uma variação de centavos leve a uma grande alteração percentual. Em junho, as ações sobem no acumulado 18,5%, em um mês de ganhos para ações de varejistas, mas caem 87% no ano, cujo início foi marcado pelo pedido de recuperação judicial da companhia.

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Para Felipe Pontes, sócio da L4 Capital, o comunicado da Americanas desta manhã tem impacto sobre a ação, mas avalia o movimento como exagerado. “Não teve muita novidade. Culparam a diretoria anterior, na esperança de sinalizar ao mercado que podem recuperar o dinheiro em processo. Mas qual é a chance de recuperar os recursos roubados? E ainda tentaram eximir da responsabilidade o Conselho de Administração, o Comitê de Auditoria, a auditoria interna e os controles internos”, avalia.

Neste sentido, o Instituto Ibero-Americano da Empresa – associação que reúne investidores e atua no mercado de capitais – apontou que o reconhecimento da fraude e a menção de “possíveis culpados” fortalece um processo arbitral de investidores minoritários.

A demanda é contra a Americanas e os sócios da 3G capital –  gestora de Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, acionistas de referência da companhia – e tramita na Câmara de Mercado da B3 desde o dia 19 de janeiro.

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Rafael Mortari, advogado do Instituto Empresa e sócio do escritório Mortari Bolico, defende que o problema não é exclusivamente a citação das pessoas no fato relevante e sim da menção da Americanas como empresa, por ter contratado esses diretores e por uma falta de mecanismos de controle e governança. “A empresa não pode se fazer de vítima, ela é corresponsável pela fraude praticada durante vários anos pelos mais altos cargos da companhia”, aponta.

3G fica na Americanas

Mas, além disso, ganhou destaque a notícia da véspera da Bloomberg de que os acionistas bilionários da Americanas aceitaram ficar um período de cerca de três anos sem vender ações da empresa como parte de um plano de reestruturação, citando fontes a par do assunto. O exato período de lock-up de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira ainda não está definido, e os bancos credores sugerem que ele seja ao menos até 2027, disseram as pessoas.

De acordo com o plano, Lemann, Telles e Sicupira injetariam na empresa R$ 10 bilhões imediatamente e considerariam R$ 2 bilhões adicionais em duas parcelas, uma em 2026 e outra em 2027, dependendo de métricas de alavancagem ou liquidez.

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Os bancos credores também acabariam detendo ações, já que estão dispostos a aderir a um pacote de R$ 10 bilhões que inclui uma conversão de dívida em ações, disseram as pessoas. Os bancos também teriam um período de lock-up de
pelo menos parte de sua participação na Americanas, segundo as fontes. De acordo com a agência, um acordo final sobre o plano de reestruturação deve ocorrer em algumas semanas.

Em esclarecimento, a companhia informou que vem mantendo conversas com seus credores, como já é de conhecimento do mercado.

“Nestas conversas, como parte de uma negociação mais ampla, um grupo de credores solicitou a inclusão de um período de lock-up para venda de ações pelos acionistas de referência. A abrangência desse lock-up ainda está em discussão no âmbito do acordo mais amplo”, apontou a Americanas. Para Pontes, da L4 Capital,  aporte traz segurança se confirmado, mas é difícil saber se é suficiente para a companhia.

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A varejista, em recuperação judicial, disse ainda não haver consenso com seus credores financeiros em relação à última
proposta apresentada e que a companhia segue empenhada em manter negociações construtivas com seus credores em busca de uma solução que permita a continuidade de suas atividades. “Assim que um acordo esteja inteiramente negociado com os credores, a companhia divulgará ao mercado todo seu conteúdo”, apontou.

Cabe destacar que o presidente-executivo da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, é ouvido nesta tarde na CPI sobre a varejista, em sessão desta tarde.

Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, destaca que as notícias acabam sendo precificadas como uma possível “virada de página” para a companhia em breve, sendo que o fato relevante sobre a fraude mostra que os responsáveis pela crise estão, mesmo que lentamente, sendo encontrados e identificados.

Lucas Lima, analista da VG Research, vai no mesmo sentido, destacando que as movimentações “dão nomes aos bois”, apesar de ver como difícil o ressarcimento sair do papel.

“As ações reagiram positivamente hoje conforme já dito, provavelmente com o mercado precificando uma possível ‘virada de página’ para a companhia em breve, dado que o fato relevante mostra que os responsáveis pela crise estão, mesmo que lentamente, sendo encontrados e identificados”, diz Carolina Sanches, analista da Levante. “Seguimos aguardando a divulgação dos resultados da companhia no primeiro trimestre, que estão atrasados e reforçamos ainda que  continua em revisão, devido à falta de visibilidade a respeito dos reais impactos financeiros referentes ao rombo contábil da companhia”, pondera.

Em nota, a XP apontou manter a cobertura da ação sob revisão, pela falta de visibilidade quanto aos impactos financeiros relacionados às inconsistências contábeis da companhia.

(com Estadão Conteúdo e Bloomberg)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.