Petrobras (PETR4): JPMorgan eleva recomendação de ações para compra e vê três pilares da estatal “no lugar”

Após Morgan Stanley, agora foi a vez do JPMorgan revisar recomendação para a estatal petroleira para uma visão mais positiva

Lara Rizério

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O otimismo com a Petrobras (PETR3;PETR4) tem aumentado. Após o Morgan Stanley ter elevado na semana passada a recomendação para os ADRs (American Depositary Receipts, os recibos de ações da companhia negociados na Bolsa de Nova York), desta vez o JPMorgan elevou a recomendação para os ativos para equivalente à compra.

A recomendação passou de neutra para overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para as ações PETR3, PETR4 e para os ADRs PBR (equivalentes aos ordinários) e PBR/A (equivalentes aos preferenciais). O preço-alvo para PETR3 passou de R$ 30,50 para R$ 41, ou potencial de valorização de 21,50% em relação ao fechamento de sexta-feira (9), mesma elevação para PETR4, configurando um potencial de valorização de 35,40% na mesma comparação.  Já os preços-alvo dos ADRs PBR e PBR-A foram elevados de US$ 11,50 para US$ 15,50, configurando um potencial de valorização respectivo de 12,65% e 24,60% frente o fechamento de sexta. Cabe ressaltar que o JP havia rebaixado as ações da companhia no fim de outubro de 2022, na sequência do segundo turno das eleições presidenciais.

Assim como o Morgan, a visão mais positiva com relação à política de dividendos tendo em vista as últimas mudanças anunciadas melhores do que o esperado guiaram a mudança de recomendação dos analistas do JPMorgan.

“Acreditamos que, enquanto a nova administração mudará de estratégia em relação à gestão anterior, essas mudanças não são tão materiais, o que significa que a Petrobras permanece como uma ação subvalorizada com geração de FCF [fluxo de caixa livre] substancial”, afirmam Rodolfo Angele, Milene Carvalho e Henrique Cunha, analistas que assinam o relatório chamado: “Petrobras elevada para overweight: percepção de risco reduzida e dividendos alinhados aos pares globais”.

Os analistas apontaram terem passado a última semana ouvindo investidores e as principais conclusões foram de que: (a) o capex (investimento) aumentará em iniciativas de baixo carbono, mas o foco principal permanece no upstream (atividades de exploração e produção de óleo e gás); (b) os dividendos podem eventualmente ser menores, mas devem permanecer sendo pagos trimestralmente e em linha com as principais petrolíferas, também com a adição de programas de recompras; (c) a política de preços dos combustíveis, com uma nova diretriz anunciada em maio, será seguida em uma faixa estreita que, na visão dos analistas, não será tão distante da paridade de preços anterior.

“Dada a substancial geração de fluxo de caixa livre da empresa, acreditamos que a relação risco-retorno é favorável, e como tal, atualizamos nossa recomendação de volta para overweight“, aponta a equipe de análise.

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De acordo com os analistas, o principal risco para a tese continua a ser um aumento acentuado dos preços do petróleo. Nesse caso, a administração expressou a intenção de continuar a seguir a política existente, que exigiria reajustes nos preços.

“Este tem sido o motivo de estresse em todas as formas de governo no passado. Mas a mensagem principal para nós é que os três pilares principais – precificação, disciplina de capital e dividendos – mudaram um pouco, mas seu núcleo permanece no lugar, assim como a governança. E isso garante nosso upgrade para ações da Petrobras”, avaliam.

O banco destaca que a estatal negocia a um múltiplo de EV/Ebitda (Enterprise Value = a soma do valor de mercado das ações de uma companhia com a dívida líquida; Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 2,5 vezes o esperado para 2023 com um FCF yield ( rentabilidade de fluxo de caixa, calculada pela divisão do fluxo de caixa entre o número de ações, e este resultado entre o preço de negociação das ações) de 27%. Isso se compara aos pares globais em 4,8 vezes o EV/Ebitda e FCF yields em 14%.

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Confira abaixo os três pilares destacados pelo Credit que, por mais que mudem, devem seguir com seus pontos principais mantidos:

• Pilar um, política de preços: não muito longe do que tem sido feito. A nova política de preços anunciada pela nova equipe de gestão não representa uma grande mudança frente a política anterior.

O limite superior da banda de preços está perto da paridade, enquanto o limite inferior é uma importante garantia de que a Petrobras não vai voltar aos tempos em que vendia combustível no Brasil a preços que eram substancialmente abaixo da paridade de importação, o que gerou grandes perdas para seus negócios downstream (refino e comercialização).

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“Uma possível diferença é uma vontade mais explícita de evitar a volatilidade de curto prazo nos preços, mas não a ponto de colocar os preços fora da banda existente”, apontam os analistas.

Pilar dois, disciplina de capital: haverá mais capex em baixo carbono, mas foco em upstream.

“A direção da Petrobras tem um grande problema em suas mãos. Os retornos em seus mega campos de pré-sal (como Búzios) é tão alto, que qualquer alternativa de investimento parece abaixo do ideal. A administração está ciente disso e não
mudará o foco de seu valor profundo criando negócios no upstream. No entanto, a gestão adicionará investimentos de baixo carbono à equação. A meta é gastar até 15% do capex em projetos de baixo carbono (dos atuais 6%), assumindo que eles irão gerar os retornos exigidos conforme definido pela governança da empresa”, apontam os analistas do banco.

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Se a Petrobras encontrar projetos que se enquadrem nesses requisitos, o capex de US$ 78 bilhões nos próximos cinco anos saltaria para US$ 86 bilhões. Isso corresponde a um acréscimo de US$ 2 bilhões/ano, o que não é tão material para a empresa. Além disso, a gestão pretende investir nessas novas áreas com parceiros para compartilhar expertise, limitar capex
e ter menor risco, avaliam os analistas.

• Pilar três, retorno dos acionistas: a nova política a ser anunciada em breve. A gestão está trabalhando em ajustes em sua política de dividendos, conforme solicitado por seu Conselho. A visão é da Petrobras pagando dividendos trimestralmente e aproximadamente em linha com o que as grandes empresas estão pagando, que varia de 30 a 40% do FCO (fluxo de caixa das atividades operacionais), incluindo um mix de dividendos e recompras.

Além disso, a empresa vem enfrentando desafios com a cadeia de valor para alocar capital. Em outras palavras, afirma o JPMorgan, não tem sido fácil executar os planos de capex, enquanto a administração explicitamente mencionou aos investidores que não ficará com dinheiro em seu balanço, enquanto os dividendos extraordinários  continuarão a ser um aspecto fundamental da política de dividendos.

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Os analistas também citam outros temas relevantes e recorrentes: (a) negociações sobre controle da Braskem (BRKM5): a administração vê a petroquímica como de interesse, com um olhar estratégico para a companhia; b) Vibra (VBBR3): a única preocupação/desconforto vem do uso da marca Petrobras, mas respeitará as regras do jogo; (c) Foco em exploração de produção (E&P): 18 novos FPSOs (plataformas) chegando nos próximos 5 anos e isso não vai mudar; (d) novas fronteiras: E&P na fronteira equatorial (Suriname, Guiana); (e) governança: parte fundamental do DNA da Petrobras hoje, há muita fiscalização, responsabilidades compartilhadas e isso não mudará; (f) refino: a Petrobras não investirá em novas refinarias. Aumentará/otimizará a utilização e a produção. Se necessário, usará ferramentas de
refinarias no exterior. O capex no downstream deve ser de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões anualmente; (g) Venda de ativos: não deixará de ser parte fundamental da estratégia da empresa, mas respeitará o que já foi firmado e vendido.

Entre as principais mudanças do modelo do JPMorgan, estão as taxas de desconto menores (menor percepção de risco) e as alterações em suas premissas de pagamento de dividendos.

“Em outubro de 2022, rebaixamos a Petrobras para neutro e assumiu uma postura mais conservadora sobre a ação. Afinal, a
narrativa política foi de riscos (como mudanças na política de preços) e os investidores ainda tinham lembranças de como a Petrobras era administrada em governos anteriores. Nós agora nos sentimos confortáveis para dizer aos investidores que a estratégia da Petrobras provavelmente mudará em relação ao que era nos últimos 4-5 anos, mas não será uma mudança de 180 graus”, afirmam os analistas.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.