CFO da MRV explica como mudança na correção monetária do FGTS pode impactar a companhia

Ao InfoMoney, Ricardo Paixão falou sobre frear crescimento e focar em rentabilidade; "casos Americanas e Light deixaram mercado de crédito pior", diz

Anderson Figo

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Dependendo de como for votada, a revisão da política de correção monetária do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que está no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2014, pode afetar mais ou menos as operações da MRV (MRVE3). Ao InfoMoney, Ricardo Paixão, CFO do grupo, explicou as alternativas que o governo tem para fazer a mudança e como isso pode impactar a companhia.

“A primeira preocupação é de não impactar nada para trás. Não se mexe no passado, não se cria um passivo gigantesco para o fundo, tudo o que está se falando [em torno da revisão] é daqui para frente. Até agora foram dois votos só, mas eu acho que é a linha que vai acabar sendo seguida daqui para frente. Se isso acontecer, a gente vai continuar com a mesma mecânica de correção, hoje em 3% + TR + uma distribuição do lucro do fundo, essa mecânica não muda, o que acontece é que isso tem que ser, no mínimo [a remuneração da] caderneta de poupança, que é 6,17% + TR para Selic acima de 8,5% ao ano e, com a Selic abaixo de 8,5% ao ano, vira 70% disso”, disse o CFO.

“Fazendo dessa forma, o fundo continua parando de pé. E, em alguns anos, com a Selic mais baixa, a gente teria um desencaixe de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões por ano dentro do fundo. O governo teria várias formas de contornar isso. Uma delas, que é menos popular, é diminuir um pouco as faixas onde a taxa de financiamento é mais baixa e aumentar nas bandas onde a taxa é mais alta. Mas é uma medida muito impopular. Acho que dificilmente o governo vai seguir nessa linha.”

“Outra medida que ele pode fazer é ele mesmo complementar o subsídio. (…) Uma última alternativa é ter uma distribuição de lucro do fundo acima de 100%, de forma a diminuir o patrimônio líquido do fundo com o passar do tempo. (…) Tem pessoas que vão votar que eu acho que devem ser contra isso, porque eles observam que o benefício que a pessoa mais pobre tem de acessar um financiamento mais barato é melhor do que ganhar R$ 80 a mais de remuneração do FGTS”, completou o executivo.

Ele participou do Por Dentro dos Resultados, projeto no qual o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior. Os executivos falam sobre o balanço do primeiro trimestre de 2023 e sobre perspectivas. Para acompanhar todas as entrevistas da série, se inscreva no canal do InfoMoney no YouTube.

Paixão afirmou que a companhia deve pisar no freio do crescimento nos próximos anos para priorizar a retomada da geração de caixa e rentabilidade. “A gente está com um nível de endividamento maior do que a gente gosta, em torno de 65% nível Brasil de dívida líquida sobre patrimônio líquido. A gente gosta de ficar, no máximo, em 10%. Somos uma empresa bem conservadora. Essa parte de segurar o crescimento para frente, segurando o tamanho da operação, o objetivo principal dela é voltar a ter rentabilidade e voltar a gerar caixa. Essas são as nossas prioridades 1, 2 e 3 aqui, para os próximos três anos”, disse o executivo.

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O CFO afirmou que o grupo está em fase final em algumas operações de captação de recursos para os projetos deste ano, “que o mercado deve ficar sabendo em pouco tempo”, entre elas um CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) para pessoas físicas. “O mercado de crédito como um todo no Brasil, depois dos eventos Americanas e Light, ele ficou bem mais complicado”, afirmou o diretor financeiro.

Paixão falou também sobre a manutenção da estratégia da MRV de ter mais exposição aos programas habitacionais do governo, sobre as políticas ESG (meio ambiente, social e governança) do grupo, sobre a perspectiva de crescimento dos negócios do grupo, incluindo a Resia, sua operação nos Estados Unidos, que hoje já corresponde por mais de 15% da receita consolidada da MRV e sobre o espaço que ainda existe para reajuste de preços em unidades a serem vendidas, o que pode ajudar a dar um impulso à margem da companhia nos próximos trimestres. Veja a entrevista completa no player acima, ou clique aqui.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.