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As mudanças anunciadas na terça-feira (16) pela Petrobras (PETR3;PETR4) em sua política de preços foram acompanhadas por uma série de reuniões nos escritórios da Faria Lima para tentar entender os pormenores e possíveis trocas de posição.
Apesar dos temores de alguns investidores, na avaliação do CIO da Suno Asset, Vitor Duarte, eventuais políticas de preços “desequilibradas” e “equivocadas” na Petrobras tendem a não durar muito tempo, após experiências negativas em governos passados, como o da ex-presidente Dilma Rousseff.
Naquela época, a variação dos preços internacionais dos combustíveis era repassada de forma defasada aos valores praticados no País, em uma tentativa de segurar o aumento da inflação – o que acabou provocando prejuízos à Petrobras.
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“A reação popular já impediu posturas ruins no passado. Essas coisas têm limite”, avalia o executivo. Hoje, os papéis da Petrobras estão entre as três maiores posições do fundo Suno FIC FIA, da Suno Asset, juntamente com alocações em Banco do Brasil (BBAS3) e Braskem (BRKM5).
De olho na margem de segurança que a Petrobras possui, o CIO afirmou que vai manter as alocações compradas (que se beneficiam da alta) no papel. Ele defende que há um espaço devido ao grande fluxo de caixa livre apresentado pela companhia, que bateu os R$ 41,2 bilhões no primeiro trimestre deste ano, e à sua eficiência operacional.
No fato relevante apresentado ontem ao mercado, a petroleira informou que a nova política terá como premissa preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacional e internacional.
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A estratégia irá priorizar o chamado “custo alternativo do cliente”, que vai contemplar as principais alternativas de suprimento, além de um valor marginal para a Petrobras. A empresa acrescentou ainda que os reajustes de preços da gasolina e diesel continuarão sendo feitos sem periodicidade definida e evitando repasses da volatilidade.
Com um caixa ainda robusto, as ações da Petrobras ainda conseguem aguentar certo ruído no preço que estão, segundo o executivo da Suno, porque o valor reflete um cenário bem pior do que o efetivado pela empresa. Os papéis preferenciais terminaram o pregão de ontem cotados a R$ 26,30, enquanto os ordinários fecharam a sessão a R$ 29,20.
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Nos cálculos da Suno Asset, o custo médio da Petrobras para retirar petróleo é de US$ 5,8 por barril. Levando em conta que o barril era negociado a cerca de US$ 76 nesta manhã, no caso do Brent, a casa defende que a empresa conseguiria manter um resultado grande, mesmo se vendesse a commodity com descontos de 10% a 15%.
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Outro gestor com posição nas ações da Petrobras disse que também vai manter a alocação comprada nos papéis. Para ele, que falou com o InfoMoney na condição de anonimato, embora a petroleira não tenha detalhado a política de preços, foi possível ver indicações de que a empresa seguirá fazendo reajustes.
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Na visão do executivo, mais do que nunca, é importante para o governo manter a empresa lucrativa em um momento em que o Ministério da Fazenda busca “desesperadamente” aumentar a arrecadação para não piorar a situação das contas públicas do País.
“As pessoas estão com uma expectativa de que o cenário será igual ao da Venezuela, uma tragédia nuclear”, disse. “Estamos tendo uma indicação de que não será isso. Vamos continuar mantendo a política de reajustes, de referência de paridade internacional e de retorno ao acionista”, avaliou o especialista, que vai esperar mais detalhes para decidir se seguirá com a posição.
Na sua visão, a mudança representa mais uma tentativa de responder à base eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que uma forma de virar a empresa de “ponta cabeça”.
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“É perigoso dar um ‘mortal’ agora, porque pode faltar combustível no mercado se os preços estiverem desconectados da realidade. Isso pode quebrar importadoras e distribuidoras”, lembra o profissional.
Para o executivo, a empresa foi muito otimizada nos últimos anos e está com uma “forma física muito boa”, mesmo com os ruídos do governo. “Não temos nem amor nem ódio pela companhia. O fato é que ela está muito barata”, disse.
Em entrevista à CNN na véspera, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, informou que a nova política de preços não vai se afastar dos preços internacionais. O objetivo, disse, será dar maior flexibilidade para administrar as altas e baixas da gasolina e do diesel, reduzindo a volatilidade no mercado interno.
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“Quando subir [o preço do petróleo], o nosso preço vai subir, mas não com a volatilidade que ocorreu em 2021 e 2022”, disse o executivo, referindo-se ao governo Jair Bolsonaro, que manteve a política de paridade de preços de importação (PPI), implantada em 2016, durante o governo de Michel Temer.
Prates afirmou ainda que as novas diretrizes são “iguais às de qualquer empresa de petróleo” e que a ideia da companhia é adotar a nova política “aos pouquinhos”. Segundo ele, o novo modelo vai até o máximo do custo alternativo do cliente e até o mínimo para a empresa.
Mais tarde, pelas redes sociais, Prates defendeu ainda que a Petrobras vai preservar o “ambiente competitivo nos termos da legislação vigente”.
Cenário macro ajuda, mas mudança pode complicar situação
Após a confirmação do anúncio pela Petrobras, um dos temas que preocuparam os investidores foram eventuais mudanças no cenário macroeconômico. Para os analistas do Bradesco BBI, se o câmbio, os preços do petróleo e os crack spreads (diferencial entre o preço do petróleo bruto e os produtos petrolíferos extraídos dele) permanecerem como estão, a expectativa é de poucas alterações.
“Se as variáveis macro estiverem estressadas para cima, acreditamos que a Petrobras não repassará a volatilidade para o mercado doméstico, deixando o caixa na mesa”, destacaram os especialistas em relatório.
Apesar disso, eles pontuaram que a nova estratégia não parece sugerir corte de preços de forma brusca e abrupta. “Os preços no Brasil podem cair ligeiramente abaixo da paridade do Golfo dos EUA? Sim. Isso seria desastroso para a empresa? Não. Ao mesmo tempo, se por algum motivo (digamos, outra guerra) os preços do petróleo explodirem, acreditamos que sobrará dinheiro na mesa. Isso será desastroso para a empresa? Não. A Petrobras é exportadora líquida de petróleo”, avaliaram os especialistas.